Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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para o presente. O eu que passeia na narrativa <strong>de</strong> Macedo, ao contrário do eu<br />
rousseauniano, em permanente conflito entre o je e o moi, arvora-se como o segundo, em<br />
seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> homogeneização: homogeneizar o povo brasileiro, povo do qual faz parte –<br />
não há conflito entre o eu interior e o eu exterior, pois o primeiro é abafado, já que o que<br />
importa aqui é sublinhar o contrato estabelecido entre cidadãos e nação. A escritura<br />
constrói, nos rastros <strong>de</strong>sse passeio, a celebração do pacto do estado-nação, silenciando suas<br />
fraturas e expondo as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação do que se quer como o nacional. Logo,<br />
o passeio pela mui amada e leal cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião do Rio <strong>de</strong> Janeiro é muito menos<br />
um passeio local e muito mais uma comemoração do nacional: a cida<strong>de</strong> veste-se <strong>de</strong><br />
emblema para o Brasil, revelando-se como palco aon<strong>de</strong> ainda imperam a fé, a lei e o rei.<br />
O narrador do passeio parte em um <strong>de</strong>vaneio artificial, porque não subjetivo. Não há o<br />
encontro com o eu, a evasão, a libertação da imaginação, como em Alencar. O que constrói<br />
como <strong>de</strong>vaneios são na verda<strong>de</strong> informações partilhadas com o público leitor sobre o<br />
passado colonial, que são tecidas em uma mescla <strong>de</strong> documentos históricos, lendas urbanas,<br />
cantigas populares e ficções construídas pelo autor. Estas informações organizam-se em<br />
torno <strong>de</strong> simulações <strong>de</strong> passeios físicos, via linguagem ficcional, aos lugares recortados<br />
pelo autor.<br />
O narrador construído por Macedo é híbrido, <strong>de</strong>slocando-se <strong>de</strong> personagem a<br />
observador; da mesma forma a fronteira entre narrador e eu-biográfico mostra-se lábil.<br />
Narrador híbrido, a narrativa também faz-se mélange: crônica, conto, historiografia. A<br />
dimensão <strong>de</strong>ste hibridismo aumenta ao pensarmos o seu contexto como um momento em<br />
que o jornal substitui a narração tradicional pela informação, geralmente superficial, como<br />
se quer a novida<strong>de</strong> contida no embrulho festeiro com o qual Macedo traveste os ecos da<br />
história pátria, <strong>de</strong> forma a não enfadar o leitor.