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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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a sintaxe pictórica.<br />

Percebemos isso em Sonhos d’ouro, um texto que remete à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perceber<br />

o real com olhos <strong>de</strong> artista. Um novo olhar que imprime à natureza o status <strong>de</strong> elemento<br />

civilizatório 44 . A natureza é sugerida <strong>de</strong> forma binária: selvagem, mas também ponto <strong>de</strong><br />

referência da cultura: dominada, ela se transforma em espaço domesticado, em mesa, por<br />

exemplo, em Sonhos d’ouro (ALENCAR, 1966, p. 706 e 708).<br />

O espaço natural, ao invés <strong>de</strong> se opor à civilização, revela-se, em Alencar, como via<br />

<strong>de</strong> acesso a esta, e ambas como fonte <strong>de</strong> construção da noção do nacional, partilhando<br />

reflexões presentes na paisagística romântica.<br />

A Cascatinha da Tijuca, figurada na narrativa <strong>de</strong> Sonhos d’ouro, “em vez da pompa<br />

selvagem respira uma certa gentileza <strong>de</strong> filha do <strong>de</strong>serto; está a duas horas da corte, recebe<br />

freqüentemente diplomatas, estrangeiros ilustres e a melhor socieda<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro”.(ALENCAR, 1966, p. 731). Próximo a 1820, o mesmo espaço foi representado<br />

pelo pintor Nicolas Antoine Taunay, um dos principais membros da Missão Artística<br />

Francesa, que morava em frente ao local.<br />

Na instigante, “La petite casca<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tijuca” (anexo 07), a cascata aparece ao fundo,<br />

indomável e mergulhada no cenário impenetrável da floresta. Ao fundo primitivo e edênico<br />

opõe-se o artista que, <strong>de</strong> costas e cercado por dois escravos e um cão, pinta uma planta.<br />

Abaixo, na penumbra, passam quase imperceptíveis na estrada <strong>de</strong> terra, em direção ao lado<br />

oposto da selva, dois perfis, remissivos às figuras <strong>de</strong> Dom Quixote e Sancho Pança: a<br />

utopia se <strong>de</strong>sloca ao abandonar a floresta, fora da visão do artista <strong>de</strong>sinteressado por sua<br />

grandiosida<strong>de</strong>.<br />

À representação selvagem da “cascatinha” contrapõe-se a sua figuração por<br />

44 Ver Peloggio, 2004.

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