A Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM) e as Semanas ... - anpuh

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moralistas e as tensões sociais de sua época. 12 Dessa forma, o termo alcoolismo era empregado de forma ampla para fazer referência ao consumo alcoólico popular como uma prática patológica e criminosa, fato esse que justificava uma intervenção higienista e moralizante por parte dos setores elitistas. As Semanas Antialcoólicas em Fortaleza O discurso contra ao alcoolismo em Fortaleza adquiriu maiores proporções no final da década de 20 e início de 30 quando ocorreram as semanas antialcoólicas promovidas pela Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM) que contou com o apoio dos setores médicos, do clero e das instituições trabalhistas e pedagógicas. A LBHM, fundada em 1922 na Capital Federal e reconhecida pelo Governo como instituição de utilidade pública em 1923, surgiu como uma proposta de reforma psiquiátrica, seguindo as diretrizes da higiene mental norte-americana. Em 1908, inaugurou-se nos Estados Unidos a primeira instituição de higiene mental destinada à profilaxia das doenças mentais. Essa reforma seguia os preceitos da teoria eugenista formalizada por Francis Galton, antropólogo inglês que defendia o recurso à ciência e a técnica com o intuito de evitar os fatores adversos ao aperfeiçoamento da raça humana. A crença na hereditariedade e a degenerescência como os dois grandes vetores de comprometimento da raça, motivou o surgimento de movimentos eugenistas na Europa, EUA e no Brasil. Schwarcz 13 e Costa 14 destacam que essas concepções eugenistas consistiam numa preocupação própria dos intelectuais brasileiros na passagem do século XIX para o XX, fato esse que repercutiu na orientação teórica das principais faculdades de Medicina e Direito do país. Além de seu fundador, o psiquiatra carioca Gustavo Riedel, a LBHM congregava outros psiquiatras de destaque como Henrique Roxo, Ernani Lopes, Afrânio Peixoto, Juliano Moreira que juntos objetivavam: [...] prevenir as doenças nervosas e mentaes, proteger e amparar no meio social os egressos dos manicômios, melhorar progressivamente os meios de assistir e tratar os doentes nervosos e mentaes e, finalmente realisar um programma de Hygiene Mental e Eugenetica no domínio das actividades individual, escolar, profissional e social [...] 15 Nesse sentido, o programa da LBHM incluía três grandes vetores de profilaxia: a educação infantil, a imigração e o alcoolismo. Com relação esse último, foram várias as atividades que ia desde conferências e publicações até a elaboração de projetos de lei e a organização de uma campanha nacional intitulada “Semana Antialcoólica”. 4
As semanas antialcoólicas consistiam basicamente em conferências proferidas por médicos, professores, autoridades policiais e religiosas sobre os malefícios do álcool, considerado como elemento nocivo e prejudicial ao organismo, à família e a sociedade. O objetivo dessas campanhas, portanto, era instruir e prevenir as camadas pobres da cidade em prol do aperfeiçoamento da raça 16 . No Brasil, essas campanhas ocorreram de forma concomitante em várias capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Santa Catarina, Recife, Natal e Fortaleza. Nas cidades da região sul e sudeste, a LBHM contava com delegados regionais responsáveis por promover o evento e após o mesmo, enviar um relatório a instituição descrevendo as atividades ocorridas, materiais de divulgação e notas da imprensa local. Nem todas as cidades contavam com delegados regionais para a realização da “Semana Anti-Alcoolica”. Provavelmente, a LBHM mantinha uma comunicação direta com as capitais que dispunham de psiquiatras e instituições filiadas ou parceiras a instituição carioca. Em Fortaleza, a “Semana Anti-alcoolica” mobilizou diferentes setores e instituições para a sua realização. A direção das campanhas ficou a cargo do Serviço de Saneamento Rural, órgão criado em 1921 a partir de um acordo entre o Governo Estadual e Federal com a finalidade de combater às epidemias e endemias, sobretudo, no interior do estado. 17 No tocante a “Semana Anti-Alcoolica” da LBHM o Serviço de Saneamento Rural, conforme Demosthenes Carvalho: [...] attendeu ao patriótico appello que lhe dirigiu a Liga Brasileira de Higiene Mental e cumpriu o imperativo do artigo 1610 do Regulamento porque se rege, o qual dispõe que se façam cumprir, em quaesquer regiões dos Estados onde existam organizados serviços de saude publica, os preceitos de higiene necessários à saúde do individuo e ao aperfeiçoamento da raça. 18 Essa adesão do Serviço de Saneamento Rural a uma campanha contra o alcoolismo pode ser compreendida como uma extensão da política de saneamento rural inaugurada por Belizário Penna 19 que considerava o alcoolismo como uma endemia conseqüente da falta de uma sistematização do trabalho agrícola e do ócio do homem do campo. Do sanitarismo a eugenia, o alcoolismo era considerado como um empecilho à consolidação de uma nação através do trabalho e da moral civilizada. Em Fortaleza, a realização da “Semana Antialcoólica” consistiu, além de uma solicitação da LBHM, numa oportunidade das elites locais exporem suas prédicas 5
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