Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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Na contramão do olhar português, que batizou o espaço bárbaro com nomes<br />
reprodutores – como Nova Lisboa, aludido por Alencar nas notas – e assim, instaurando o<br />
domínio, a narrativa alencarina nomeia a natureza no sertão, cruzando paisagem e memória<br />
na trama fictícia.<br />
Em As minas <strong>de</strong> prata, o sertão é o espaço da barbárie, do indômito, da morte e<br />
cobiça, mas também da riqueza oculta e fora <strong>de</strong> alcance, como as minas <strong>de</strong> prata e a glória<br />
do indígena, extinta na morte <strong>de</strong> Abaré e improvável em Olho, Ouvido e Faro, pois são<br />
pura natureza em suas funções-fetiche 63 . O <strong>de</strong>serto é majestoso e sublime, mas selvagem;<br />
um espaço limítrofe no qual o colo nizado vira dominus, como João Fogaça e Arnaldo, em<br />
O Sertanejo.<br />
A tensão entre a autonomia do colonizado e a sua submissão à estrutura hierárquica<br />
atinge o ápice na narrativa no momento da recusa <strong>de</strong> Arnaldo em obe<strong>de</strong>cer às or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong><br />
Campelo <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar Jó, falsamente acusado <strong>de</strong> atear fogo à mata que circundava a sua<br />
herda<strong>de</strong>:<br />
-Minha vida lhe pertence, sr. Capitão-mor, já lho disse 64 . Se<br />
lhe apraz, po<strong>de</strong> tirar-ma neste momento, que não levantarei a<br />
mão para <strong>de</strong>fendê-la, nem a voz para queixar-me. Essa<br />
or<strong>de</strong>m, porém, que vossa senhoria quer dar -me, se meu pai<br />
ressuscitasse para mandar-me cumpri-la, eu lhe diria:<br />
“não!”(...) (ALENCAR, 1966, p. 1086)<br />
Entretanto, a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa tensão é dissolvida pelos laços <strong>de</strong> afeto entre os<br />
dois e Flor, filha <strong>de</strong> Campelo e amor platônico <strong>de</strong> Arnaldo, em um primeiro momento;<br />
posteriormente, a resolução <strong>de</strong>ssa tensão é abafada pelo narrador, que abandona o conflito e<br />
estabelece o forward na narrativa para o momento da reconciliação.<br />
63 Conferir Figueiredo (1997).<br />
64 Verificar no capítulo anterior a <strong>de</strong>claração aqui referida por Arnaldo, que <strong>de</strong>sta maneira indicia o impasse<br />
perante as tensões indicadas na narrativa, não resolvidas, mas silenciadas.