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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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que documenta o passado colonial aparece em sua ilegibilida<strong>de</strong>. Ao mesmo tempo, a<br />

condição <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> atribuída ao documento escrito é abalada, dada a carnavalização da<br />

figura do tabelião pelo narrador, como notamos, por exemplo, no capítulo VII: Marta<br />

assusta-se com a sombra <strong>de</strong> Ivo, pensando ser um caipora e Sebastião “<strong>de</strong>creta” que ela está<br />

errada, pois o que vira teria sido um macaco: “Declaro que é macaco, do que dou<br />

testemunho e porto por fé, e em prova <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> firmo com meu público sinal...”<br />

(ALENCAR, 1966, p. 1298).<br />

Em uma socieda<strong>de</strong> na qual a verda<strong>de</strong> é questionável e ilegível, a arte seria percebida<br />

como mecânica e não fruto da sensibilida<strong>de</strong> poética; o único artista verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> O<br />

Garatuja, Ivo, tem a sua a veia plástica como maldição, como um pecado “ao <strong>de</strong>mais<br />

original, pois lho <strong>de</strong>ra a natureza, e não o podia negar” (ALENCAR, 1966, p.1299), como a<br />

sua própria condição <strong>de</strong> enjeitado.<br />

A arte nesta socieda<strong>de</strong>, como Ivo, é bastarda. Sua alcunha <strong>de</strong> Garatuja significa<br />

tanto rabisco, como <strong>de</strong>senho mal-feito. Isto é tanto mais irônico quando pensamos que o<br />

verda<strong>de</strong>iro Garatuja é o tabelião, entre suas escrituras hieroglíficas: “a mais tabelioa que se<br />

possa imaginar; dificilmente conseguiam os velhos escreventes lhe meter o <strong>de</strong>nte”<br />

(ALENCAR, 1966, p. 1316) - e o po<strong>de</strong>r que elas <strong>de</strong>mandavam: a verda<strong>de</strong> era a do<br />

documento, ainda que ilegível. A Ivo cabe o outro po<strong>de</strong>r – que <strong>de</strong> tão ameaçador, <strong>de</strong>ve<br />

abandonar após o casamento com Marta, por exigência <strong>de</strong> Sebastião: o <strong>de</strong> uma arte que, se<br />

não é apreciada como Bela Arte, é dotada da força <strong>de</strong> mobilização, através da solidarieda<strong>de</strong><br />

que o riso instaura, como quando <strong>de</strong>senha no pelourinho um gran<strong>de</strong> painel representando<br />

São Sebastião entregando uma ban<strong>de</strong>ira a Sebastião e expulsando os porcos da cida<strong>de</strong>. Os<br />

porcos teriam as feições dos eclesiásticos rivais do tabelião:<br />

Atinando com a alegoria, a multidão disparou em um frouxo

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