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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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aprisiona-se a esta, é na verbalização da vonta<strong>de</strong> da ausência da alterida<strong>de</strong> que esta mais<br />

faz-se presente. O flâneur <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire opõe-se sobremaneira a ele: não passeia mais por<br />

prazer, mas para testar-se e questionar-se em meio aos cacos <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> na qual<br />

percebe a sensação <strong>de</strong> catástrofe iminente. Ele não procura mais a si, seu <strong>de</strong>sejo é o <strong>de</strong><br />

per<strong>de</strong>r-se na multidão. Mas este ato, que po<strong>de</strong>ria ser um <strong>de</strong>vaneio, anuncia-se como uma<br />

concretu<strong>de</strong> dolorosa, junto à impossibilida<strong>de</strong> do reencontro consigo no labiríntico caos<br />

urbano.<br />

Como ao flâneur bau<strong>de</strong>leiriano, o espaço pisca ao passeador romântico dos textos<br />

oitocentistas brasileiro. Mas tal espaço não é somente a urbe que seduz e confun<strong>de</strong> o<br />

flâneur, ou a natureza pitoresca, que engolfa o passeador rousseauniano, como veremos. Da<br />

mesma forma, o passeador dos textos brasileiros não po<strong>de</strong> ser o promeneur solitário <strong>de</strong><br />

Rousseau, que conhecia a todos em sua cida<strong>de</strong>zinha, embora não chegue a per<strong>de</strong>r-se na<br />

multidão, como faria o eu-lírico <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire em tantos poemas, como em “A uma<br />

passante”.<br />

Gostaríamos <strong>de</strong> analisar o signo do passeador, como elemento <strong>de</strong> reflexão<br />

romântica, em dois livros: Sonhos d’ouro, <strong>de</strong> Alencar, e Um passeio pela cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, <strong>de</strong> Joaquim Manuel <strong>de</strong> Macedo. Cabe lembrar que o signo do passeio era um topos<br />

conhecido na Europa, retomado, por exemplo, por Sterne, e, <strong>de</strong>pois, por Stendhal.<br />

Em Uma viagem sentimental através da França e da Itália (1768), Laurence Sterne<br />

reapresenta a personagem Yorick 52 , <strong>de</strong> A vida e as opiniões do cavalheiro Tristam Shandy,<br />

neste livro, como protagonista. Pastor tuberculoso, Yorick – apesar do título do livro, não<br />

consegue empreen<strong>de</strong>r sua viagem, pois não atravessa a fronteira italiana. Apesar disto,<br />

52 A personagem Yorick era um pastor da paróquia <strong>de</strong> Shandy; seu nome é claro intertexto com o bobo da<br />

corte do pai <strong>de</strong> Hamlet, cujo crânio é jogado pelos coveiros na frente do príncipe, no 5 o ato da tragédia.

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