15.04.2013 Views

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

1 126<br />

A questão do olhar do artista reaparece em O Garatuja: Alencar constrói pelo viés<br />

da ironia, em um texto aparentemente <strong>de</strong>spretensioso, uma reflexão complexa sobre as<br />

interfaces do pictórico, do poético e do nacional.<br />

Tal reflexão <strong>de</strong>senvolve-se em duas vias: como um jogo <strong>de</strong> claro-escuro, metáfora<br />

para se pensar sobre o posicionamento da literatura frente às penumbras da História<br />

(indicada, como visto, nas “Cartas sobre A Confe<strong>de</strong>ração dos Tamoios”) e como análise<br />

das relações entre pintura, documento, arte e História.<br />

A primeira via anuncia-se ao tomarmos consciência <strong>de</strong> que Alencar retoma nesta<br />

novela um caso jurídico colonial, testificado a partir <strong>de</strong> um documento inscrito nos Anais<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro, por Baltazar da Silva Lisboa. Sabe-se que um tabelião foi amotinado por<br />

servidores do prelado da cida<strong>de</strong>. O ouvidor-geral, após ouvir a queixa, mandou que o<br />

pren<strong>de</strong>sse. O prelado pediu ao Ouvidor que lhe entregasse a <strong>de</strong>vassa e como este não<br />

obe<strong>de</strong>ceu, foi excomungado. A segunda via revela-se na metaforização, no texto, do<br />

confronto entre a memória produzida pelo documento – burocrática e autoritária, e a<br />

memória visual produzida por Ivo – espontânea e subversiva.<br />

Percebemos a práxis do jogo <strong>de</strong> claro-escuro proposto por Alencar, quando ele<br />

constrói o quadro da socieda<strong>de</strong> a partir do jogo entre a penumbra da História e o claro da<br />

ficção, dialeticamente enfrentando-se. Toma este documento oficial como base para a<br />

construção <strong>de</strong> um texto literário. Pelo fio da ironia vai tecendo suas reflexões acerca <strong>de</strong>sta<br />

luta travada entre o po<strong>de</strong>r temporal e o po<strong>de</strong>r secular: na ficção, a motivo do conflito não<br />

são as tensões entre o Estado laico e a Igreja, mas uma confusão armada por uma<br />

personagem ficcional, Ivo, o Garatuja, apaixonado pela filha do tabelião.<br />

Como já citamos, para Alencar, “o domínio da arte na história é a penumbra em que<br />

esta <strong>de</strong>ixou os acontecimentos, e o fato autêntico, não se altera sem mentir à história”

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!