15.04.2013 Views

A História Natural dos sertões do Ceará em "Notas de ... - anpuh

A História Natural dos sertões do Ceará em "Notas de ... - anpuh

A História Natural dos sertões do Ceará em "Notas de ... - anpuh

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

correspondência oficial para o governo, tarefa que o cargo <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte da Comissão<br />

exigia que fosse por ele executada. Conversa<strong>do</strong>r, por tu<strong>do</strong> se interessava. Anotava tu<strong>do</strong>.<br />

Nas suas indagações valia-se tanto da gente, quanto da gente <strong>do</strong> povo. As riquezas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>talhes presentes <strong>em</strong> suas anotações comprovam a observância sua metódica e o<br />

compromisso que assumia na condição <strong>de</strong> hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> ciência, mas também d<strong>em</strong>onstram o<br />

exímio observa<strong>do</strong>r e analista da socieda<strong>de</strong> que o circundava.<br />

A intensa mobilida<strong>de</strong> da Seção Botânica é evi<strong>de</strong>nciada no Diário. Sua dinâmica<br />

pelo interior <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>de</strong>senrola-se folha após folha. Suas páginas dão conta das<br />

inumeráveis movimentações ocorridas no transcurso <strong><strong>do</strong>s</strong> povoa<strong><strong>do</strong>s</strong> e vilas. Ali também<br />

estão algumas transcrições <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos históricos encontra<strong><strong>do</strong>s</strong> nas localida<strong>de</strong>s,<br />

principalmente <strong><strong>do</strong>s</strong> livros das câmaras. Transcreve <strong>do</strong>cumentos com os quais entrava <strong>em</strong><br />

contato e que julgava importantes para a <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> e para a narrativa da viag<strong>em</strong>,<br />

como jornais, revistas, livros e <strong>do</strong>cumentos oficiais. Procurava os <strong>do</strong>cumentos escritos para<br />

que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> servir <strong>de</strong> contrapeso num meio sociocultural prepon<strong>de</strong>rant<strong>em</strong>ente iletra<strong>do</strong> e<br />

alicerça<strong>do</strong> na tradição oral. Por vezes, procura comparar da<strong><strong>do</strong>s</strong> coleta<strong><strong>do</strong>s</strong> nos arquivos com<br />

o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> alguma test<strong>em</strong>unha ocular <strong>do</strong> acontecimento que investigava.<br />

Estan<strong>do</strong> a pouco mais <strong>de</strong> seis meses no <strong>Ceará</strong>, Freire Al<strong>em</strong>ão arrisca-se a fazer uma<br />

análise <strong>do</strong> povo cearense, classifican<strong>do</strong>-o <strong>em</strong> duas categorias: a gente acaboclada, ou o<br />

povo, e a gente branca. Segun<strong>do</strong> ele, o povo cearense é primordialmente forma<strong>do</strong> pela raça<br />

cabocla 4 : “Pon<strong>do</strong> <strong>de</strong> parte alguns poucos pretos, e por consequência também alguns<br />

poucos mulatos, to<strong>do</strong> o povo <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> é <strong>de</strong> raça cabocla; mais ou menos mesclada<br />

<strong>de</strong> branco, e também <strong>de</strong> preto; mas <strong>em</strong> geral se conserva ainda b<strong>em</strong> o tipo<br />

americano.” (ALEMÃO. <strong>Notas</strong> sobre Fortaleza e Pacatuba. apud DAMASCENO e<br />

CUNHA, 1961: 210)<br />

Seu referencial teórico nessas observações é a hierarquia das raças, teoria<br />

recorrente no meio científico no qual atuava. Tais idéias tinham como ponto <strong>de</strong> partida a<br />

obra <strong>do</strong> naturalista al<strong>em</strong>ão Carl Von Martius, sintetizadas no seu texto “Como se <strong>de</strong>ve<br />

escrever a <strong>História</strong> <strong>do</strong> Brasil”. Essas i<strong>de</strong>ias eram também compartilhadas por Gonçalves<br />

Dias que, entre outras coisas, <strong>de</strong>fendia que a <strong>de</strong>cadência <strong><strong>do</strong>s</strong> índios não era motivada, e sim<br />

apenas acentuada pelo contato com os brancos. O poeta indianista, como pesquisa<strong>do</strong>r, não<br />

estava à frente das i<strong>de</strong>ias <strong>do</strong> seu t<strong>em</strong>po, apesar <strong>do</strong> interesse que d<strong>em</strong>onstrava pela<br />

população <strong>de</strong> índios, negros e sertanejos e seu lugar na formação <strong>do</strong> povo brasileiro<br />

4<br />

Conforme as <strong>de</strong>finições mais tradicionais, o caboclo, ou mameluco, v<strong>em</strong> da miscigenação da raça branca<br />

com a indígena, com pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong>ssa última.<br />

8

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!