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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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Porto-Alegre teve acirrado <strong>de</strong>bate com August Muller, professor <strong>de</strong> pintura <strong>de</strong> paisagem, ao<br />

propor que a paisagem só i<strong>de</strong>ntificaria a pátria se abandonasse as cópias <strong>de</strong> gravuras<br />

européias e se focasse na representação da natureza física brasileira.<br />

Sua “Floresta Brasileira” (anexo 06), <strong>de</strong> 1853, exibe a tensão entre o <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong>scritivista à percepção da mimese romântica como lâmpada por ele metaforizada em<br />

“Gruta”. Em um cenário grandioso a ocupar totalmente a tela, a floresta torna-se metáfora<br />

do nacional (SQUEFF, 2005, p. 28).<br />

A selva é composta <strong>de</strong> forma integrada, historicizada como cena tranqüila, na qual<br />

passeiam o próprio artista carregando suas pranchas e um amigo, portando uma arma <strong>de</strong><br />

fogo: paisagem dominada pelos capazes <strong>de</strong> criar a imagem e impor pela violência o seu<br />

domínio – o po<strong>de</strong>r bélico alegoricamente caminha na mata civilizada ao lado da arte.<br />

Se compararmos a pintura <strong>de</strong> Porto-Alegre a outra “Floresta Brasileira” (anexo 05),<br />

<strong>de</strong> Rugendas, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar o olhar do pintor romântico que, ao se construir como<br />

lâmpada, revela ma is que a subjetivida<strong>de</strong>: a própria paisagem representada no <strong>de</strong>sejo<br />

dúplice <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>la signo épico e <strong>de</strong> esvaziá-la da bárbarie, transforma ndo-na em<br />

mistério 41 . À floresta <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada, perigosa e habitada somente pelos índios opõe-se a cena<br />

civilizada <strong>de</strong> Porto-Alegre, revelando-se como passeio aos jovens elegantes, fazendo da<br />

floresta selvagem a mata reduzida a vitrines <strong>de</strong> espécies botânicas (SQUEFF, 2005, p. 29).<br />

É certo que essas pinturas preservam os índices plásticos neoclássicos, mas o seu<br />

posicionamento frente à paisagem propõe um novo olhar ao gênero por representar o<br />

espaço natural com contornos épicos, em uma figuração grandiosa e restrita geralmente, à<br />

época, à pintura histórica.<br />

41 Daí a representação da paisagem na “Gruta” <strong>de</strong> Porto-Alegre, retomada, provavelmente <strong>de</strong> forma<br />

inconsciente, por Alencar ao encenar a seca do sertão em uma paisagem gótica, como indicaremos no<br />

próximo capítulo.

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