15.04.2013 Views

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

1 148<br />

comenta os fatos ocorridos em Roma, Milão e Florença. Sua viagem transcen<strong>de</strong> a dimensão<br />

física. A paisagem que busca é, sobretudo, humana; não procura os monumentos, mas os<br />

<strong>de</strong>talhes, captados através <strong>de</strong> pequenos acontecimentos pela sua sensibilida<strong>de</strong>; o<br />

sentimento, e não o intelecto, organiza e apreen<strong>de</strong> o mundo. A viagem é uma viagem pela<br />

natureza do Homem. Stendhal, por sua vez, em Rome, Naples e Florence escreve um texto<br />

menos interessado em <strong>de</strong>screver a viagem do que em escrever as confissões do viajante.<br />

Em Alencar e Macedo, a viagem é uma condição cognitiva; mas Alencar<br />

implementa – ao contrário do segundo, a solidão como traço indissolúvel do <strong>de</strong>slocamento.<br />

Mesmo em textos nos quais o lúdico e o humor emergem, como em O Garatuja, esta<br />

condição está presente: no passeio temporal e cognitivo feito pela voz narrativa no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro colonial em um tempo regido pelo sino da Igreja e com monumentos e pontos <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificação a anunciar a ruína à época do autor; é também um passeio pelos <strong>de</strong>vaneios<br />

<strong>de</strong>sse narrador:<br />

O Garatuja é a primeira <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> crônicas dos tempos<br />

coloniais, algumas já escritas, outras já esboçadas, em<br />

tempos idos, quando o pensamento, ainda não <strong>de</strong> todo<br />

enredado nas teias do mundo, tinha folga para vaguear pelo<br />

passado. (ALENCAR, 1966, p.1267).<br />

Já em Ao correr da pena (folhetins do correio mercantil do Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong> 1854<br />

a 1850), Alencar anunciava a idéia da flânerie. Ao reclamar do estado <strong>de</strong> abandono e do<br />

<strong>de</strong>sprezo da elite pelo Passeio Público, freqüentado apenas pelos velhos e pelos moleques à<br />

caça <strong>de</strong> passarinhos, Alencar lamenta que apesar dos brasileiros imitarem os hábitos<br />

franceses, ainda não tenham <strong>de</strong>scoberto o hábito da flânerie<br />

uma coisa que eles [os franceses] inventaram. Sabeis o que é<br />

a flânerie? É o passeio ao ar livre, feito lenta e<br />

vagarosamente, conversando ou cismando, contemplando a<br />

beleza natural ou a beleza da arte; variando a cada momento

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!