Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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Isto posto, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>rivar a emergência, nos textos <strong>de</strong> Alencar, <strong>de</strong> uma tensão<br />
entre Natureza e Civilização; tal tensão po<strong>de</strong> ser tomada como índice da aporia presente em<br />
uma literatura organizada em torno do embate entre o local e o universal e o periférico e o<br />
central.<br />
Como dissemos anteriormente, há um projeto literário tecido por Alencar, latente<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as “Cartas sobre A Confe<strong>de</strong>ração dos Tamoios”, a buscar as brechas a partir das<br />
quais se po<strong>de</strong>ria criar uma literatura nacional, frente à intuição da falência do épico neste<br />
projeto:<br />
A forma com que Homero cantou os gregos não serve para<br />
cantar os índios; o verso que disse as <strong>de</strong>sgraças <strong>de</strong> Tróia, e<br />
os combates mitológicos não po<strong>de</strong> exprimir as tristes<br />
en<strong>de</strong>chas da Guanabara, e as tradições selvagens da<br />
América. (ALENCAR, 1966, p. 875).<br />
Contudo, se o romance emergiu como o campo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentidos que<br />
orientariam as modulações para a fabricação <strong>de</strong> imagens do nacional, a opção do<br />
romanesco em <strong>de</strong>trimento à epopéia não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> alimentar a permanência <strong>de</strong> veios épicos.<br />
A busca <strong>de</strong> resposta para a equação acima não é imediata, mas melancolicamente<br />
(no sentido benjaminiano <strong>de</strong> um lento ruminar) maturada e experimentada em seus textos 39 ,<br />
especialmente em Iracema, como afirma na carta ao Dr. Jaguaribe, pós-escrito ao livro, um<br />
“como e por que escrevi Iracema”, como afirma o próprio autor (ALENCAR, 1966, p.<br />
307).<br />
39 Não estamos com isso afirmando a existência <strong>de</strong> uma progressiva qualida<strong>de</strong> em seus textos: Ubirajara, por<br />
exemplo, é consi<strong>de</strong>rado pela crítica inferior a Iracema; O Sertanejo, escrito um ano após Ubirajara e <strong>de</strong>z anos<br />
mais tar<strong>de</strong> do que Iracema não apresenta um salto qualitativo, ao contrário: apresenta uma construção<br />
superficial das personagens e diversos lapsos <strong>de</strong> coerência interna, como a famosa passagem do tigre que vira<br />
onça algumas páginas <strong>de</strong>pois. O que intentamos apontar é a ausência <strong>de</strong> um projeto cristalizado e rígido para<br />
se pensar a literatura brasileira em Alencar, pois este é antes prenhe <strong>de</strong> limites e questionamentos.