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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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Outro ponto interessante diz respeito à dicção épica presente nas representações dos<br />

quadros históricos. O conflito percebido na linguagem literária por Alencar em relação ao<br />

épico é predominantemente abafado pelo exercício acadêmico da emulação, bem como pela<br />

submissão ao patronato. Neste sentido, o escritor era mais livre do que o pintor, que por<br />

vezes precisava <strong>de</strong> apoio até para a compra do caro material <strong>de</strong> trabalho.<br />

Uma obra dissonante em meio a este quadro é “A batalha <strong>de</strong> Avahy” (anexo 03), <strong>de</strong><br />

Pedro Américo, patrocinado por Dom Pedro II e autor <strong>de</strong> vários quadros neoclássicos, a<br />

maioria, como era praxe, emulações 42 . Mas <strong>de</strong>ntro do ambiente acadêmico oitocentista, por<br />

vezes <strong>de</strong>stacava-se a diferença, como em “Moisés e Jacobed ” (anexo 02): a temática bíblica<br />

é representada em uma tela na qual emerge em primeiro plano a figura feminina, a dominar<br />

a cena. A tragédia <strong>de</strong> Jacobed choca-se contra a sensualida<strong>de</strong> com que é retratada. O barrete<br />

na cabeça, a abertura do roupão, o atrito entre o <strong>de</strong>sespero e o erótico invertem a tradição<br />

da pintura bíblica e apontam para traços presentes em “Grécia nas ruínas <strong>de</strong> Missolonghi”,<br />

núcleos <strong>de</strong> significação presentes em outras telas, como “A liberda<strong>de</strong> guia o povo”,<br />

apropriados também, mesmo que inconscientemente, por Alencar, na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Guida,<br />

em Sonhos d´ouro <strong>de</strong> 1872. Pedro Américo só pintaria “Moisés e Jacobed”, entretanto, em<br />

1884.<br />

Em 1872, Pedro Américo iniciava os seus estudos para “A batalha <strong>de</strong> Avahy”. A<br />

pintura <strong>de</strong> batalhas fora revigorada pela guerra do Paraguai, episódio que <strong>de</strong>veria ser<br />

transformado em capital histórico, nas tintas épicas do gênero, inventor <strong>de</strong> tradições. 43<br />

Épico na temática e nas gigantescas dimensões, o quadro <strong>de</strong>staca-se em meio a uma parca<br />

42 Pedro Américo pintou “O grito do Ipiranga” alguns anos <strong>de</strong>pois; contudo neste trabalho a presença do épico<br />

coloca-se <strong>de</strong> forma quase inquestionável, em uma tela que manipula o silêncio como forma <strong>de</strong> produzir<br />

memória, como apontamos na primeira parte do trabalho.<br />

43 Segundo Jorge Coli, “quadros <strong>de</strong> batalha foram sempre ficção construtora <strong>de</strong> memória” (2002, p. 115).

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