Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
1 100 e Coleridge, para quem a arte é : The light of poetry is not only a direct but also a reflected light, that while shews us the object, throws a sparkling radiance on all around it (APUD ABRAMS, s.d., p. 52) The mediatress between, and reconciler of, nature and man. It is, therefore, the power of humanizing nature, of infusing the thoughts and passions of man into everything which is the object of his contemplation. (APUD ABRAMS, s.d., p. 52). Como lâmpada, a mirada de artista proposta por Alencar perfaz-se em uma prosa que tem como alteridade o lirismo e a plasticidade: a poesia moderna, para o autor, seria por excelência plástica. Na busca pela “impossível” epopéia nacional, a plasticidade é resgatada na forma romanesca. Entretanto, ao pintar com palavras o seu país, o literato não se converte em um mero descritor da paisagem, mas em um escritor que a percebe com olhos de artista, o que implicaria na transfiguração da natureza. A alusão à paisagem cria a correspondência entre os fatos da natureza e da alma, revelando a subjetividade romântica ao projetar os estados da alma, tecendo a simbiose entre o eu e o exterior. A descrição da natureza exuberante anuncia-se insuficiente; é mister aprender a olhar a paisagem brasileira, a interpretá-la e contá-la em uma arte capaz de redimensioná-la e de transformá-la, como anuncia, por exemplo, as notas de Ubirajara : transportemo-nos agora, não como homens e cristãos, mas como artistas ao seio das florestas seculares, às tabas dos povos guerreiros que dominavam a pátria selvagem (ALENCAR, s.d., p.80, grifo nosso). A crítica do jovem Alencar a Gonçalves de Magalhães apoiou-se na pobreza imagética de A Confederação dos Tamoios e na sua incapacidade de traduzir a cor local.
1 101 Magalhães teria feito da epopéia uma sombra pobre da arte clássica européia: é neste sentido que Alencar o critica, apontando a falência da tarefa do escritor brasileiro – tecer, aliando as imagens da natureza à idéia de nação, uma literatura que encontrasse o seu lugar entre a “simplicidade” da arte clássica e a plasticidade característica da poesia a eles (quase) contemporânea: O Sr. Magalhães nem conservou a simplicidade antiga, a simplicidade primitiva da arte grega; nem imitou o caráter plástico da poesia moderna: desprezando ao mesmo tempo a singeleza e o colorido, quis às vezes tornar-se simples e fez-se árido, quis outra vez ser descritivo e faltaram -lhe as imagens. (ALENCAR, 1966, p. 884). Intuitivamente (como visto, ao responder sobre o que falta em Magalhães ele diz: “se me perguntarem o que falta, decerto não saberei responder”), Alencar percebe a exigência de uma arte literária que reelabora, de certa forma, o Ut pictura, poesis: percebe as artes como partes de um todo, porém constituídas com autonomia. Assim, apesar da poesia se sobrepor às demais artes, como a pintura, esta deveria constituir-se pela via imagética revelando, como já citado, “os claros e os escuros do quadro ”. (ALENCAR, 1966, p.864). Na analogia supracitada, Alencar refere-se mais uma vez à técnica plástica do claro- escuro. Já vimos que, nos textos críticos, as relações estabelecidas por Alencar entre o pictórico e o poético alcançam um nível mais complexo de reflexão, ao questionarem o processo de produção literário. Nessa proposta literária a se insinuar também pela via imagética, o que conceituamos como “signos moduladores de imagens” - o mar, o porto, a paisagem, estão interligados em uma trama identificada com a necessidade de sublinhar a cor local, na qual a Natureza surge como elemento diferenciador do nacional.
- Page 49 and 50: 1 49 encontrar apenas vestígios da
- Page 51 and 52: 1 51 Podemos estabelecer um paralel
- Page 53 and 54: 1 53 fragmentos catados nos velhos
- Page 55 and 56: 1 55 remissão à imagem ou ao sign
- Page 57 and 58: 1 57 Como vimos, as imagens e termo
- Page 59 and 60: 1 59 no qual mais de três séculos
- Page 61 and 62: 1 61 “dialeto brasileiro”. O po
- Page 63 and 64: 1 63 imagens pretéritas, é recorr
- Page 65 and 66: 1 65 français doit avoir oublié l
- Page 67 and 68: 1 67 A literatura é percebida, poi
- Page 69 and 70: 1 69 Cabe perguntar ainda: quem sã
- Page 71 and 72: 1 71 fases históricas e três tipo
- Page 73 and 74: 1 73 Ubirajara, s.d., p.64) ( ALENC
- Page 75 and 76: 1 75 que não busca uma origem pré
- Page 77 and 78: 1 77 A narrativa indianista de Alen
- Page 79 and 80: 1 79 Ao destacar a defesa contra a
- Page 81 and 82: 1 81 entretanto, não guardaram na
- Page 83 and 84: 1 83 memória / manuscrito são pis
- Page 85 and 86: 1 85 dissolvida pelo emolduramento
- Page 87 and 88: 1 87 Esquecida por sua ave de estim
- Page 89 and 90: 1 89 Os restos de Maranguab jazem e
- Page 91 and 92: 1 91 Cada época elabora em seu ima
- Page 93 and 94: 1 93 CAPÍTULO 1: IMAGENS NACIONAIS
- Page 95 and 96: 1 95 estética. Para tanto, o filó
- Page 97 and 98: 1 97 refira-se às suas odes) uma a
- Page 99: 1 99 da época. E, não obstante,
- Page 103 and 104: 1 103 Na carta, Alencar revela o se
- Page 105 and 106: 1 105 como manancial legítimo da p
- Page 107 and 108: 1 107 Artísticas fomentadas desde
- Page 109 and 110: 1 109 percebido como cultura e meta
- Page 111 and 112: 1 111 os questionamentos dos litera
- Page 113 and 114: 1 113 Outro ponto interessante diz
- Page 115 and 116: 1 115 constróem imagens produtoras
- Page 117 and 118: 1 117 É neste cenário em claro-es
- Page 119 and 120: 1 119 problematização da relaçã
- Page 121 and 122: 1 121 Alencar não a descreve meram
- Page 123 and 124: 1 123 a sintaxe pictórica. Percebe
- Page 125 and 126: 1 125 Ao contrário do olhar neutro
- Page 127 and 128: 1 127 (ALENCAR, 1966, p. 863), o es
- Page 129 and 130: 1 129 elo estabelecido pela crític
- Page 131 and 132: 1 131 Ainda assim, Ivo é considera
- Page 133 and 134: 1 133 de riso, cujo burburinho cobr
- Page 135 and 136: 1 135 O aparentemente despretensios
- Page 137 and 138: 1 137 representando os mistérios d
- Page 139 and 140: 1 139 Por outro lado, e de forma co
- Page 141 and 142: 1 141 CAPÍTULO 2: A DESCRIÇÃO DO
- Page 143 and 144: 1 143 caminhadas as catalisadoras d
- Page 145 and 146: 1 145 o mundo, mas do mundo - mesmo
- Page 147 and 148: 1 147 aprisiona-se a esta, é na ve
- Page 149 and 150: 1 149 de aspectos e de impressões.
1 101<br />
Magalhães teria feito da epopéia uma sombra pobre da arte clássica européia: é neste<br />
sentido que Alencar o critica, apontando a falência da tarefa do escritor brasileiro – tecer,<br />
aliando as imagens da natureza à idéia <strong>de</strong> nação, uma literatura que encontrasse o seu lugar<br />
entre a “simplicida<strong>de</strong>” da arte clássica e a plasticida<strong>de</strong> característica da poesia a eles<br />
(quase) contemporânea:<br />
O Sr. Magalhães nem conservou a simplicida<strong>de</strong> antiga, a<br />
simplicida<strong>de</strong> primitiva da arte grega; nem imitou o caráter<br />
plástico da poesia mo<strong>de</strong>rna: <strong>de</strong>sprezando ao mesmo tempo a<br />
singeleza e o colorido, quis às vezes tornar-se simples e fez-se<br />
árido, quis outra vez ser <strong>de</strong>scritivo e faltaram -lhe as imagens.<br />
(ALENCAR, 1966, p. 884).<br />
Intuitivamente (como visto, ao respon<strong>de</strong>r sobre o que falta em Magalhães ele diz:<br />
“se me perguntarem o que falta, <strong>de</strong>certo não saberei respon<strong>de</strong>r”), Alencar percebe a<br />
exigência <strong>de</strong> uma arte literária que reelabora, <strong>de</strong> certa forma, o Ut pictura, poesis: percebe<br />
as artes como partes <strong>de</strong> um todo, porém constituídas com autonomia. Assim, apesar da<br />
poesia se sobrepor às <strong>de</strong>mais artes, como a pintura, esta <strong>de</strong>veria constituir-se pela via<br />
imagética revelando, como já citado, “os claros e os escuros do quadro ”. (ALENCAR,<br />
1966, p.864).<br />
Na analogia supracitada, Alencar refere-se mais uma vez à técnica plástica do claro-<br />
escuro. Já vimos que, nos textos críticos, as relações estabelecidas por Alencar entre o<br />
pictórico e o poético alcançam um nível mais complexo <strong>de</strong> reflexão, ao questionarem o<br />
processo <strong>de</strong> produção literário.<br />
Nessa proposta literária a se insinuar também pela via imagética, o que<br />
conceituamos como “signos moduladores <strong>de</strong> imagens” - o mar, o porto, a paisagem, estão<br />
interligados em uma trama i<strong>de</strong>ntificada com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sublinhar a cor local, na qual<br />
a Natureza surge como elemento diferenciador do nacional.