Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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Não que o relembrar ressuscitasse o passado em sua integrida<strong>de</strong>; para Rousseau a<br />
lembrança trazida pelo <strong>de</strong>vaneio potencializa uma nova percepção, uma outra sensibilida<strong>de</strong>.<br />
Relembrar o ontem faz com que uma nova <strong>de</strong>lícia da alma surja, pois a leitura / lembrança<br />
<strong>de</strong>ste passado (fixo pela escrita) no presente apresentando-se <strong>de</strong> forma vária, sendo o seu<br />
<strong>de</strong>sdobramento e nunca uma cópia fiel.<br />
Embora a idéia <strong>de</strong> múltiplos <strong>de</strong>slocamentos – que extrapolam a dimensão espacial,<br />
permeiem o relato, este se inicia em uma situação <strong>de</strong> imobilida<strong>de</strong>: “Eis-me, portanto,<br />
sozinho sobre a terra” (ROUSSEAU, 1986, p.23).<br />
Esta conclusão inaugura no presente o ponto <strong>de</strong> partida para o <strong>de</strong>slocamento nesta<br />
caminhada que é, acima <strong>de</strong> tudo, existencial, mas também temporal. É a partir <strong>de</strong>ste<br />
presente fixo que ele irá migrar diversas vezes para o passado, que, contraditoriamente,<br />
quer esquecer e ao mesmo tempo reivindicar a fim <strong>de</strong> fazer-se compreendido, não mais aos<br />
outros, mas a si.<br />
Será justamente a articulação incessante entre passado e presente a premissa para o<br />
alcance, nesse presente fixo, da paz, o que permitirá um vislumbre – ainda que mínimo, do<br />
futuro. Instaura-se então, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a abertura do manuscrito, a dialética do enfrentamento entre<br />
o fixar e o <strong>de</strong>slocar.<br />
Os passeios são indicados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira caminhada até a décima e última<br />
(inacabada) como formas <strong>de</strong> fixar-se no mundo – contra o mundo, na solidão, mas<br />
buscando em um <strong>de</strong>slocamento incessante a paz e a felicida<strong>de</strong>. O <strong>de</strong>stino fixo <strong>de</strong>senrola-se<br />
dialeticamente em meio ao choque com o <strong>de</strong>slocamento dos <strong>de</strong>vaneios-refúgios.<br />
O <strong>de</strong>vaneio é induzido pela caminhada e revela o confronto entre o per<strong>de</strong>r-se <strong>de</strong> si,<br />
<strong>de</strong> sua imagem enquanto construção social e o encontro do moi; choque eterno perante a<br />
impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estruturar fora do paradigma da socieda<strong>de</strong>, já que Rousseau abandona