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Etnomatemática: Uma proposta para ser pensada de como ensinar ...

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Vol. I N. 1 Jul – Dez / 2005 pp. 27-35<br />

ISSN 1809-3604<br />

<strong>Etnomatemática</strong>: <strong>Uma</strong> <strong>proposta</strong> <strong>para</strong> <strong>ser</strong> <strong>pensada</strong> <strong>de</strong> <strong>como</strong> <strong>ensinar</strong><br />

matemática no Ensino Fundamental II<br />

Evanilton Rios Alves ∗<br />

RESUMO: Este artigo tem o objetivo <strong>de</strong> propor um pensar reflexivo sobre a etnomatemática <strong>como</strong><br />

<strong>proposta</strong> pedagógica <strong>para</strong> o ensino <strong>de</strong> matemática nos cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores e tem<br />

<strong>como</strong> objeto <strong>de</strong> estudo a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marceneiro, trabalho este, que faz parte da minha pesquisa <strong>de</strong><br />

Mestrado. Segundo MONTEIRO (2001) em geral, o termo “<strong>Etnomatemática</strong>” está relacionado a<br />

conhecimentos presentes nas práticas cotidianas <strong>de</strong> diferentes grupos e que na maioria das vezes<br />

está aliado à solução <strong>de</strong> problemas, <strong>pensada</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> valores e saberes que lhe<br />

dão significados. É <strong>de</strong>ssa forma que proponho uma análise das situações em etnomatemática.<br />

PALAVRAS-CHAVE: <strong>Etnomatemática</strong> - Educação - Reflexão - Currículo.<br />

ABSTRACT: This article aims at proposing a brainstorm on etnomathematics as a pedagogical<br />

proposal to mathematics teaching in Teacher´s Background Courses and has as objective of study the<br />

carpenter activity, basis of my Master´s dis<strong>ser</strong>tation. Acording to MONTEIRO (2001) generally the<br />

term “Etnomathematics” is related to a kind of knowledge present in everyday praxis of different<br />

groups, which is often associated to the problems resolution and is thought within a set of values and<br />

knowledge that rend them specific meaning. It is in this way that I suggest a situational analysis in<br />

etnomathematics.<br />

KEY-WORDS: Etnomathematics - Education - Brainstorm - Sylabus<br />

<strong>Etnomatemática</strong>: Educação e Currículo<br />

Esta parte do artigo <strong>de</strong>screve o processo teórico e prático da<br />

<strong>Etnomatemática</strong>, sobre o ponto <strong>de</strong> vista da pesquisa. Também <strong>de</strong>screve a<br />

∗ Coor<strong>de</strong>nador e Professor do Curso Superior <strong>de</strong> Licenciatura Plena em Matemática-FIA. Especialista em<br />

Matemática Educacional e Matemática Avançada – USJT. Mestrado em educação Matemática (incompleto) –<br />

UNG. Mestrando em Educação Matemática (fase <strong>de</strong> dis<strong>ser</strong>tação) – PUCSP. Professor efetivo da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong><br />

Ensino <strong>de</strong> São Paulo.<br />

1


<strong>Etnomatemática</strong> sobre o olhar da educação 1 , principalmente do currículo 2 informal e<br />

formal.<br />

Iremos tratar do assunto <strong>de</strong>ntro do processo educacional e<br />

principalmente sob o olhar da Educação Matemática.<br />

As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas por grupos sociais, aqui tratadas ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

marceneiro, têm <strong>como</strong> <strong>de</strong>staque a importância do currículo escolar perfazendo a<br />

dialética entre conhecimento produzido no currículo formal e o currículo informal, já<br />

que estas ativida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>rão contribuir muito <strong>para</strong> o enriquecimento do<br />

conhecimento matemático e valorizar a contextualização da matemática sobre o<br />

conhecimento escolar.<br />

A etnomatemática <strong>para</strong> Ubiratan D`Ambrosio tem a seguinte <strong>proposta</strong>:<br />

A utilização do cotidiano das compras <strong>para</strong> <strong>ensinar</strong> matemática revela<br />

práticas apreendidas fora do ambiente escolar, uma verda<strong>de</strong>ira<br />

etnomatemática do comércio. Um importante componente da<br />

etnomatemática é possibilitar uma visão crítica da realida<strong>de</strong>, utilizando<br />

instrumentos <strong>de</strong> natureza matemática. Análise com<strong>para</strong>tiva <strong>de</strong> preços, <strong>de</strong><br />

contas, <strong>de</strong> orçamento, proporciona excelente material pedagógico<br />

(D`AMBROSIO. 2001, p.23).<br />

Enten<strong>de</strong>mos, conforme colocado por Ubiratan D`Ambrosio, que o estudo<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s fora da sala <strong>de</strong> aula, proporciona uma construção por parte do<br />

educando, do conhecimento prático, mas que não per<strong>de</strong> o caráter acadêmico do<br />

ensino da Matemática.<br />

seguinte <strong>proposta</strong>:<br />

A etnomatemática, <strong>para</strong> D`Ambrosio, no que se refere à educação tem a<br />

A <strong>proposta</strong> pedagógica da etnomatemática é fazer da matemática algo vivo,<br />

lidando com situações reais no tempo [agora] e no espaço [aqui]. E, através<br />

da crítica, questionar o aqui e agora. Ao fazer isso, mergulhamos nas raízes<br />

culturais e praticamos dinâmicas culturais. Estamos, efetivamente,<br />

reconhecendo na educação a importância das várias culturas e tradições na<br />

formação <strong>de</strong> uma nova civilização, transcultural e transdisciplinar<br />

(D`AMBROSIO, 2001, p.47).<br />

Da forma <strong>de</strong>scrita acima, propomo-nos a <strong>de</strong>senvolver uma educação<br />

presente e que tenha <strong>como</strong> <strong>proposta</strong> também o futuro. Não po<strong>de</strong>mos obter tal<br />

educação sem um olhar amplo, transdisciplinar na busca do todo. A Matemática<br />

1 Educação <strong>de</strong>fendida <strong>como</strong> uma estratégia da socieda<strong>de</strong> <strong>para</strong> facilitar que cada indivíduo atinja o seu potencial e<br />

<strong>para</strong> estimular cada indivíduo a colaborar com outros em ações comuns na busca do bem comum. Ubiratan<br />

D`Ambrosio. Educação Matemática: Da Teoria à Prática. Campinas, SP. Papirus, 4ª edição, 1996, p.68.<br />

2 Currículo é a estratégia <strong>para</strong> a ação educativa. Aqui o currículo <strong>de</strong>finido por Ubiratan D`Ambrosio, assim <strong>como</strong><br />

o taylorismo estabelece um estilo <strong>de</strong> produção e é uma estratégia <strong>para</strong> executar essa produção. Ubiratan<br />

D`Ambrosio. Educação Matemática: Da Teoria à Prática. Campinas, SP. Papirus, 4ª edição, 1996, p.68.<br />

2


presente nas profissões <strong>de</strong> grupos sociais po<strong>de</strong> nos remeter a uma educação<br />

contextualizada enriquecida <strong>de</strong> aspectos interessantes, motivadas por razões em<br />

que o homem está in<strong>ser</strong>ido no processo.<br />

Metodologia da Pesquisa<br />

estudo <strong>de</strong> caso.<br />

O trabalho correspon<strong>de</strong> a uma pesquisa qualitativa com enfoque no<br />

Segundo ANDRÉ (1986), os estudos <strong>de</strong> casos buscam a <strong>de</strong>scoberta,<br />

levando em conta elementos que po<strong>de</strong>m emergir <strong>como</strong> importantes durante o<br />

estudo. A compreensão do objeto se efetua a partir dos dados e em função <strong>de</strong>les.<br />

Os estudos <strong>de</strong> caso enfatizam “a interpretação em contexto” e só é possível se for<br />

levado em conta o contexto no qual este se in<strong>ser</strong>e. Para o leitor é importante que ele<br />

indague "O que eu posso (ou não posso) aplicar <strong>de</strong>sse caso <strong>para</strong> a minha<br />

situação?”. Para tanto, o leitor <strong>de</strong>ve fazer suas generalizações naturalísticas.<br />

A pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida por meio <strong>de</strong> encontros no local <strong>de</strong> trabalho e<br />

por meio <strong>de</strong> entrevistas pessoal/formal/estruturada, que segundo PÁDUA (2000) é<br />

um esquema <strong>de</strong> entrevista estruturada (padronizada), quando o entrevistador usa<br />

um esquema <strong>de</strong> questões sobre um <strong>de</strong>terminado tema, a partir <strong>de</strong> um roteiro<br />

(pauta), previamente pre<strong>para</strong>do.<br />

No total foram realizadas 06(seis) entrevistas com marceneiros por meio<br />

<strong>de</strong> gravações e <strong>de</strong>pois reproduzidas pelo pesquisador.<br />

Segundo PÁDUA (2000) as entrevistas constituem uma técnica alternativa<br />

<strong>para</strong> se coletar dados não documentados, sobre um <strong>de</strong>terminado tema.<br />

Embora PÁDUA (2000) cite que a entrevista possa <strong>ser</strong> limitada, concordo<br />

com o autor quando coloca a entrevista <strong>como</strong> um dos procedimentos mais usados<br />

em pesquisa <strong>de</strong> campo, pois possibilita <strong>ser</strong> utilizado por qualquer segmento da<br />

população, inclusive analfabeto, o que em parte e <strong>de</strong> certa forma encaixa com o<br />

grupo social pesquisado, pois posso <strong>de</strong><strong>para</strong>r com pessoas que po<strong>de</strong>rão sentir-se<br />

<strong>de</strong>sconfortáveis <strong>para</strong> respon<strong>de</strong>r as questões por escrito.<br />

Roteiro <strong>de</strong> Perguntas <strong>para</strong> entrevista e objetivo:<br />

P1- Qual a sua escolarida<strong>de</strong>?<br />

Relacionar o grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> com a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marceneiro.<br />

P2- Desenvolveu outras ativida<strong>de</strong>s antes <strong>de</strong> se tornar marceneiro?<br />

Saber se existia uma relação das ativida<strong>de</strong>s anteriores com a <strong>de</strong> marceneiro.<br />

3


P3- Qual foi o motivo da escolha pela ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marceneiro?<br />

Saber se existia a priori uma i<strong>de</strong>ntificação pela ativida<strong>de</strong> ou se era meramente<br />

por acaso, parte financeira ou vocação.<br />

P4- Há quanto tempo <strong>de</strong>senvolve esse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>?<br />

Saber se existia uma relação tempo <strong>de</strong> trabalho (experiência) e o grau <strong>de</strong><br />

conhecimento matemático.<br />

P5- Que tipo <strong>de</strong> produtos você <strong>de</strong>senvolve?<br />

Estávamos interessados na varieda<strong>de</strong> e sofisticação do produto.<br />

P6- Qual ou quais conteúdos <strong>de</strong> matemática você mais utiliza <strong>para</strong> <strong>de</strong>senvolver a<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marceneiro?<br />

I<strong>de</strong>ntificação das normas formais <strong>de</strong> conteúdo do conteúdo com a prática.<br />

P7- Quais <strong>de</strong>sses conhecimentos você apren<strong>de</strong>u na escola?<br />

Saber se o marceneiro fazia uma relação <strong>de</strong>sses conteúdos com aquele<br />

aprendido na escola.<br />

P8- Até on<strong>de</strong> o conhecimento escolar (matemático - Ensino Fundamental/Médio),<br />

influenciou ou influencia a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marceneiro?<br />

Será que a escola está fazendo o papel dispensável <strong>para</strong> a socieda<strong>de</strong> do<br />

conhecimento <strong>para</strong> a prática <strong>de</strong> certas ativida<strong>de</strong>s?<br />

P9- O que você po<strong>de</strong> dizer sobre sua aprendizagem <strong>de</strong> matemática enquanto<br />

freqüentou a escola?<br />

Até que ponto a matemática <strong>de</strong>senvolvida na escola teve participação na<br />

escolha da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marceneiro.<br />

P10- Descreva os passos <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marceneiro do primeiro contato com o<br />

cliente até a instalação do produto.<br />

Importante: Forneça, se possível à cópia do projeto, orçamento etc.<br />

Que o marceneiro fosse <strong>de</strong>screver o processo com um todo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> das<br />

questões <strong>de</strong> Marketing pessoal perfazendo todo o processo envolvendo a<br />

matemática. Com<strong>para</strong>mos os conhecimentos matemáticos colocados pelos<br />

marceneiros e aqueles realmente existentes.<br />

Alguns resultados foram os seguintes:<br />

P1<br />

. Ensino Fundamental I: Completo: 1<br />

. Ensino Fundamental II Completo: 1<br />

. Ensino Médio Incompleto: 1 Completo: 1<br />

4


. Ensino Superior Incompleto: 1 Completo: 1<br />

P2<br />

. Metalúrgico<br />

. Sapateiro e Fotógrafo<br />

. Mexer com mesa <strong>de</strong> bilhar, sempre ligado a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marceneiro.<br />

. Trabalhei em corretora <strong>de</strong> valores.<br />

.Trabalhando <strong>como</strong> promoter e Marketing.<br />

. Lavrador e balconista.<br />

P3<br />

. Foi necessida<strong>de</strong> e por i<strong>de</strong>ntificação pelo trabalho<br />

. Foi uma coisa mais ou menos necessária, estava em São Paulo e aprendi essa<br />

profissão.<br />

. O motivo da escolha foi sangue, meu pai é marceneiro, mas na época não queria<br />

<strong>ser</strong> marceneiro. Apareceu a oportunida<strong>de</strong>, meu pai se <strong>de</strong>sfez <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>, eu<br />

entrei nesse meio e estou até hoje.<br />

. Já era ramo da família.<br />

. Primeiro começou <strong>como</strong> hobbe, <strong>de</strong>pois fui me apaixonando pela profissão e estou<br />

até hoje.<br />

. Tenho quatro anos no ramo.<br />

. Já tinha parentesco no meio e me agradou a profissão.<br />

P4<br />

. Entre 10 anos e 15 anos: 2<br />

. Superior a 15 anos: 3<br />

. Entre 2 anos e 5 anos: 1<br />

P5<br />

. Armário embutido, gabinete <strong>para</strong> banheiro, cozinha planejado. Sendo que dos<br />

itens, a cozinha é a mais procurada.<br />

. Cozinhas programadas, montagem <strong>de</strong> lojas.<br />

. Tudo que for <strong>para</strong> uma casa com ma<strong>de</strong>ira: Gabinete, sala, cozinha, banheiro,<br />

dormitório.<br />

. Móveis <strong>para</strong> residência, comércio, móveis finos em geral.<br />

. Móveis sob medida, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> armário <strong>de</strong> cozinha, dormitório, estantes, etc.<br />

. Armários embutidos <strong>de</strong> quarto, cozinhas planejadas, banheiros planejados, home<br />

theather, home office . Toda a linha sob medida.<br />

P6<br />

5


. O metro linear, metro quadrado, cúbico, ângulo, soma, multiplicação, divisão,<br />

Teorema <strong>de</strong> Pitágoras, trigonometria no triângulo retângulo e matemática financeira.<br />

. A minha matemática é mais ou menos simples, uso medida linear, profundida<strong>de</strong>,<br />

altura, largura.Tiramos a medida <strong>de</strong> um quarto, uma sala, divi<strong>de</strong> pra achar as<br />

medidas dos móveis. É isso, matemática simples.<br />

. O que mais usamos é a multiplicação, metro quadrado, metro linear, metro cúbico,<br />

usa quase tudo <strong>de</strong> matemática, sem saber direito, mas usa.<br />

. Uso mais o metro linear, metro cúbico, as quatro operações básicas, matemática<br />

simples assim.<br />

. Uso bastante metro quadrado, metro cúbico, financeiro – porcentagem.<br />

. As quatro operações básicas: mais, menos, vezes e dividir.<br />

P7<br />

. Soma, multiplicação, divisão, Teorema <strong>de</strong> Pitágoras e porcentagem.<br />

. Sobre medida, aprendi no curso <strong>de</strong> mecânica, é muito útil até hoje, apesar <strong>de</strong> não<br />

exercer a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> torneiro mecânico.<br />

. Acho que muita coisa apren<strong>de</strong>. Quase tudo, a gente apren<strong>de</strong> na escola, mas não<br />

sabe no que vai <strong>ser</strong> usada.<br />

. Todos esses daí.<br />

. Aprendi todos esses conhecimentos.<br />

. Foram as quatro mesmo, que utilizo bastante hoje.<br />

P8<br />

. Acredito que boa parte do que eu vi aprendi na escola, o resto foi na prática.<br />

. Com toda sincerida<strong>de</strong>, sem o metro, sem essas medidas não tem <strong>como</strong> trabalhar.<br />

Então é fundamental conhecer essas medidas .<br />

. É, não influenciou a eu <strong>ser</strong> marceneiro, não pensava em usar a matemática no que<br />

estou fazendo hoje.<br />

. Nenhuma influencia.<br />

. Influencia bastante, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo até o final do projeto. Execução também.<br />

. É muito necessário apren<strong>de</strong>r bem na escola, a matemática por que em marcenaria<br />

usa muito.<br />

P9<br />

. Foi teórica, com muitos exercícios e faltou trabalhar na prática, no dia a dia, com<br />

exemplos do que a pessoa costuma usar hoje.<br />

6


. Eu não gostava <strong>de</strong> matemática. Eu tinha dificulda<strong>de</strong> <strong>para</strong> ir a escola que era na<br />

fazenda e andava bastante, mas hoje é muito útil pra mim apesar <strong>de</strong> que eu<br />

conheço pouco <strong>de</strong> matemática – medida simples que o marceneiro usa.<br />

. A minha aprendizagem foi boa, eu gostei. Hoje vejo meu filho, o pessoal que<br />

trabalha comigo, não tem uma aprendizagem boa.<br />

. Até um tempo foi boa, <strong>de</strong>pois foi muito ruim. Eu estudava num colégio particular,<br />

<strong>de</strong>pois, passei <strong>para</strong> um colégio do Estado, muito ruim, tanto é que não aprendi muita<br />

coisa mais.<br />

. Enquanto freqüentei a escola não teve muito valor o que aprendi sobre<br />

matemática. Hoje dou muito valor.<br />

. Foi um bom aprendizado, no ano em que estu<strong>de</strong>i, ensinavam muito bem.<br />

P10<br />

. Em primeiro lugar o cliente nos procura, eu tiro as medidas, vejo o material que ele<br />

precisa, passo o preço, prazo <strong>de</strong> entrega. Aprovado, confecciono o armário ou<br />

gabinete, levo e faço a montagem no local do mesmo.<br />

. Às vezes, o cliente nos procura e às vezes é o contrário a gente passa a procurar<br />

o cliente. Tiramos as medidas, vemos o que o cliente quer, trazemos <strong>para</strong> a oficina,<br />

fazemos a divisão do quarto, vemos qual o acabamento que o cliente quer.<br />

. O primeiro contato é por telefone ou por indicação. A gente vai lá, tira as medidas,<br />

vê <strong>de</strong>talhes, se for o caso faz esboço na hora, se não a gente vem, faz um <strong>de</strong>senho<br />

melhor, leva apresenta <strong>para</strong> o cliente, ele aprovando, dá um prazo, tenta <strong>ser</strong> rigoroso<br />

nesse prazo na entrega. O cliente gostando, vem mais cliente e assim vai indo a<br />

marcenaria.<br />

. Primeiro vem o cliente, vê o que precisa, me passa, vou tirar as medidas faço um<br />

projeto, vejo se ele aprova, passo o orçamento. Depois <strong>de</strong> aprovado, confecciono o<br />

móvel.<br />

. Geralmente vamos até à casa do cliente. Nós já temos alguns clientes na praça,<br />

são empresas que contratam os nossos <strong>ser</strong>viços, fazemos um orçamento, vamos<br />

até o local, tiramos a medida do espaço, que nós chamamos <strong>de</strong> medida cheia.<br />

Depois fazemos o projeto, <strong>de</strong>senho o <strong>de</strong>sconto das medidas.<br />

. Geralmente eles entram em contato, por meio <strong>de</strong> indicação, vamos até o cliente,<br />

marcando horário, tiramos as primeiras medidas <strong>para</strong> o orçamento.Apresentamos o<br />

projeto <strong>para</strong> o cliente e assim fechando o <strong>ser</strong>viço, tiramos uma outra medição <strong>para</strong><br />

execução.<br />

7


Análise a priori<br />

De forma geral, não foi i<strong>de</strong>ntificado com precisão uma relação clara e<br />

consi<strong>de</strong>rável entre a escolarida<strong>de</strong> e a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marceneiro, pois muita coisa ele<br />

apren<strong>de</strong> na prática. Não fizeram cursos <strong>de</strong> marcenaria e, no entanto, <strong>de</strong>sempenham<br />

a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma profissional e sofisticada. Também o tempo <strong>de</strong> experiência não<br />

faz do marceneiro um conhecedor relevante da matemática e não lembram da<br />

matemática <strong>de</strong>senvolvida na escola.<br />

Acreditamos que o nome formal e científico que os conteúdos da<br />

matemática trazem, não fazem muita diferença <strong>para</strong> realizar a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

marceneiro, pois mesmo trabalhando com parte consi<strong>de</strong>rável da matemática, até<br />

mesmo a matemática escolar, basicamente o marceneiro necessita das quatro<br />

operações.<br />

Trabalham com muita matemática, mas não têm conhecimento<br />

matemático <strong>para</strong> i<strong>de</strong>ntificar, embora realizem o trabalho tendo sempre um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

metro linear, metro quadrado, metro cúbico, espaço, forma, profundida<strong>de</strong>,<br />

semelhança, perspectiva, ângulo, parte da trigonometria, etc.<br />

Aliado a tudo isso, o marceneiro também <strong>de</strong>senvolve e trabalha com a<br />

matemática financeira, principalmente no que diz respeito à porcentagem, <strong>de</strong>sconto,<br />

prestações, dívida, crédito, ou seja, toda a parte mercadológica do negócio.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais:<br />

Acreditamos que a escola <strong>de</strong>ve fazer e <strong>de</strong>senvolver projetos que melhor<br />

aproveitem o conhecimento matemático <strong>de</strong> grupos sociais, <strong>como</strong> é o caso da<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marceneiro. Nosso objetivo é promover maior interesse ao aluno pela<br />

matemática, fazendo uma relação da matemática <strong>de</strong>senvolvida na escola (a<br />

matemática acadêmica) com a matemática prática dos grupos sociais.<br />

<strong>Uma</strong> ativida<strong>de</strong> muito interessante e rica em conhecimento matemático<br />

po<strong>de</strong>rá contribuir na formação dos indivíduos, pois irão relacionar a matemática<br />

formal com a informal.Também se torna uma ativida<strong>de</strong> prazerosa <strong>para</strong> o aluno,<br />

tendo em vista a prática <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> sobre um produto presente em todos os lares.<br />

Esta pesquisa vai além do objeto pesquisado, ou seja, ultrapassa os<br />

limites da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marceneiro.<br />

Estamos interessados em ultrapassar barreiras e, principalmente, em<br />

investir num processo educacional da matemática que possa contribuir e trazer <strong>para</strong><br />

a sala <strong>de</strong> aula uma matemática concreta, on<strong>de</strong> favoreça uma integração entre a<br />

8


matemática acadêmica (formal) e a matemática das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> grupos sociais (a<br />

matemática informal).<br />

Não queremos apagar e não é nossa intenção transformar o ensino<br />

científico num processo meramente concreto.<br />

Para tanto, <strong>de</strong>vem <strong>ser</strong> introduzidas <strong>de</strong> alguma forma na formação do<br />

professor, ativida<strong>de</strong>s com variadas estratégias e métodos, <strong>para</strong> que ele crie o<br />

hábito e se sinta seguro no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>.<br />

Referências Bibliográficas<br />

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E.D. Pesquisa em educação: abordagens<br />

qualitativas. - São Paulo: EPU, 1986.<br />

D`AMBROSIO, U. Educação Matemática: Da teoria à prática. – Campinas, SP:<br />

Papyrus, 4ª ed., 1996 – (Coleção Perspectivas em Educação Matemática).<br />

___________. <strong>Etnomatemática</strong> – elo entre as tradições e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. – Belo<br />

Horizonte: Autêntica, 2001. 11p. (Coleção em Educação Matemática, 1).<br />

MONTEIRO, Alexandrina; JR. Geraldo Pompeu. A matemática e os temas<br />

transversais. – São Paulo. Mo<strong>de</strong>rna, 2001.<br />

PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini <strong>de</strong>. Metodologia da pesquisa: Abordagem<br />

teórico-prática. - 6ª ed. Ver. E ampl.-Campinas, SP: Papirus. 2000.<br />

9

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