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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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<strong>de</strong>cifrar nas linhas confusas do hieróglifo o sentido ignoto,<br />

não exige <strong>de</strong>certo mais contenção do espírito, nem tão<br />

po<strong>de</strong>rosa reminiscência. (ALENCAR, 1966, p. 1040).<br />

Comparado ao antiquário, o sertanejo é dotado <strong>de</strong> uma sabedoria alternativa,<br />

invisível aos civilizados, para quem a selva “é uma continuação das árvores”:<br />

Lá se <strong>de</strong>staca apenas um tronco secular, ou outro objeto<br />

menos comum, como um rio e um penhasco, que excita- lhe<br />

(sic) a tensão e quebra a monotonia da cena.<br />

(ALENCAR, 1966, p. 1062).<br />

Ao olhar civilizado que modula o quadro da natureza como monótono e pitoresco -<br />

o que po<strong>de</strong>mos remeter aos quadros dos viajantes no tempo da colônia (e até<br />

contemporâneos a Alencar), opõe-se o universo selvagem em sua majesta<strong>de</strong>, enigma<br />

<strong>de</strong>cifrado apenas pelo sertanejo:<br />

Para o sertanejo, a floresta é um mundo, e cada árvore um<br />

amigo ou um conhecido a quem saú<strong>de</strong>, passando. A seu olhar<br />

perspicaz as clareiras, as brenhas, as coroas <strong>de</strong> mato,<br />

distinguem-se melhor do que as praças e ruas com seus<br />

letreiros e números (...).<br />

Lia nesse diário aberto da natureza a crônica da floresta.<br />

Uma folha, um rastro, um galho partido, um <strong>de</strong>svio da<br />

ramagem, eram a seus olhos vaqueanos os capítulos <strong>de</strong> uma<br />

história ou as efeméri<strong>de</strong>s do <strong>de</strong>serto.<br />

(ALENCAR, 1966, p. 1062).<br />

Os olhos perspicazes e “vaqueanos” <strong>de</strong> Arnaldo pintam na narrativa a imagem<br />

civilizada do sertão construída na analogia entre o saber histórico e o saber “selvagem” do<br />

sertanejo, bem como entre os espaços selvagem e urbano, na leitura comparativa da floresta<br />

como cida<strong>de</strong>. De forma alegórica, as ruínas da selva revelam-se como saber ao olhar do ser<br />

engolfado na paisagem.<br />

O olhar <strong>de</strong> artista do narrador alencarino para a natureza a transforma em paisagem,<br />

ruminada em um espaço passível <strong>de</strong> ser concebido pelo sujeito solitário e auto-reflexivo.

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