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Da mesma forma, os soldados do 23º Batalhão de Caçadores participaram da “Semana Anti-Alcoolica”. Os militares também estiveram envolvidos em conflitos em torno da embriaguez. Era recorrente uma rivalidade entre os guardas cívicos e os soldados do 23ºBC que muitas vezes travaram confrontos no espaço público. Instituições pedagógicas como o Liceu, o Colégio Militar e as de caráter profissionalizante como a Escola de Aprendizes Artífices, a Sociedade Artística Beneficente e o Centro Artístico Cearense foram locais de conferência contra o alcoolismo. A intervenção antialcoólica nesses espaços corroborava com a proposta de formação dos futuros trabalhadores e profissionais na moral da sobriedade e abstinência. Em geral, as concepções eugenistas transmitidas nas conferências antialcoólicas destacavam o consumo alcoólico como uma prática nociva causadora das enfermidades físicas e mentais, da violência, da criminalidade, do ócio, além de comprometer a estrutura social: O ALCOOL É UM VENENO As bebidas alcoólicas intoxicam o organismo, principalmente o systema nervoso Levam o homem á doença, á deshonra, ao crime, ao suicídio, á loucura Evitae as bebidas alcoólicas em qualquer quantidade, mínima que seja, e em todos as occasiões Conservareis assim: A saúde do vosso organismo, valor do vosso trabalho, a felicidade do vosso lar, a grandeza da vossa PATRIA! 28 Este anúncio, amplamente divulgado durantes as campanhas, sintetiza as principais concepções do discurso antialcoólico. Interessante notar que não há referência ao termo alcoolismo nessa advertência, o que nos leva a concluir que as campanhas antialcoólicas foram, sobretudo, uma cruzada contra as bebidas e aos seus efeitos considerados negativos. A indicação do álcool como veneno não era metafórica, mas literal. A degenerescência e as conseqüências hereditárias, supostamente provocadas pelo álcool, tornavam o mesmo à causa geral de todos os malefícios sociais. É o que Foucault nomeia como “Laxismo Causal”, ou seja, quando se julga que algo seja a grande causa de todos os males possíveis 29 . Assim, mais do que uma doença, o alcoolismo, ou ainda o consumo alcoólico, era considerado a grande causa das doenças mentais e da desordem social. Seguindo essa lógica, combater o consumo de bebidas alcoólicas teria como conseqüência direta eliminar os grandes problemas sociais. Na medida em que o álcool 8
era um veneno, a única solução possível seria a abstinência total ao consumo de bebidas e a proibição de seu comércio. O objetivo das campanhas não era a cura, mas sim a prevenção. O público-alvo incluía sujeitos que não eram a rigor ébrios habituais, mas que potencialmente poderiam consumir bebidas alcoólicas. A todo o momento, o discurso antialcoólico evidenciava o corpo como lugar de intervenção e de produção. Como nos lembra Foucault 30 , com o advento da medicina social, o corpo tornou-se espaço de exercício da bio-política. No Brasil, as campanhas contra ao alcoolismo estavam inseridas num projeto político de purificação e aperfeiçoamento dos corpos. Nesse sentido, o alcoólatra, no plano discursivo, representava o avesso do trabalhador, pois contrariava os ideais de temperança e produtividade. Da mesma forma, poderíamos afirmar que havia uma preocupação com o corpo da pátria, daí a concepção corrente do alcoolismo como um mal social. No mês de outubro ano de 1930, a LBHM não realizou as semanas antialcoólicas já que passou a considerar o combate ao alcoolismo como um ponto “saturado” de suas campanhas, restando aos poderes públicos à adoção de medidas restritivas e proibitivas. No entanto, retoma no ano seguinte as campanhas antialcoólicas confiantes na adesão do governo Vargas a causa antialcoólica. No ano de 1931, ocorreu a dissolução do Serviço de Saneamento Rural no Brasil, sendo criado no Ceará o Serviço Sanitário do Estado. Acreditamos que tal fato tenha desarticulado o prosseguimento das semanas antialcoólicas em Fortaleza, tendo em vista que as mesmas findaram, em âmbito nacional, no ano de 1934. 31 Considerações finais Em suma, as campanhas antialcoólicas em Fortaleza eram destinadas a um público específico composto por trabalhadores, estudantes, merceeiros, policiais e detentos. O interesse fora maior pelo operariado, tendo em vista que a preocupação central dessas campanhas era assegurar o aperfeiçoamento da raça pelo trabalho e pela abstinência as bebidas alcoólicas. A meta da higiene mental era construir sujeitos com corpos saudáveis e purificados para o benefício da sociedade e da nação. O trabalho e a conduta moral eram prerrogativas fundamentais para a construção da pátria. Seja pela vertente circulista, eugenista, libertária, ou mesmo intergralista, o projeto de nação civilizada necessitava de trabalhadores produtivos, sadios e sóbrios, não havendo lugar para a embriaguez e para o ócio. Em suma, combater o alcoolismo em Fortaleza consistia em inserir a capital cearense nas questões nacionais em torno da raça, civilização e pátria. 9
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