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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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dos fragmentos a partir da qual o indivíduo e a coletivida<strong>de</strong> se reinventam? Precária,<br />

incompleta e frágil - como a mortalha <strong>de</strong> Laertes.<br />

Os gregos representam a memória como Mnemosine, que na Teogonia <strong>de</strong> Hesíodo é<br />

a musa capaz <strong>de</strong> revelar tudo o que fo i, é e será. Mnemosine presenteia os poetas não só<br />

com o dom da vidência do pretérito (enquanto os adivinhos voltam-se para o futuro, o poeta<br />

vira-se para o passado). Todavia, Mnemosine confere ao poeta o dom da lembrança, mas<br />

também o do esquecimento:<br />

Se um homem traz o luto em seu coração inexperiente à dor, e<br />

sua alma <strong>de</strong>finha no <strong>de</strong>sgosto, logo que um cantor, servo das<br />

Musas, celebra os altos feitos dos homens <strong>de</strong> outrora ou os<br />

<strong>de</strong>uses felizes, habitantes do Olimpo, rapidamente ele esquece<br />

suas tristezas e seus <strong>de</strong>sgostos não se lembra mais. O<br />

presente das <strong>de</strong>usas <strong>de</strong>sviam-no disto. (HESÍODO, 1996, p.<br />

8).<br />

A memória, incorporada classicamente na figura <strong>de</strong> Mnemosine, como a teia <strong>de</strong><br />

Penélope, escreve e rasura; conserva e <strong>de</strong>strói, reelaborando o passado, ressignificando o<br />

presente e abrindo brechas para o futuro. E se o fator surpresa é o que prepon<strong>de</strong>ra no porvir,<br />

existe na tessitura da memória espaço para a fantasia e a ficção.<br />

O mito <strong>de</strong> Mnemosine nos permite tecer algumas reflexões a respeito da memória.<br />

Irmã <strong>de</strong> Chronos, o tempo e Oceano, mãe das nove musas, a sua ausência impossibilitaria a<br />

fruição das artes: os sons e as palavras não se fixariam. A personificação da memória como<br />

uma <strong>de</strong>usa responsável pela poesia traça <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antigüida<strong>de</strong> a sua união à fabulação e ao<br />

conhecimento:<br />

Os gregos da época arcaica fizeram da memória uma <strong>de</strong>usa,<br />

Mnemosine (...)Lembra aos homens a recordação dos heróis<br />

e <strong>de</strong> seus altos feitos, presi<strong>de</strong> à poesia lírica. O poeta é pois<br />

um homem possuído pela memória, o aedo é um adivinho do<br />

passado, como o adivinho o é do futuro. É a testemunha

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