15.04.2013 Views

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1 130<br />

Ivo esta luci<strong>de</strong>z é um caminho para que ele, enjeitado, ajeite-se socialmente, através da<br />

esperteza e da manipulação, conseguida por sua arte sui generis. Assim, ele se tornaria o<br />

primeiro brasileiro a inventar o “homem da situação”, mobilizando a opinião pública<br />

através da pintura, e fazendo com que o pai <strong>de</strong> sua amada fosse bem sucedido: “Eis como<br />

inventou o Ivo o ‘ homem da situação’. O que ele fez com o seu pincel, ainda há hoje quem<br />

o faça com uma gazeta, e com o mesmo <strong>de</strong>sembaraço e petulância”(ALENCAR, 1966, p.<br />

1366).<br />

A veia artística <strong>de</strong> Ivo, entretanto, não foi incentivada pelos seus educadores - os<br />

padres jesuítas (que, aliás, o expulsam do colégio), nem pela própria socieda<strong>de</strong>, que vê a<br />

arte <strong>de</strong> Ivo como mera travessura.<br />

Embora seu talento não tenha sido reconhecido pelos jesuítas, vai trabalhar com<br />

Belmiro, o pintor da cida<strong>de</strong>. Belmiro não é, todavia, um artista, mas um artífice, pintor <strong>de</strong><br />

tetos e pare<strong>de</strong>s; alguém que faz seu ofício mecanicamente (como Sebastião, o tabelião),<br />

comparado pelo narrador a um moleiro e a uma doceira, dado o seu “escrúpulo <strong>de</strong> copista e<br />

paciência <strong>de</strong> chin” (ALENCAR, 1966, p.1293). É pintor <strong>de</strong> mol<strong>de</strong>s, incapaz <strong>de</strong> “copiar da<br />

natureza, ainda que com o auxílio <strong>de</strong> um espelho” (ALENCAR, 1966, p.1293), o que<br />

confere a sua mediocrida<strong>de</strong>.<br />

Ao contrário <strong>de</strong>le, Ivo é capaz <strong>de</strong>, em sua alma <strong>de</strong> artista, ainda que pícara, trazer à<br />

tona em sua arte os elementos locais, poetizar a natureza pátria (e receber elogios por isto,<br />

embora Belmiro assuma as obras); um pintor colonial, construído com o olhar <strong>de</strong> artista<br />

romântico: “A cansada grinalda e os pássaros com que o Belmiro invariavelmente ornava<br />

as pare<strong>de</strong>s e tetos das casas, foram substituídos por festões <strong>de</strong> flores graciosas, e trechos <strong>de</strong><br />

boscagens que pareciam copiados das florestas da Carioca e da Tijuca” (ALENCAR, 1966,<br />

p.1294).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!