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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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Ainda assim, Ivo é consi<strong>de</strong>rado um “mecânico e artífice”, já que “artista naquele<br />

tempo servia para indicar os gramáticos e retóricos, ou os matreiros férteis em manhas ”<br />

(ALENCAR, 1966, p. 1299).<br />

Do outro lado da teia social está o tabelião Sebastião Ferreira Freire, personagem<br />

histórico que a pena <strong>de</strong> Alencar transforma em ficção, caracterizado pelo ofício que<br />

representa, <strong>de</strong> forma caricata:<br />

No meio da banca, na cava aberta para acomodar o corpo,<br />

surgia um busto <strong>de</strong> homem, coberto <strong>de</strong> tabaco e poeira, com<br />

um chinó tão escandalosamente ruivo, que já frisava com o<br />

vermelho. [...] Às orelhas, que não invejariam a <strong>de</strong> um<br />

perdigueiro [...] servia-lhes <strong>de</strong> ornato duas penas <strong>de</strong> ganso,<br />

que lançando as longas ramas sobre as espáduas, espetavam<br />

lhe na testa os bicos rombos e cobertos com espessa crosta <strong>de</strong><br />

tinta. [...] Tudo ali se revestia do aspecto poento e venerando<br />

daquele alfarrábio vivo, enca<strong>de</strong>rnado em pergaminho<br />

humano.(ALENCAR, 1966, p. 1282).<br />

Sebastião, como dono <strong>de</strong> cartório, domina os códigos burocráticos e os trâmites<br />

legais, assenhoreando-se <strong>de</strong>les a ponto <strong>de</strong> transformar a escrita do cartório, do papel oficial<br />

em enigma – forma <strong>de</strong> manter o seu domínio, mas também <strong>de</strong> exibir o vazio e o<br />

automatismo do papel da escrita documental. Assim, Ivo, que vai trabalhar no cartório para<br />

ficar mais perto <strong>de</strong> sua amada, Marta, a filha <strong>de</strong> Sebastião, não consegue ler nenhum dos<br />

arquivos. Mas o que atrapalha Ivo faz o tabelião regozijar-se, já que consegue fazer <strong>de</strong><br />

olhos fechados o sinal público, que tem: “um quê <strong>de</strong> hieróglifo [...] Se lhe coubesse alguma<br />

vez a mercê do hábito, como o estavam dando os governadores [...], sem dúvida que as<br />

armas da família haviam <strong>de</strong> ser a cópia do sinal público, que autenticava as escrituras<br />

lavradas nas notas” (ALENCAR, 1966, p.1285).<br />

A res publica – tal como o narrador anuncia na introdução, referindo-se ao governo<br />

<strong>de</strong> D. Pedro II, torna-se privada; o privilégio e o pessoal apagam o rastro do coletivo e o

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