Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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comenta os fatos ocorridos em Roma, Milão e Florença. Sua viagem transcen<strong>de</strong> a dimensão<br />
física. A paisagem que busca é, sobretudo, humana; não procura os monumentos, mas os<br />
<strong>de</strong>talhes, captados através <strong>de</strong> pequenos acontecimentos pela sua sensibilida<strong>de</strong>; o<br />
sentimento, e não o intelecto, organiza e apreen<strong>de</strong> o mundo. A viagem é uma viagem pela<br />
natureza do Homem. Stendhal, por sua vez, em Rome, Naples e Florence escreve um texto<br />
menos interessado em <strong>de</strong>screver a viagem do que em escrever as confissões do viajante.<br />
Em Alencar e Macedo, a viagem é uma condição cognitiva; mas Alencar<br />
implementa – ao contrário do segundo, a solidão como traço indissolúvel do <strong>de</strong>slocamento.<br />
Mesmo em textos nos quais o lúdico e o humor emergem, como em O Garatuja, esta<br />
condição está presente: no passeio temporal e cognitivo feito pela voz narrativa no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro colonial em um tempo regido pelo sino da Igreja e com monumentos e pontos <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntificação a anunciar a ruína à época do autor; é também um passeio pelos <strong>de</strong>vaneios<br />
<strong>de</strong>sse narrador:<br />
O Garatuja é a primeira <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> crônicas dos tempos<br />
coloniais, algumas já escritas, outras já esboçadas, em<br />
tempos idos, quando o pensamento, ainda não <strong>de</strong> todo<br />
enredado nas teias do mundo, tinha folga para vaguear pelo<br />
passado. (ALENCAR, 1966, p.1267).<br />
Já em Ao correr da pena (folhetins do correio mercantil do Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong> 1854<br />
a 1850), Alencar anunciava a idéia da flânerie. Ao reclamar do estado <strong>de</strong> abandono e do<br />
<strong>de</strong>sprezo da elite pelo Passeio Público, freqüentado apenas pelos velhos e pelos moleques à<br />
caça <strong>de</strong> passarinhos, Alencar lamenta que apesar dos brasileiros imitarem os hábitos<br />
franceses, ainda não tenham <strong>de</strong>scoberto o hábito da flânerie<br />
uma coisa que eles [os franceses] inventaram. Sabeis o que é<br />
a flânerie? É o passeio ao ar livre, feito lenta e<br />
vagarosamente, conversando ou cismando, contemplando a<br />
beleza natural ou a beleza da arte; variando a cada momento