Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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O resgate das tradições urbanas <strong>de</strong>smobilizam a memória histórica do IHB, com sua<br />
retórica cientifica e formal, colocando em segundo plano a memória popular em prol dos<br />
quadros eurocêntricos <strong>de</strong> cronistas e viajantes. O fosso entre o conhecimento oficial e<br />
imobilizado, pre<strong>de</strong>stinado a confinar-se na poeira, e a memória “viva”, que conta a sua<br />
versão do passado, é pontificado pela palavra literária.<br />
O narrador assume-se como o artista capaz <strong>de</strong> restaurar a palavra perdida,<br />
disseminada na fala popular, nas histórias dos antigos, dos interioranos; no silêncio das<br />
tribos extintas, sobreviventes no olhar eurocêntrico dos cronistas e na escrita <strong>de</strong> lendas<br />
muitas vezes distorcidas, nos arquivos empoeirados do IHB.<br />
“Álbum <strong>de</strong> pedra”, o espaço urbano constrói-se como palimpsesto temporal:<br />
profusão <strong>de</strong> signos em choque - o mo<strong>de</strong>rno e o antigo, a civilização e a barbárie (ou em Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro: verso e reverso: a civilização como forma <strong>de</strong> barbárie), em um jogo que <strong>de</strong>staca<br />
os aspectos negativos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, tomada pelos males do capitalismo, e ressalta a<br />
positivida<strong>de</strong> dos antigos e ingênuos hábitos.<br />
Das ruínas e velhos monumentos da cida<strong>de</strong> emergem as vozes da tradição, dos ditos<br />
populares, do velho, dos documentos: polifonia a projetar as expectativas sobre o passado<br />
possível da cida<strong>de</strong> colonial - a paisagem urbana ergue-se pela palavra, que a figura como<br />
livro <strong>de</strong> história em potencial, corpus tecido na construção e <strong>de</strong>sconstrução incessantes, na<br />
convivência dos símbolos coloniais e do surgimento da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, do tempo do atraso e<br />
do tempo capitalista, traduzidos na narrativa irônica.<br />
Para além, porém, do engessamento <strong>de</strong> um tempo passado, a narrativa estabelece-se<br />
como origem ao alegorizá-lo como microcosmos a dialogar com o tempo presente em um