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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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1 152<br />

Talvez alguém haja que me lance em rosto o haver misturado<br />

com a narração <strong>de</strong> fatos autenticados na nossa memória<br />

históricas duas tradições populares, que, aliás, se reduzem a<br />

uma única, e que, evi<strong>de</strong>ntemente, pecam por inverossímeis e<br />

falta <strong>de</strong> fundamento.<br />

Mas, tradições como estas abundam nos<br />

arquivos da imaginação e da credulida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os povos, e<br />

encontram-se em todas as nações.<br />

Que mal faz perpetuá-las? São as poesias do<br />

povo, os velhos amam-nas, os meninos as apren<strong>de</strong>m <strong>de</strong> cor,<br />

os poetas as escutam, cobiçosos, a terra da pátria se enfeita<br />

com elas.<br />

Terei ainda <strong>de</strong> referir mais algumas, e <strong>de</strong>stas,<br />

a maior parte colherei muito conscienciosamente nas páginas<br />

dos anais mais sérios e áridos que possuímos.<br />

Quem não gostar <strong>de</strong> um passeio assim dado,<br />

não passeie comigo.<br />

E não zombem do povo, não. Não se riam da<br />

inocente credulida<strong>de</strong> do povo.<br />

Há credulida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sábios doutores que não<br />

ficam aquém da credulida<strong>de</strong> do povo.(MACEDO, 1991, p.<br />

43).<br />

Seus olhos lêem as cicatrizes do Rio <strong>de</strong> Janeiro, cida<strong>de</strong> capital em todos os sentidos,<br />

corte, palco <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s acontecimentos importantes para a memória da nação, espinha<br />

dorsal a unir as vastas regiões do Império: para lá tudo converge. E não só a oralida<strong>de</strong> é<br />

neste “passeio” legitimada como fonte <strong>de</strong> acesso ao passado, mas a própria narrativa elege<br />

uma dicção que quer fazer lembrar a <strong>de</strong> uma narrativa oral; jogo ilusório, habilmente tecido<br />

pelo narrador, pois esta memória que quer compartilhar já não encontra eco imediato: o<br />

final das histórias não mais se renova, mas permanece fechado no suporte escrito. 53 A<br />

mitologia urbana não po<strong>de</strong> sobreviver senão como cristalização, editada e imobilizada nas<br />

páginas do folhetim.<br />

O cronista é um colecionador, a buscar nos cacos e ruínas <strong>de</strong>ste passado uma ponte<br />

53 Conferir as brilhantes reflexões <strong>de</strong> Walter Benjamin, em seu artigo “O Narrador”, por nós já citado<br />

(BENJAMIN, 1997).

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