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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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produção acadêmica, não só pela sua grandiosida<strong>de</strong>, mas também pelo questionamento<br />

embutido em sua construção do domínio épico.<br />

A <strong>de</strong>cadência da pintura épica na Europa oitocentista articula-se a fragmentação do<br />

herói épico frente a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, no compasso da ascensão do herói romanesco. No Brasil,<br />

o contexto exposto exigia a reprodução do gênero em um momento em que ele se esvazia<br />

<strong>de</strong> sentido, fabricando o pintor “uma exteriorida<strong>de</strong> cuja alma se per<strong>de</strong>u”. (COLI, 2002, p.<br />

114).<br />

Américo é a voz dissonante, pois nesta tela a configuração pictórica põe em xeque a<br />

sobrevivência do gênero que <strong>de</strong>veria constituí-la. A fissura é instaurada no esvaziamento da<br />

figura dos heróis representados, neutralizados pela fúria da multidão a lutar. O povo passa a<br />

ser o protagonista da batalha e opõe a sua doação selvagem à placi<strong>de</strong>z dos heróis oficiais,<br />

que observam a turba <strong>de</strong> uma colina como Caxias, nas palavras <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira, “tão<br />

espectador, tão contemplativamente turístico”, em contraste ao resto da tela que combina <strong>de</strong><br />

forma rara a expressivida<strong>de</strong> e intensida<strong>de</strong> romântica aos resíduos do barroco. Afasta-se,<br />

<strong>de</strong>sta maneira dos núcleos <strong>de</strong> composição do neoclassicismo francês, em um diálogo<br />

inédito com contemporâneos mais experimentais, como Géricault.<br />

A tradição épica é rompida por este <strong>de</strong>slocamento em uma construção plástica que<br />

alija da cena os pretensos heróis, em suas poses banais, protegidos da convulsão da batalha:<br />

“O movimento giratório cria uma espécie <strong>de</strong> fosso visual, brilhando com reflexos e luzes,<br />

com tensões cromáticas, mandando para as suas bordas os grupos que avançam por trás ou<br />

<strong>de</strong>smoronam pela frente”(COLI, 2003, p. 117).<br />

Os questionamentos sobre as relações entre o épico e o mo<strong>de</strong>rno, e entre a na tureza,<br />

a civilização e a arte dialogam com a poética da restauração alencarina, a criar em claro-<br />

escuro quadros em movimento a se instaurarem como esquadros da memória, pois

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