A História Natural dos sertões do Ceará em "Notas de ... - anpuh
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Falar da água quan<strong>do</strong> se está fazen<strong>do</strong> estu<strong><strong>do</strong>s</strong> científicos sobre os aspectos naturais<br />
<strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> era mais que uma obrigação, era uma necessida<strong>de</strong>, afinal, esse era o b<strong>em</strong> mais<br />
precioso nessa terra, que sustentava as ativida<strong>de</strong>s agrícolas e pecuárias, ou seja, a economia<br />
da província. Portanto, nossos cientistas não se esquivariam <strong>de</strong> falar sobre a importância da<br />
água, da conservação e melhoramento <strong>de</strong> seus reservatórios naturais, das características<br />
<strong><strong>do</strong>s</strong> rios e lagos, buscan<strong>do</strong> meios para superar os probl<strong>em</strong>as causa<strong><strong>do</strong>s</strong> por sua escassez<br />
periódica. Mas para além <strong>de</strong>sses interesses naturais e econômicos, os científicos não<br />
<strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> anotar o aspecto da água que lhes era oferecida por on<strong>de</strong> passavam.<br />
O Diário <strong>de</strong> Al<strong>em</strong>ão é rechea<strong>do</strong> <strong>de</strong> comentários acerca da qualida<strong>de</strong> da água que ele<br />
tinha que consumir, muitos foram os infortúnios, inclusive físicos (intestinais), que as<br />
águas barrentas, leitosas e turvas lhes causaram.<br />
Quanto às secas, apesar <strong>de</strong> mais timidamente e menos freqüente, Al<strong>em</strong>ão lança<br />
também algumas conjecturas, cumprin<strong>do</strong> a responsabilida<strong>de</strong> e o papel científico que lhe<br />
cabia. Conforme suas análises,<br />
Esta província, pela benignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu clima, pela uberda<strong>de</strong> maravilhosa <strong>de</strong><br />
seu solo, angustia<strong>do</strong> pela t<strong>em</strong>peratura e umida<strong>de</strong> quase constantes, se não fôsse<br />
sujeita a êsse flagelo das sêcas, seria uma das mais preciosas <strong>do</strong> Brasil. É<br />
tradição que nos t<strong>em</strong>pos antigos as sêcas não eram tão freqüentes e tão<br />
<strong>de</strong>vasta<strong>do</strong>ras. É portanto digno <strong>de</strong> ser averigua<strong>do</strong>. Em outros t<strong>em</strong>pos havia<br />
menos povoação, havia proporção mais <strong>de</strong> pastos, <strong>em</strong> relação a criação, e por<br />
isso o mal não se fazia sentir com tanta fôrça. É conjectura minha. Também os<br />
invernos invariavelmente longos e abundantes são prejudiciais. (DAMASECNO<br />
e CUNHA, 1961:254.)<br />
Al<strong>em</strong>ão não responsabiliza o fenômeno natural das secas pelo atraso da província (e<br />
ele <strong>de</strong>ixa claro que acredita nessa noção <strong>de</strong> atraso <strong>de</strong> que o <strong>Ceará</strong> era (é) porta<strong>do</strong>r), mas a<br />
falta <strong>de</strong> providências humanas práticas para diminuir o impacto que a falta das chuvas<br />
causavam. Mesmo com algumas ressalvas, talvez por não ser sua especialida<strong>de</strong> e<br />
responsabilida<strong>de</strong>, ele ensaia dicas <strong>de</strong> meios que possam atenuar o probl<strong>em</strong>a. Segun<strong>do</strong> sua<br />
visão,<br />
Para r<strong>em</strong>ediar até certo ponto os efeitos da seca, era necessário fazer reservas<br />
tanto <strong>de</strong> águas (por meio <strong>de</strong> açu<strong>de</strong>s) como <strong>de</strong> forrag<strong>em</strong>, secan<strong>do</strong> a erva e<br />
guardan<strong>do</strong>-a <strong>em</strong> paióis, e <strong>em</strong> proporção conveniente, e como também <strong>de</strong><br />
s<strong>em</strong>entes alimentícias, como milho, arroz, feijão, e também farinha preparada, a<br />
não ser se po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> conservar os mandiocais. Tantos capitais que se aniquilam<br />
com uma seca bastavam talvez para preparar meios e os mo<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>de</strong> se fazer<strong>em</strong><br />
tais reservas. (DAMASECNO e CUNHA, 1961:254.)<br />
Outro aspecto natural que mereceu muita atenção da Comissão Explora<strong>do</strong>ra foi a<br />
vegetação <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>. Os estu<strong><strong>do</strong>s</strong> da vegetação <strong>do</strong> país eram essenciais para que o inventário<br />
das riquezas nacionais fosse feito e coloca<strong>do</strong> a disposição <strong>do</strong> engran<strong>de</strong>cimento da nação. A<br />
tarefa <strong>de</strong> classificação da flora brasileira era uma preocupação <strong>de</strong> longa data, todas as<br />
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