Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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Ivo esta luci<strong>de</strong>z é um caminho para que ele, enjeitado, ajeite-se socialmente, através da<br />
esperteza e da manipulação, conseguida por sua arte sui generis. Assim, ele se tornaria o<br />
primeiro brasileiro a inventar o “homem da situação”, mobilizando a opinião pública<br />
através da pintura, e fazendo com que o pai <strong>de</strong> sua amada fosse bem sucedido: “Eis como<br />
inventou o Ivo o ‘ homem da situação’. O que ele fez com o seu pincel, ainda há hoje quem<br />
o faça com uma gazeta, e com o mesmo <strong>de</strong>sembaraço e petulância”(ALENCAR, 1966, p.<br />
1366).<br />
A veia artística <strong>de</strong> Ivo, entretanto, não foi incentivada pelos seus educadores - os<br />
padres jesuítas (que, aliás, o expulsam do colégio), nem pela própria socieda<strong>de</strong>, que vê a<br />
arte <strong>de</strong> Ivo como mera travessura.<br />
Embora seu talento não tenha sido reconhecido pelos jesuítas, vai trabalhar com<br />
Belmiro, o pintor da cida<strong>de</strong>. Belmiro não é, todavia, um artista, mas um artífice, pintor <strong>de</strong><br />
tetos e pare<strong>de</strong>s; alguém que faz seu ofício mecanicamente (como Sebastião, o tabelião),<br />
comparado pelo narrador a um moleiro e a uma doceira, dado o seu “escrúpulo <strong>de</strong> copista e<br />
paciência <strong>de</strong> chin” (ALENCAR, 1966, p.1293). É pintor <strong>de</strong> mol<strong>de</strong>s, incapaz <strong>de</strong> “copiar da<br />
natureza, ainda que com o auxílio <strong>de</strong> um espelho” (ALENCAR, 1966, p.1293), o que<br />
confere a sua mediocrida<strong>de</strong>.<br />
Ao contrário <strong>de</strong>le, Ivo é capaz <strong>de</strong>, em sua alma <strong>de</strong> artista, ainda que pícara, trazer à<br />
tona em sua arte os elementos locais, poetizar a natureza pátria (e receber elogios por isto,<br />
embora Belmiro assuma as obras); um pintor colonial, construído com o olhar <strong>de</strong> artista<br />
romântico: “A cansada grinalda e os pássaros com que o Belmiro invariavelmente ornava<br />
as pare<strong>de</strong>s e tetos das casas, foram substituídos por festões <strong>de</strong> flores graciosas, e trechos <strong>de</strong><br />
boscagens que pareciam copiados das florestas da Carioca e da Tijuca” (ALENCAR, 1966,<br />
p.1294).