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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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(ALENCAR, 1966, p. 863), o escritor mantém o nome dos envolvidos e os acontecimentos,<br />

entretanto ficcionaliza o episódio, explorando os seus silêncios - as características pessoais<br />

dos participantes, e, principalmente, a causa do motim:<br />

Escaparam, porém, ao cronista [ao cronista colonial, Baltazar<br />

Lisboa] muitas particularida<strong>de</strong>s, que ele <strong>de</strong>scurou e que eu<br />

pu<strong>de</strong> obter consultando um arquivo arqueológico, bem<br />

provido, e que tenho à minha disposição, para o estudar à<br />

vonta<strong>de</strong>. (ALENCAR, 1966, p.1268).<br />

O arquivo ao qual Alencar refere-se é um velho que conheceu no Passeio Público.<br />

Como já dissemos antes, muitas vezes o idoso é tomado no Romantismo como elemento<br />

privilegiado, no que toca ao conhecimento do passado da pátria e da memória popular:<br />

Era ali in<strong>de</strong>fectível um velho seco e relho, o qual se me<br />

afigurava a metempsicose <strong>de</strong> algum poento in -fólio da<br />

<strong>Biblioteca</strong> Nacional, que porventura fugira da janela, e se<br />

abrigara à sombra dos castanheiros para livrar-se da fúria<br />

arqueológica dos antiquários. (ALENCAR, 1966, p. 1269).<br />

A partir <strong>de</strong>ste jogo lúdico, o narrador opõe ao escritor <strong>de</strong> ficção os antiquários e<br />

àqueles que, às custas dos cofres públicos e movidos pelo favores e pela vaida<strong>de</strong>, dispõem-<br />

se a empreen<strong>de</strong>r o estudo do passado:<br />

Meu arquivo arqueológico[...]não custou um ceitil aos cofres<br />

públicos, nem aspira à honra <strong>de</strong> ser comprado pelo governo<br />

do sr. D. Pedro II [...] não custou nem mesmo o trabalho <strong>de</strong><br />

andar cascavilhando papéis velhos em armários <strong>de</strong><br />

secretarias; ou a canseira <strong>de</strong> trocaras pernas pela Europa,<br />

cosido em fardão algodoado (ALENCAR, 1966, p.1268).<br />

A palavra do povo, travestida na voz do ancião, revela o choque entre a tradição<br />

popular e o processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma memória “oficial”. Ao aludir ao homem do<br />

povo como portador <strong>de</strong> memória, o narrador resgata a cultura do confinamento dos museus<br />

– em uma crítica ao patronato cultural <strong>de</strong> Dom Pedro II, especialmente ao IHB.

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