Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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A criação <strong>de</strong> uma paisagem outra, na alternativa permitida pela distância<br />
“espacitempo”, inventa e é reinventada pelo olhar que marginaliza as gravuras e<br />
documentos - prontos, cristalizados; a reivindicação <strong>de</strong> um discurso outro, em uma relação<br />
<strong>de</strong> mão dupla com a paisagem, construindo e sendo construído, presentifica-se na poética<br />
<strong>de</strong> Alencar, a propor um novo sentido para a visão mar-terra, invertendo o brado do “Terra<br />
à vista” e fissurando a mirada do colonizador já anunciada no texto seminal <strong>de</strong> Caminha.<br />
O olhar <strong>de</strong>senha paisagens, fronteiras e limites, dotando-os <strong>de</strong> sentido. Ao ater-se ao<br />
litoral, o olhar português potencializa o espaço do sertão como terra maldita, enigmática e<br />
perigosa e volta-se para o mar, dando as costas para a terra: mirada do viajante, do<br />
explorador do mar e do além-mar.<br />
A fissura do olhar português instaura-se na narrativa alencarina, <strong>de</strong>slocando a<br />
mirada para o sentido terra-mar. À “contrapelo”, a terra é a referência para a visão do mar e<br />
situa a ótica do colono e do colonizado.<br />
Na inversão do discurso português, o espaço do sertão emerge nos romances <strong>de</strong><br />
Alencar <strong>de</strong>snudando – para usarmos uma metáfora cara a ele, o oculto, e não somente<br />
apropriando-se do que está à vista. Ao revelar e inventar outras paisagens, o texto<br />
alencarino inaugura um outro “<strong>de</strong>scobrimento”, fundador <strong>de</strong> novas origens – como<br />
apontamos na primeira parte do trabalho, no capítulo dois, em relação a Ubirajara. É assim<br />
tecido o discurso do “mar à vista”.<br />
A casa do colono brasileiro é representada <strong>de</strong> frente para o mar, em Guerra dos<br />
Mascates, sinal para os que navegam, com suas cores berrantes e confusas a metaforizar a<br />
pergunta "quem somos nós?":<br />
Larga e baixa, a casa terreira acaçapava-se entre o arvoredo<br />
do quintal que a beirava <strong>de</strong> um e outro lado; mas dava logo<br />
nas vistas pela especialida<strong>de</strong> da pintura extravagante com