15.04.2013 Views

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

1 166<br />

Na contramão do olhar português, que batizou o espaço bárbaro com nomes<br />

reprodutores – como Nova Lisboa, aludido por Alencar nas notas – e assim, instaurando o<br />

domínio, a narrativa alencarina nomeia a natureza no sertão, cruzando paisagem e memória<br />

na trama fictícia.<br />

Em As minas <strong>de</strong> prata, o sertão é o espaço da barbárie, do indômito, da morte e<br />

cobiça, mas também da riqueza oculta e fora <strong>de</strong> alcance, como as minas <strong>de</strong> prata e a glória<br />

do indígena, extinta na morte <strong>de</strong> Abaré e improvável em Olho, Ouvido e Faro, pois são<br />

pura natureza em suas funções-fetiche 63 . O <strong>de</strong>serto é majestoso e sublime, mas selvagem;<br />

um espaço limítrofe no qual o colo nizado vira dominus, como João Fogaça e Arnaldo, em<br />

O Sertanejo.<br />

A tensão entre a autonomia do colonizado e a sua submissão à estrutura hierárquica<br />

atinge o ápice na narrativa no momento da recusa <strong>de</strong> Arnaldo em obe<strong>de</strong>cer às or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong><br />

Campelo <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar Jó, falsamente acusado <strong>de</strong> atear fogo à mata que circundava a sua<br />

herda<strong>de</strong>:<br />

-Minha vida lhe pertence, sr. Capitão-mor, já lho disse 64 . Se<br />

lhe apraz, po<strong>de</strong> tirar-ma neste momento, que não levantarei a<br />

mão para <strong>de</strong>fendê-la, nem a voz para queixar-me. Essa<br />

or<strong>de</strong>m, porém, que vossa senhoria quer dar -me, se meu pai<br />

ressuscitasse para mandar-me cumpri-la, eu lhe diria:<br />

“não!”(...) (ALENCAR, 1966, p. 1086)<br />

Entretanto, a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa tensão é dissolvida pelos laços <strong>de</strong> afeto entre os<br />

dois e Flor, filha <strong>de</strong> Campelo e amor platônico <strong>de</strong> Arnaldo, em um primeiro momento;<br />

posteriormente, a resolução <strong>de</strong>ssa tensão é abafada pelo narrador, que abandona o conflito e<br />

estabelece o forward na narrativa para o momento da reconciliação.<br />

63 Conferir Figueiredo (1997).<br />

64 Verificar no capítulo anterior a <strong>de</strong>claração aqui referida por Arnaldo, que <strong>de</strong>sta maneira indicia o impasse<br />

perante as tensões indicadas na narrativa, não resolvidas, mas silenciadas.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!