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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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<strong>de</strong> aspectos e <strong>de</strong> impressões. O companheiro inseparável do<br />

homem quando flana é o seu charuto; o da senhora é o seu<br />

buquê <strong>de</strong> flores.O que há <strong>de</strong> mais encantador na flânerie é<br />

que ela não produz unicamente o movimento material, mas<br />

também o exercício moral. Tudo no homem passeia: o corpo<br />

e a alma, os olhos e a imaginação. Tudo se agita; porém é<br />

uma agitação doce e calma, que excita o espírito e a fantasia,<br />

e provoca <strong>de</strong>liciosas emoções. (ALENCAR, 1966, p. 664 a<br />

666).<br />

Se na crônica, o narrador <strong>de</strong> Alencar vê na flânerie um passatempo <strong>de</strong>spreocupado,<br />

a catalisar <strong>de</strong>liciosas sensações, em Sonhos d’ouro o passeio está repleto <strong>de</strong> melancolia. Por<br />

outro lado, se o cronista sugere contemplar “a beleza natural ou a beleza da arte”, em<br />

Sonhos d’ouro, com mostrado no capítulo anterior, o belo da arte surge a partir do belo<br />

natural, não se opondo a ele.<br />

Em resposta a uma crítica a Sonhos d’ouro, Alencar relaciona a natureza ao belo da<br />

arte e ao próprio <strong>de</strong>vaneio:<br />

Os Sonhos d’ouro: neste país dos trópicos, on<strong>de</strong> a própria<br />

natureza <strong>de</strong>vaneia ns cambiantes da luz, nos caprichos das<br />

formas, nos contrastes do belo; nestas naturezas meridionais<br />

<strong>de</strong> imaginação vagabunda, cismar será acaso uma<br />

aberração? (ALENCAR, 1966, p. 937).<br />

O passeio é uma metáfora para o <strong>de</strong>vaneio e por isso o <strong>de</strong>slocamento, além <strong>de</strong><br />

físico, é existencial. Como o corpo, o pensamento, seja <strong>de</strong> objeto a objeto, apreciando os<br />

<strong>de</strong>talhes do mundo exterior, seja sondando os mistérios da alma, como faz o protagonista<br />

Ricardo:<br />

Às vezes o pensamento do moço vagava <strong>de</strong> um a outro objeto,<br />

<strong>de</strong>sta àquela moita, do ramo ao tronco, da folha à raiz, como<br />

se procurasse um ponto qualquer on<strong>de</strong> se fixasse, distraindose<br />

das idéias e recordações do íntimo. Outras vezes, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>jar como uma borboleta, o espírito do solitário passeador<br />

recolhia-se insensivelmente, e abstraía-se <strong>de</strong> quanto o

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