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A História Natural dos sertões do Ceará em "Notas de ... - anpuh

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com igualda<strong>de</strong> por toda ela.” (ALEMÃO, In: Trabalhos da Comissão Científica <strong>de</strong><br />

Exploração, 1862:313)<br />

‘Terra fértil e <strong>de</strong> bela vegetação’, esse reconhecimento <strong>de</strong> Al<strong>em</strong>ão é intrigante,<br />

afinal contradiz o i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> seca e miséria presente na imag<strong>em</strong> histórica que se tinha <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong> <strong>de</strong> então, mas entend<strong>em</strong>os que Al<strong>em</strong>ão, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver o que via, tinha to<strong><strong>do</strong>s</strong> os<br />

cuida<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>de</strong> apresentar uma realida<strong>de</strong> natural e cultural <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> com elogios e exaltações<br />

que justificass<strong>em</strong> a inserção <strong><strong>do</strong>s</strong> el<strong>em</strong>entos naturais, culturais e sociais da província na<br />

história valiosa, imponente, nobre e singular que estava sen<strong>do</strong> elaborada para o Brasil.<br />

Quan<strong>do</strong> chegou ao <strong>Ceará</strong>, <strong>em</strong> janeiro <strong>de</strong> 1859, iniciava-se na Província a quadra<br />

invernosa, um <strong><strong>do</strong>s</strong> motivos que impediram <strong>de</strong> imediato a viag<strong>em</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> cientistas,<br />

ocasionan<strong>do</strong> a permanência da Comissão por quase seis meses <strong>em</strong> Fortaleza, Segun<strong>do</strong><br />

Gonçalves Dias,<br />

As pessoas práticas <strong>do</strong> sertão, os vaqueanos como se diz na província,<br />

aconselhavam que se diferisse a jornada para mais tar<strong>de</strong>, (...) porque <strong>de</strong> maio<br />

<strong>em</strong> diante nos anos regulares é o t<strong>em</strong>po mais próprio <strong>de</strong> ali se <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r<strong>em</strong><br />

viagens d<strong>em</strong>oradas pelo sertão. (DIAS, 1862:14)<br />

Quase <strong>do</strong>is anos após a chegada ao <strong>Ceará</strong> Al<strong>em</strong>ão constata que o conselho que<br />

receberam <strong>de</strong> alguns cearenses <strong>em</strong> 1859 era mais que oportuno, viajan<strong>do</strong> pelos arre<strong>do</strong>res<br />

da vila <strong>de</strong> Canindé escreve <strong>em</strong> seu Diário:<br />

Diz<strong>em</strong> os Cearenses q` é um prazer viajar no sertão pelo inverno; e eu acho q` é<br />

um verda<strong>de</strong>iro inferno = são lamas, atoleiros, riachos e rios cheios = chuvas,<br />

trovoadas, moscas, mutucas, meruanhas mariposas, e não sei q`. mais = [...] Ate<br />

<strong>de</strong> agoas se fica mais mal servi<strong>do</strong> = o unico b<strong>em</strong> q` lhe vejo; é a verdura <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

campos, e o leite. Se no verão as casas são porcas, no inverno porquissimas.<br />

(ALEMÃO, folha 188:92) 5<br />

Esses relatos nos colocam diante <strong>de</strong> algumas questões. Se por um la<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong><br />

das chuvas era motivo <strong>de</strong> alegrias e prazeres para o cearense, não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser também<br />

momento causa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> infortúnios. Evi<strong>de</strong>nciamos nas palavras <strong>do</strong> cientista como a relação<br />

que o próprio povo <strong>do</strong> sertão estabelecia com a natureza era conflituosa, experimentada <strong>de</strong><br />

múltiplas maneiras, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as circunstâncias que se apresentavam. Para uns, o<br />

inverno dificultava as viagens, para outros, como diz Al<strong>em</strong>ão, era um prazer viajar no<br />

sertão pelo inverno. As palavras <strong>do</strong> botânico enunciam mais duas coisas: a qualida<strong>de</strong> das<br />

águas das quais era servi<strong>do</strong> e a falta <strong>de</strong> asseio que enxergava pelas fazendas <strong>do</strong> sertão.<br />

5 ALEMÃO, Francisco Freire. Diário <strong>de</strong> viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Francisco Freire Al<strong>em</strong>ão: 24 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1860 a 24 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 1861 – volta <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro para o <strong>Ceará</strong> até o retorno <strong>de</strong>finitivo ao Rio <strong>de</strong> Janeiro. Parte<br />

transcrita <strong>do</strong> original – 176pp, folha 188, p.92. Essa parte <strong>do</strong> Diário <strong>de</strong> Freire Al<strong>em</strong>ão ainda não se encontra<br />

publicada e não passou por nenhuma edição, resolv<strong>em</strong>os referenciá-la s<strong>em</strong> nenhuma revisão da escrita.<br />

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