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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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constróem imagens produtoras <strong>de</strong> sentidos sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da nação.<br />

Como exercício <strong>de</strong> leitura das imagens alencarinas, tomamos aqui por referência o<br />

primeiro capítulo do romance Sonhos d’Ouro. Nosso interesse é refletir sobre as relações<br />

ecfrásicas ali estabelecidas com a narrativa visual <strong>de</strong> Eugène Delacroix. Consi<strong>de</strong>rado por<br />

Bau<strong>de</strong>laire o verda<strong>de</strong>iro pintor-poeta, Delacroix construiu suas imagens a partir do duplo<br />

movimento da lembrança e da imaginação, usando cores fortes, linhas e formas expressivas<br />

e agitadas, imprimindo aos mitos uma visão subjetiva e criando uma atmosfera intensa,<br />

dominada pela imaginação, em uma contraposição à apreensão fotográfica da realida<strong>de</strong> -<br />

como o próprio olhar do artista romântico. Dentre estes elementos, a cor se <strong>de</strong>stacava como<br />

forma <strong>de</strong> expressivida<strong>de</strong>, contrapondo-se assim a proposta expressiva <strong>de</strong> Ingres, calcada<br />

principalmente nas linhas.<br />

Como crítico <strong>de</strong> arte, Bau<strong>de</strong>laire conseguiu perceber um elemento fundamental para<br />

a compreensão do estilo <strong>de</strong> Delacroix: o modo como suas telas representavam um olhar<br />

capaz <strong>de</strong> transfigurar a realida<strong>de</strong>, por uma apreensão da cena – in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da temática,<br />

pela imaginação, oposta à mera figuração, em um posicionamento contrário, ainda que <strong>de</strong><br />

forma não proposital, ao olhar fotográfico.<br />

A expressivida<strong>de</strong> da cor (“o romantismo e a cor me conduzem imediatamente a<br />

Eugène Delacroix” (BAUDELAIRE, 2002, p. 679)), é capaz <strong>de</strong> criar a transfiguração da<br />

natureza; e embora seja possível, como Delacroix, ser, ao mesmo tempo, <strong>de</strong>senhista e<br />

colorista, os últimos, segundo Bau<strong>de</strong>laire, “são poetas épicos” (i<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m): a sua pintura<br />

<strong>de</strong> Delacroix encontra-se, assim,com estes laivos.<br />

Apesar da paixão pelos motivos literários, em Delacroix a referência à poesia era<br />

um mero pretexto e não um objetivo em si. Era um pintor narrativo, mas esforçava-se por<br />

expressar “em vez <strong>de</strong> idéias literárias, algo que lhe é próprio, algo irracional e semelhante à

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