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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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O aparentemente <strong>de</strong>spretensioso O Garatuja po<strong>de</strong> revelar as entrelinhas <strong>de</strong> uma<br />

discussão tecida, via ironia, sobre as relações entre arte e po<strong>de</strong>r, mostrando um Brasil<br />

colonial – que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo é assumido pelo narrador como uma paródia do país <strong>de</strong> seu<br />

tempo. Neste entrecruzamento <strong>de</strong> tempos e espaços, a tessitura narrativa é arrematada pelo<br />

questionamento da mimese, pensando a arte como transfiguração do real, por excelência.<br />

O final cômico oculta a profunda melancolia da falência da liberda<strong>de</strong> artística<br />

perante a hegemonia e a mediocrida<strong>de</strong>, caminhando lado a lado na narrativa. Po<strong>de</strong>-se ainda,<br />

talvez, estabelece uma ponte entre a representação do fracasso final <strong>de</strong> Ivo como artista e as<br />

reflexões <strong>de</strong> Alencar acerca da condição do intelectual no século <strong>de</strong>zenove, dispersas<br />

muitas vezes na forma <strong>de</strong> queixas não aprofundadas em seus textos críticos.<br />

As relações entre o pictórico e o poético também po<strong>de</strong>m ser inferidas na leitura <strong>de</strong><br />

Lucíola, romance no qual quadros em claro-escuro são tecidos como metáforas criadas à<br />

luz das tensões entre corpo e alma presentes no romance, consi<strong>de</strong>rado uma Dama das<br />

Camélias brasileira para <strong>de</strong>sgosto <strong>de</strong> Alencar que, se por um lado assume o intertexto no<br />

próprio romance, por outro reage à acusação <strong>de</strong> plágio ao mostrar que o diálogo exce<strong>de</strong> a<br />

mera cópia literária.<br />

A construção da personagem também é feita através <strong>de</strong> claros e escuros, em nuances<br />

cambiantes que a apresentam como Lúcia (Maria da Glória) / luz e Lúcifer/escuridão, entre<br />

o angélico e o <strong>de</strong>moníaco:“De resto, a senhora sabe que não é possível pintar sem que a luz<br />

projete claros e escuros. As sombras do meu quadro, se esfumam traços carregados,<br />

contrastam <strong>de</strong>buxando o relevo e colorido <strong>de</strong> límpidos contornos” (ALENCAR, 1966, p.<br />

312).<br />

Oposição esclarecida nos trajes e móveis da personagem, que troca o vermelho pelo<br />

azul e branco celestiais e a mansão e o mobiliário luxuosos pela casa mo<strong>de</strong>stamente

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