"Veritas" - nº2 - Novembro 2011 - Paróquia de Carcavelos
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SUMÁRIO<br />
2<br />
16 A 19<br />
Veritas<br />
04 A 09<br />
10<br />
Ficha Técnica<br />
03<br />
CARTA DO PRIOR<br />
04 / 09<br />
TEMA DE FUNDO<br />
10<br />
OPINIÃO<br />
11<br />
SENTIR DO PASTOR<br />
12<br />
OPINIÃO<br />
13<br />
VIDAS COM HISTÓRIA<br />
14 / 15<br />
CRITÉRIOS...<br />
16 / 19<br />
À CONVERSA COM...<br />
20 / 27<br />
IGREJA NO MUNDO<br />
20 A 27 PROPRIEDADE : IGREJA PAROQUIAL<br />
DE CARCAVELOS<br />
ADMINISTRAÇÃO, COMPOSIÇÃO E REDACÇÃO:<br />
PRAÇA DA REPÚBLICA, 2775-624 CARCAVELOS<br />
DIRECTOR: PE. ANTÓNIO FERNANDO P. TEIXEIRA<br />
IMPRESSÃO: LISGRÁFICA<br />
DISTRIBUIÇÃO: GRATUITA<br />
TIRAGEM: 5OOO EXEMPLARES<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
Caríssimos<br />
Paroquianos<br />
Oferecemo-vos hoje o segundo número do nosso Jornal<br />
“VERITAS”. Após a enorme receptivida<strong>de</strong> do primeiro, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> tantas e diversificadas formas <strong>de</strong> incentivo, <strong>de</strong>cidimos<br />
avançar para a continuação <strong>de</strong>sta forma <strong>de</strong><br />
evangelização...<br />
Este número do “VERITAS” chegar-vos-á às mãos já muito<br />
perto do Tempo do Advento. Um Tempo novo, um Tempo <strong>de</strong><br />
Graça, um Tempo <strong>de</strong> apelo, um Tempo <strong>de</strong> recomeço, um<br />
Tempo <strong>de</strong> libertação...<br />
Nesse sentido, o Tema <strong>de</strong> Fundo <strong>de</strong>ste nosso Jornal será,<br />
precisamente, o Tempo do Advento neste ano <strong>de</strong> <strong>2011</strong>,<br />
oportunida<strong>de</strong> única e irrepetível para nos aproximarmos<br />
mais <strong>de</strong> Deus, no seio e no coração da Sua Igreja.<br />
Como veremos, dizer Advento é dizer “espera”, é dizer “escuta”,<br />
é dizer “<strong>de</strong>sejo”, é dizer “alegria”, porque para nós um<br />
Menino nos será dado, um Filho nascerá para nós.<br />
Advento, será esse Tempo favorável <strong>de</strong> quatro semanas<br />
que nos <strong>de</strong>verão ajudar a preparar intensa e verda<strong>de</strong>iramente<br />
o Nascimento <strong>de</strong> Jesus Salvador.<br />
Quatro semanas on<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>veríamos <strong>de</strong>cidir a preparar<br />
profundamente, com autenticida<strong>de</strong>, os corações, a fim <strong>de</strong><br />
que o Natal que celebraremos tenha nas nossas casas e,<br />
particularmente, nas nossas vidas, um sabor <strong>de</strong> paz e <strong>de</strong><br />
verda<strong>de</strong>, as marcas da simplicida<strong>de</strong> e da partilha, da generosida<strong>de</strong><br />
e da beleza. Como naquele Natal primeiro que<br />
tanto nos fascina e nos leva, mais <strong>de</strong> dois mil anos <strong>de</strong>pois,<br />
a evocá-lo e a celebrá-lo.<br />
A vida agitada que todos vivemos, a crise, económica, financeira,<br />
<strong>de</strong> valores e objectivos credíveis, <strong>de</strong> horizontes<br />
válidos, serão ameaça permanente à vivência <strong>de</strong>ste Tempo<br />
único que é o Advento!<br />
Se não estivermos atentos, <strong>de</strong>cididos à sua vivência profunda,<br />
se nos <strong>de</strong>ixarmos distrair pelas “luzes” tantas que<br />
nos vão surgir, acabaremos por chegar ao Natal verda<strong>de</strong>iramente<br />
vazios do essencial!<br />
Daí, queridos Paroquianos, que <strong>de</strong>ste o primeiro minuto nos<br />
<strong>de</strong>vamos <strong>de</strong>ixar envolver por esse tempo novo que vem a<br />
nós; nos <strong>de</strong>vamos <strong>de</strong>ixar interpelar pelos <strong>de</strong>safios que a<br />
própria Palavra <strong>de</strong> Deus nos há-<strong>de</strong> dirigir, no sentido <strong>de</strong><br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02<br />
CARTA DO PRIOR<br />
preparar os corações para a vinda do Salvador.<br />
Desejo a todos os Paroquianos <strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong> essa vonta<strong>de</strong><br />
e esse <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> viverem um profundo e autêntico Advento.<br />
Desejo a cada família, a cada coração, essa predisposição<br />
para uma preparação digna a fim <strong>de</strong> que em cada um se dê<br />
esse encontro maravilhoso entre cada um <strong>de</strong> nós e o Menino<br />
Deus. Desejo que em cada um <strong>de</strong> nós surja, ou ressurja,<br />
essa vonta<strong>de</strong> profunda <strong>de</strong>, como advertirá S. João<br />
Baptista, preparar os caminhos do Senhor...<br />
A todos e a cada um saúdo com profunda amiza<strong>de</strong> e <strong>de</strong>dicação.<br />
O sempre vosso<br />
Pe. António Fernando P. Teixeira<br />
Oferecemo-vos hoje o segundo número do nosso Jornal “VERITAS”. Após a enorme receptivida<strong>de</strong> do primeiro,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantas e diversificadas formas <strong>de</strong> incentivo, <strong>de</strong>cidimos avançar para a continuação <strong>de</strong>sta forma <strong>de</strong> evangelização...<br />
Este número do “VERITAS” chegar-vos-á às mãos já muito perto do Tempo do Advento. Um Tempo novo, um<br />
Tempo <strong>de</strong> Graça, um Tempo <strong>de</strong> apelo, um Tempo <strong>de</strong> recomeço, um Tempo <strong>de</strong> libertação...<br />
Veritas<br />
3
TEMA DE FUNDO<br />
4<br />
Veritas<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
Des<strong>de</strong> essa Noite que Ele permanece<br />
connosco. No meio <strong>de</strong> nós. Arriscando a<br />
não ser reconhecido. Mas, mesmo sem<br />
O vermos, Ele está. Bate à porta mas<br />
nada pe<strong>de</strong>, pois veio apenas e somente<br />
para dar...<br />
Des<strong>de</strong> essa Noite em que o Céu se uniu<br />
à Terra, Ele apela ao nosso acolhimento.<br />
Permanentemente. Discretamente. Humil<strong>de</strong>mente.<br />
Se abrirmos, se O recebermos,<br />
se nos <strong>de</strong>ixarmos seduzir e<br />
maravilhar pela Sua Pessoa, se aceitarmos<br />
o Seu Evangelho, se nos <strong>de</strong>ixarmos<br />
<strong>de</strong>safiar, inquietar e apaixonar pelo<br />
Reino que anuncia e incarna em Si<br />
mesmo, então o Seu Nascimento realizase<br />
<strong>de</strong>finitivamente em nós e neste nosso<br />
mundo.<br />
Se nesta Noite <strong>de</strong> Natal acolhermos o<br />
“Tempo do Advento”<br />
Des<strong>de</strong> aquela Noite em que os Anjos cantaram, Ele entrega-Se total<br />
e gratuitamente para nos tornar felizes para sempre.<br />
Menino recém-nascido, então é possível!<br />
É possível sermos homens novos, construtores<br />
<strong>de</strong> uma nova humanida<strong>de</strong>, semeadores<br />
<strong>de</strong> uma outra civilização.<br />
Nasceu há cerca <strong>de</strong> dois mil anos.<br />
Multidões <strong>de</strong> gerações partiram já para a<br />
eternida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que Esse Menino nasceu,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que Esse Filho nos foi dado.<br />
Imensas estações floriram e produziram<br />
frutos em abundância. E também já<br />
houve muita fome <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que Esse Deus<br />
Se fez Homem!<br />
Mais <strong>de</strong> duas mil voltas da terra à volta<br />
do sol.<br />
Mais <strong>de</strong> dois mil anos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o Menino<br />
<strong>de</strong> Belém abriu os braços para libertar<br />
o mundo inteiro das garras da<br />
morte! Vinte séculos – já ultrapassados<br />
– <strong>de</strong> caminhada da humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que o Filho <strong>de</strong> Maria Se manifestou<br />
como Filho <strong>de</strong> Deus!<br />
Milhões <strong>de</strong> homens e <strong>de</strong> mulheres atravessaram<br />
os seus abismos <strong>de</strong> angústia e<br />
<strong>de</strong> medo e recolheram as suas colheitas<br />
em festa tendo por viático das suas vidas<br />
o seu amor a Jesus Salvador.<br />
Veio, já há muito tempo. Veio já há muito<br />
o Menino da Noite <strong>de</strong> Natal! E <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
essa Noite, Cristo Jesus apresenta-Se<br />
às nossas portas batendo discretamente<br />
para ser acolhido nas nossas casas e<br />
permanecer connosco como um <strong>de</strong> nós!<br />
Des<strong>de</strong> essa Noite, on<strong>de</strong> quer que as<br />
pessoas se encontrem, Ele apressa-Se<br />
a ir ao seu encontro para dar a alegre notícia<br />
da ternura <strong>de</strong> Deus aos que estão<br />
dispostos para O escutar e oferecer a<br />
Sua palavra <strong>de</strong> reconforto aos fatigados<br />
TEMA DE FUNDO<br />
em busca <strong>de</strong> coragem.<br />
OS CONVITES DO TEMPO<br />
DO ADVENTO<br />
1. LEVANTAR-SE!<br />
Levantar-se!<br />
É quando se está <strong>de</strong>itado, adormecido,<br />
perdido, em sonhos, para fugir e escapar<br />
à realida<strong>de</strong>, tantas vezes agravada pela<br />
doença, pela dor, pelo sofrimento e o<br />
“não-sentido”! Erguer-se, levantar-se,<br />
porque se permanece apático, porque<br />
<strong>de</strong>siludido <strong>de</strong> tudo e <strong>de</strong> todos. Estendido,<br />
em vez <strong>de</strong> altivamente <strong>de</strong> pé, como convém<br />
a um filho e a uma filha <strong>de</strong> Deus.<br />
Levantar-se!<br />
O primeiro convite <strong>de</strong>ste Tempo do Advento,<br />
que consiste em <strong>de</strong>ixar-se acordar<br />
por múltiplos apelos <strong>de</strong> pessoas, <strong>de</strong> sen-<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
5
TEMA DE FUNDO<br />
timentos; abrir os olhos com coragem e<br />
ousadia, realismo e confiança, reencontrar<br />
em si as fontes escondidas <strong>de</strong> energia<br />
e retomar a esperança na vida,<br />
confiar nas pessoas, maravilhar-se como<br />
na manhã <strong>de</strong> um lindo e novo dia,<br />
quando a luz expulsa a noite com os<br />
seus fantasmas!<br />
“De pé! Levanta-te! Põe-te a caminho!<br />
Eu, o teu Deus, que venho ao teu encontro,<br />
para te dar vigor e vida, força e<br />
renovada esperança <strong>de</strong> um coração<br />
cheio e feliz”!<br />
Mas, olhamos o mundo, o homem, e<br />
que percebemos, que vislumbramos?<br />
Será realida<strong>de</strong> esse mundo novo prometido<br />
por Aquele que nasce para<br />
nós?! Demasiado belas para serem<br />
verda<strong>de</strong>iras essas profecias <strong>de</strong> Isaías.<br />
Há muito que <strong>de</strong>veriam ter-se realizado!<br />
Senhor, há já tanto tempo que<br />
6<br />
Veritas<br />
habitas no meio <strong>de</strong> nós e nada, nada<br />
verda<strong>de</strong>iramente mudou! On<strong>de</strong> estão<br />
as espadas transformadas em relhas<br />
<strong>de</strong> arados e as lanças em foices? On<strong>de</strong><br />
estão os carros <strong>de</strong> assalto transformados<br />
em ceifeiras e <strong>de</strong>bulhadoras?<br />
On<strong>de</strong> estão as <strong>de</strong>spesas militares aplicadas<br />
à saú<strong>de</strong> e à educação? E os capitais<br />
em fundos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento?<br />
On<strong>de</strong> está a paz, a justiça, o amor, a<br />
solidarieda<strong>de</strong>, a resplan<strong>de</strong>cerem na<br />
Tua Igreja?<br />
Mas Ele vem! Ele vem em cada homem<br />
acordado e <strong>de</strong>cidido a trilhar outros caminhos;<br />
Ele vem e busca corações <strong>de</strong>cididos<br />
a edificar outra humanida<strong>de</strong>. E<br />
em vez <strong>de</strong> nos lamentarmos com a actual<br />
situação do mundo e da história,<br />
eis que nos <strong>de</strong>cidimos a ser fermento<br />
na massa. É que tudo começa ou recomeça<br />
com uma <strong>de</strong>cisão: Deus vem até<br />
nós e quer-nos acordados, erguidos,<br />
para esse acolhimento que tudo renova<br />
e transforma em nós!<br />
2. PREPARAR-SE!<br />
Preparar-se é acolher em nós tudo o que<br />
po<strong>de</strong> suce<strong>de</strong>r na nossa vida, e aceitá-lo<br />
não como uma fatalida<strong>de</strong>, mas tentando<br />
sempre <strong>de</strong>scobrir-lhe o sentido.<br />
Preparar-se é ainda <strong>de</strong>ixar-se interpelar<br />
pelos apelos que nos vêm dos outros<br />
convidando-nos a transfigurar mentalida<strong>de</strong>s,<br />
preconceitos e verda<strong>de</strong>s imutáveis<br />
que o não são! Apelos que são<br />
<strong>de</strong>safio a repensar o nosso jeito <strong>de</strong> viver,<br />
<strong>de</strong> estar na vida.<br />
Preparar-se é fazer silêncio em nós para<br />
apren<strong>de</strong>r a discernir, ou seja, a <strong>de</strong>ixar o<br />
inútil e o acessório, o efémero e o supérfluo,<br />
para dar lugar, <strong>de</strong>finitivamente,<br />
em nós, àquilo que é verda<strong>de</strong>iramente<br />
essencial.<br />
Preparar-se é ter o coração <strong>de</strong>sperto, à<br />
espreita <strong>de</strong> tudo o que nos po<strong>de</strong> converter<br />
em profundida<strong>de</strong>, para alem das emoções<br />
e dos frémitos, esses precisamente<br />
que se vivem ou se dizem superficialmente<br />
sem nada em nós mudar em profundida<strong>de</strong>...<br />
Preparar-se é arriscar em Deus. Com<br />
tudo o que isso implica e comporta, significa<br />
e revela, <strong>de</strong> surpresa e <strong>de</strong> espanto,<br />
<strong>de</strong> novida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> beleza, <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong><br />
rumo e adopção <strong>de</strong> vida genuína e duradoira...<br />
Preparar-se para, na alegria e na liberda<strong>de</strong>,<br />
na fé e na simplicida<strong>de</strong>, acolhermos<br />
o “tempo <strong>de</strong> Deus”.<br />
Esse tempo que vem, em que os homens<br />
enfim se reencontrarão como irmãos, livres<br />
e fraternos, no seu coração, pensamento<br />
e vida, para viver o dom, o dialogo<br />
e a partilha.<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
Esse tempo que vem, em que a carida<strong>de</strong><br />
dará as mãos à lei, uma lei respeitadora<br />
<strong>de</strong> todos, que não oprime nem humilha<br />
ninguém, e que estará próximas dos pequenos,<br />
dos simples e dos pobres!<br />
Esse tempo que vem, on<strong>de</strong> o Amor não<br />
se reduz a um simples verbo a conjugar<br />
ou a uma mera palavra a soletrar em<br />
bocas mentirosas, mas uma realida<strong>de</strong><br />
verda<strong>de</strong>ira, assumida em todas as suas<br />
exigências, e que transforma este mundo<br />
em oásis <strong>de</strong> alegria e perfume <strong>de</strong> eternida<strong>de</strong><br />
já no meio <strong>de</strong> nós.<br />
Esse tempo que vem, em que a terra<br />
dará frutos <strong>de</strong> justiça, <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong> paz,<br />
que po<strong>de</strong>m ser colhidos por todos –<br />
todos sem excepção – nos dias dos tempos<br />
novos, próprios <strong>de</strong> quem acolhe em<br />
si o dom que é o Emanuel, Deus-connosco.<br />
Esse tempo que vem, on<strong>de</strong> sentimos e<br />
pressentimos que Deus chama. E que<br />
diante <strong>de</strong>sse chamamento não po<strong>de</strong>mos<br />
permanecer no mesmo lugar, impávidos,<br />
apáticos, serenos! Porque o Advento é<br />
também esse tempo <strong>de</strong> bem-fazer em<br />
que cada outro po<strong>de</strong> maravilhar-se daquilo<br />
que nunca tinha escutado.<br />
Advento, essa preparação, esse tempo<br />
inolvidável, estação do perdão, não apenas<br />
na ponta dos lábios mas – e sobretudo<br />
– no mais fundo do nosso próprio<br />
coração.<br />
Advento, essa preparação, esse tempo e<br />
esse espaço <strong>de</strong> acolhimento, aceitando<br />
a palavra do outro que vem mexer nas<br />
nossas convicções...<br />
3. PÔR-SE À ESCUTA E<br />
DE OLHOS ABERTOS<br />
Por toda a parte e à nossa volta cânticos<br />
e pedidos, gritos e exortações, lamentações<br />
e <strong>de</strong>salentos, que brotam a cada<br />
instante.<br />
A cada momento a nossa atenção voltase<br />
para qualquer recanto <strong>de</strong>ste nosso<br />
planeta para escutar relatos <strong>de</strong> acontecimentos<br />
ou ouvir opiniões sobre tudo e<br />
sobre todos!<br />
Vivemos, existimos, num tempo e num<br />
mundo que é verda<strong>de</strong>iramente uma “al<strong>de</strong>ia<br />
global” on<strong>de</strong> não se dispensa a comunicação.<br />
Po<strong>de</strong>mos – e <strong>de</strong>vemos –<br />
escutar os gemidos e as palpitações<br />
<strong>de</strong>ste nosso mundo e assistir às mudan-<br />
ças trágicas e profundas a levarem-nos<br />
para um futuro absolutamente incerto,<br />
ansioso, que profundamente ignoramos.<br />
Neste mundo repleto <strong>de</strong> ruídos, barulhos<br />
e imagens, num gran<strong>de</strong> e <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro esforço,<br />
ousemos fazer silêncio. Esse silêncio<br />
que, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, nos permite<br />
escutar Aquele que vem, teimosamente,<br />
para nos falar.<br />
Limpemos os nossos ouvidos <strong>de</strong>sses<br />
ruídos, algazarras, tagarelices, mexericos,<br />
mentiras, que retêm a nossa atenção<br />
mas que apenas nos anestesiam e<br />
atordoam!<br />
Então seremos verda<strong>de</strong>iramente capazes<br />
da necessária e urgente atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
escuta, para tentar iluminar a nossa vida<br />
à luz da Palavra <strong>de</strong> Deus revelada em<br />
Jesus Cristo.<br />
E no meio <strong>de</strong> tantas palavras, atrevamonos<br />
a escutar Aquele que é a Palavra,<br />
Os nossos olhos estão cegos!<br />
Cegos do essencial!<br />
Cegos <strong>de</strong> genuíno e do profundo.<br />
Cegos do “mais” e do “melhor”!<br />
Cegos!<br />
Contemplam-se e maravilham-se estes<br />
TEMA DE FUNDO<br />
nossos olhos com o cintilar <strong>de</strong> luzes e<br />
lantejoulas, mas não conseguem ver,<br />
não querem reparar nas rugas, nas lágrimas<br />
e nas cicatrizes <strong>de</strong> cada irmão!<br />
Os nossos ouvidos estão surdos!<br />
Não procuram senão escutar doces melodias<br />
e harmoniosas sinfonias, mas que<br />
ignoram os gritos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero <strong>de</strong> quem<br />
chora e sofre!<br />
Por isso, é preciso recomeçar uma estrada<br />
<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> vida verda<strong>de</strong>ira, <strong>de</strong><br />
coração purificado, <strong>de</strong> existência diferente<br />
e transfigurada!<br />
É preciso que se abram as nossas mãos,<br />
os nossos olhos e os nossos ouvidos, ao<br />
dom, à atenção, à generosida<strong>de</strong>, à escuta.<br />
É que apenas assim conseguiremos captar<br />
a harmonia e a cacofonia, o belo e o<br />
feio, a verda<strong>de</strong> e a mentira, a justiça e a<br />
ignomínia, <strong>de</strong>ste nosso tempo e, infelizmente,<br />
muitas vezes, <strong>de</strong>sta nossa Igreja!<br />
Que se abra o Céu, que se rompam as<br />
nuvens, e <strong>de</strong>sça <strong>de</strong>pressa o enviado <strong>de</strong><br />
Deus. Para que sejamos libertados das<br />
cegueiras que não nos <strong>de</strong>ixam ver no<br />
outro um irmão; para que sejamos curados<br />
da nossa sur<strong>de</strong>z que nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
7
TEMA DE FUNDO<br />
8<br />
Veritas<br />
escutar os gemidos e os gritos, as preces<br />
e os “obrigados” <strong>de</strong> cada outro. Que<br />
se abra o Céu e sobre esta nossa humanida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sça, <strong>de</strong> novo, o Justo, que consegue<br />
curar-nos...<br />
4. ALEGRAR-SE!<br />
Em cada Natal, repete-se o convite: alegrai-vos!<br />
Em cada Natal, acontece a Boa-Notícia:<br />
alegrai-vos!<br />
Palavras fáceis <strong>de</strong> cantar, <strong>de</strong> dizer!<br />
Mas como po<strong>de</strong>remos alegrar-nos com<br />
cânticos e danças quando em tantas partes<br />
do mundo – a começar bem aqui ao<br />
nosso lado – há guerras com o seu cortejo<br />
<strong>de</strong> morte, sangue e dor? Como experimentar<br />
uma alegria quando em<br />
<strong>de</strong>masiados rostos escorrem, teimosamente,<br />
lágrimas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sânimo,<br />
<strong>de</strong> angústia e <strong>de</strong> sofrimento?<br />
Precisamos <strong>de</strong> nos alegrar na fé.<br />
E em Advento, reapren<strong>de</strong>mos essa alegria<br />
interior que nos segreda essa verda<strong>de</strong><br />
maior que sublinha e garante a<br />
visita <strong>de</strong> um Deus que é Menino.<br />
Apren<strong>de</strong>r a alegria do Evangelho, que<br />
agra<strong>de</strong>ce o dom <strong>de</strong> Deus e que nos reforça<br />
no empenho <strong>de</strong> um trabalho solidário<br />
e cúmplice para que a festa e<br />
alegria não seja apenas <strong>de</strong> uns mas <strong>de</strong><br />
todos. Uma alegria que brota da capacida<strong>de</strong><br />
e da <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> dar pão a quem<br />
tem fome, <strong>de</strong> espalhar a esperança aos<br />
corações <strong>de</strong>sanimados, oferecer a concórdia<br />
e o perdão a quantos são subjugados<br />
à divisão e à mágoa.<br />
Alegrar-se. Um dom e um empenho.<br />
Alegrar-se. Uma graça e um compromisso.<br />
Conhecemos muitas, tantas, e diversificadas<br />
alegrias superficiais, <strong>de</strong>stinadas a<br />
fazerem-nos esquecer por momentos as<br />
preocupações, os fracassos, os sofrimentos<br />
os medos.<br />
O Advento <strong>de</strong>safia e sugere uma alegria<br />
diferente. A alegria <strong>de</strong> uma vinda, a alegria<br />
<strong>de</strong> um encontro, a alegria <strong>de</strong> um<br />
abraço, entre o céu e a terra<br />
Deus vem ao coração <strong>de</strong>ste homem concreto.<br />
E essa é a maior e mais profunda<br />
das alegrias. Dessas alegrias que não<br />
passam, não per<strong>de</strong>m o vigor, sentido,<br />
oportunida<strong>de</strong>. Uma alegria que brota<br />
<strong>de</strong>ssa certeza imutável <strong>de</strong> que um Menino<br />
e um Deus verda<strong>de</strong>iro vem habitar<br />
no meio <strong>de</strong> nós; alegria que consiste<br />
nessa verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> que n’Essa<br />
Criança se cumpre o nosso futuro e o<br />
nosso <strong>de</strong>stino.<br />
On<strong>de</strong> nenhum medo conseguirá <strong>de</strong>struir<br />
essa esperança <strong>de</strong> que Deus está connosco<br />
para sempre.<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
Ele é a nossa paz; por isso a nossa alegria.<br />
Ele é a nossa vida; por isso a nossa<br />
alegria. Ele é a nossa força; por isso a<br />
nossa alegria. Ele é a nossa festa; por<br />
isso a nossa alegria.<br />
5. REENCONTAR<br />
Longamente preparada, meditada e esperada,<br />
ei-la agora realizada: Deus cumpre<br />
a Promessa.<br />
O Povo da Antiga Aliança tinha tudo previsto<br />
e imaginado: os sacrifícios no Templo,<br />
a Lei a cumprir para agradar a Deus.<br />
Mas, surpresa das surpresas, eis que<br />
nada acontece como estava previsto!<br />
Deus não nasce em Jerusalém. Deus<br />
não está ro<strong>de</strong>ado dos gran<strong>de</strong>s da Cida<strong>de</strong><br />
Santa! Porque com Ele começa uma<br />
Nova e <strong>de</strong>finitiva Aliança. Mais que os rituais<br />
e as normas, o importante é o<br />
homem. O homem que a partir <strong>de</strong> agora,<br />
e para todo o sempre, tem um companheiro<br />
<strong>de</strong> viagem, <strong>de</strong> peregrinação, <strong>de</strong><br />
existência.<br />
Advento: oportunida<strong>de</strong> sempre renovada<br />
para encontrar uma luz, uma paz, uma alegria,<br />
uma força, um alento que jamais se<br />
<strong>de</strong>svanecerá.<br />
Um tempo novo começa em cada Advento,<br />
pois que renasce no coração dos simples<br />
a mais bela das verda<strong>de</strong>s: Deus e o<br />
Homem encontram-se <strong>de</strong>finitivamente.<br />
Naquele tempo – é hoje – todos os<br />
povos da terra receberam a gran<strong>de</strong> notícia:<br />
das trevas dos ódios e das guerras,<br />
uma luz esplendorosa resplan<strong>de</strong>ceu!<br />
E foi um imenso alívio, pois que toda a<br />
humanida<strong>de</strong> entra em festa! É como se<br />
um jardim ver<strong>de</strong>jante irrompesse e tivesse<br />
florido no meio do <strong>de</strong>serto!<br />
Advento: <strong>de</strong>cisão interior e profunda <strong>de</strong><br />
que tem <strong>de</strong> acabar a fome que mata milhões<br />
e o ódio que obscurece olhares e<br />
endurece corações.<br />
Advento: compromisso <strong>de</strong>cisivo para<br />
que terminem as guerras, longínquas e<br />
bem próximas, as opressões e humilha-<br />
TEMA DE FUNDO<br />
ções <strong>de</strong>senfreadas e pecaminosas, que<br />
colocam homens contra homens, irmãos<br />
contra irmãos!<br />
Nasce-nos um Menino que nos traz e esclarece<br />
o projecto <strong>de</strong> Deus para nós e<br />
para este nosso mundo.<br />
Sabemos o Seu nome: Sabedoria, Justiça,<br />
Paz.<br />
A cada um <strong>de</strong> nós é confiado um Menino.<br />
Que não tem exércitos nem, nem força, nem<br />
po<strong>de</strong>r, nem glória ao jeito do mundo. Mas um<br />
Menino que vem renovar a terra inteira.<br />
Um Menino que vem renovar este meu<br />
coração<br />
Advento é caminho <strong>de</strong> vida para um encontro<br />
<strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro com a Vida.<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
9
OPINIÃO<br />
Quem anda atento às mudanças sociais e culturais e não se esquece que a Igreja<br />
está ao serviço da socieda<strong>de</strong> e das pessoas tem consciência <strong>de</strong> que muitas coisas<br />
têm <strong>de</strong> mudar na acção pastoral. Nem sempre as mudanças são aquelas <strong>de</strong><br />
que as pessoas falam, movidas por razões sopradas e pouco sabedoras do que<br />
na Igreja é essencial. O concílio Vaticano II foi o acontecimento com maior força<br />
propulsora da mudança a operar-se na Igreja. Realizou-se para isso mesmo, segundo<br />
os objetivos criados por João XXIII, que queria não a continuação <strong>de</strong> uma<br />
Igreja clerical, mas o surgir <strong>de</strong> uma Igreja Povo <strong>de</strong> Deus, marcada pela Comunhão<br />
e pela Missão. Uma Igreja capaz <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> dialogar<br />
com ela sobre o <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus a operar-se na história humana. Uma autêntica<br />
mudança que toca em conceitos e critérios, em atitu<strong>de</strong>s e projectos.<br />
Não era fácil a conversão, sobretudo dos que, embrenhados nas estruturas e<br />
nos mo<strong>de</strong>los tradicionais, teriam sempre gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> em se libertarem para<br />
po<strong>de</strong>rem adquirir a liberda<strong>de</strong> interior sem a qual não são possíveis as verda<strong>de</strong>iras<br />
mudanças. Quem viveu o antes do Concílio, e logo o seu <strong>de</strong>pois, enten<strong>de</strong><br />
estas dificulda<strong>de</strong>s porque as sentiu. Destes, os primeiros, <strong>de</strong>pendia muito o rumo<br />
e o impulso conciliar. Foi-se, porém, pelo mais fácil e espetacular, passou-se, em<br />
muitos casos, ao lado dos gran<strong>de</strong>s apelos á conversão, sossegou-se a consciência<br />
pensando que os outros é que tinham <strong>de</strong> mudar, <strong>de</strong>u-se lugar a superficialida<strong>de</strong>s<br />
que não seriam inócuas, pôs-se patine em muitas coisas velhas. O<br />
ambiente era <strong>de</strong> cristanda<strong>de</strong> e mera conservação, com sentença <strong>de</strong> morte anunciada<br />
a partir <strong>de</strong>le próprio, pensando-se, logicamente, que não sobrevivera. Acabou<br />
por ser ele mesmo a marcar o ritmo da anti mudança. Com tudo isto,<br />
andou-se para trás e <strong>de</strong>ram-se muitos passos em vão.<br />
Bento VXI disse, recentemente na Alemanha, que na Igreja, “há mundo a mais e<br />
Espirito a menos”. E falou que, sem a conversão profunda do Papa, dos bispos<br />
e padres, dos religiosos e leigos, <strong>de</strong> toda a Igreja, não haverá mais lugar para o<br />
Espírito. Mundo a mais, quer dizer que os critérios profano e as preocupação<br />
temporais se sobrepõem á moção do Espírito, o Único que po<strong>de</strong> dar a vida.<br />
O Concilio foi uma lufada <strong>de</strong> ar fresco para a Igreja, que tanto po<strong>de</strong> perdurar<br />
ainda, como ter sido esquecido uma mera recordação. Os textos conciliares <strong>de</strong>ixaram<br />
<strong>de</strong> ser lidos, meditados, entendidos como rumo e caminho. Muita gente da<br />
Igreja voltou a velha rotina, a programar para conservar, sem se interrogar se por<br />
aí po<strong>de</strong> alguma vez passar o vento da renovação pastoral. Os esquemas pastorais,<br />
a utilização dos recursos humanos e materiais, a linguagem, mesmo com as<br />
novas técnicas, parecem permanecer ao serviço <strong>de</strong> um passado que nada diz ás<br />
pessoas <strong>de</strong> hoje. A maioria <strong>de</strong>stas teve acesso generalizado ao ensino, experimentou<br />
a <strong>de</strong>mocracia, tomou consciência do seu valor como pessoa, sente o direito<br />
e <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> participar. Os tempos <strong>de</strong> cristanda<strong>de</strong> sempre <strong>de</strong> sabor clerical.<br />
Por isso estão <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quados e fora <strong>de</strong> tempo . Teimar neles é produzir o vácuo<br />
religioso e eclesial, continuara construir muros que divi<strong>de</strong>m as valas intransponí-<br />
10<br />
“Resistências à Mudança”<br />
Veritas<br />
veis. O problema não está em sentir a dificulda<strong>de</strong> das mudanças que se impõem,<br />
mas em teimar em não querer, nem procurar caminhos novos que permitam os<br />
rumos novos que urgem a Igreja.<br />
Os <strong>de</strong>cisores eclesiais, mesmo quando inovam, estão ro<strong>de</strong>ados <strong>de</strong> caminhos <strong>de</strong><br />
tropeços que não os <strong>de</strong>ixam andar. Uns incómodos, outros acarinhados. Uns<br />
doem, outros agradam. Estes tropeços tanto se chamam grupos corporativos,<br />
como costumes, bairrismos impensáveis, bairrismo impensáveis, ânsia <strong>de</strong> honras<br />
e vaida<strong>de</strong>s, que o Concílio execrou mas que continuaram a prodigalizar. Não<br />
se enten<strong>de</strong>, quando o grito evangelizador é insistente, que se perca tempo e se<br />
<strong>de</strong>sgastem energias em banalida<strong>de</strong>s e disputas que cheiram a mofo e sujam a<br />
imagem da Igreja.<br />
As maiores recriminações <strong>de</strong> Cristo foram feitas aos conservadores interessados<br />
do seu tempo, que não queiram andar, nem <strong>de</strong>ixaram que outros andassem.<br />
Parece que a história se repete, com prejuízo irreparável das pessoas e da socieda<strong>de</strong>.<br />
Ao repensar a acções da Igreja hoje, há que estar atento porque, em alguns<br />
casos, os falar-se <strong>de</strong> coisas novas, o horizonte é muito curto, o que não<br />
admira pelo pouco que se estuda, lê e reflecte, se escuta, avalia e inova. Os que<br />
parece que querem são agentes promovidos.<br />
D. António Marcelino,<br />
Bispo emérito <strong>de</strong> Aveiro, in, Notícias <strong>de</strong> Beja<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
“Não insubstituíveis,<br />
mas fundamentais”!<br />
"Vós sois o sal da terra; vós sois a luz do mundo" afirmou categoricamente Jesus<br />
aos Seus discípulos e, portanto, a cada um <strong>de</strong> nós. Reconheço nestas palavras do<br />
Mestre a nossa sublime vocação, o espantoso chamamento que nos é dirigido, a<br />
fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixarmos este mundo diferente daquilo que o encontrámos. Ser «sal» é<br />
prontificarmo-nos a viver <strong>de</strong> tal forma que possamos dar renovado «sabor» a esta<br />
socieda<strong>de</strong>, a este tempo, que se caracteriza por uma insalubrida<strong>de</strong> medonha, um<br />
insosso que assusta e atemoriza até! Sobre cada um <strong>de</strong> nós «recai» essa missão<br />
e tarefa apaixonantes <strong>de</strong> sermos esse «sal» e essa «luz» que conseguem, pela<br />
graça do Espírito <strong>de</strong> Deus, transfigurar o sentido da História. Ela avançará, ou não,<br />
mediante a nossa presença e compromisso fecundos nos diversos ambientes, estruturas,<br />
que nos são dadas viver!<br />
É verda<strong>de</strong> que não somos insubstituíveis; mas não é menos verda<strong>de</strong> que<br />
somos fundamentais e <strong>de</strong>cisivos para orientar este tempo para aquilo que chamamos<br />
Reino <strong>de</strong> Deus.<br />
Se a nossa entrega e a nossa fé tiverem os traços da verda<strong>de</strong> e da confiança,<br />
se a nossa pertença à Igreja, às Comunida<strong>de</strong>s, sentirem os efeitos da nossa<br />
a<strong>de</strong>são comprometida, fecunda, generosa e abnegada, necessariamente o<br />
nosso tempo «respirará» outro «ar»; a nossa socieda<strong>de</strong> e a nossa Igreja po<strong>de</strong>rão<br />
sentir o «odor» <strong>de</strong> um «perfume» outro, que não se dilui com o vento por<br />
mais forte que ele possa ser.<br />
"Sem Mim nada po<strong>de</strong>reis fazer; coMigo, fareis coisas maiores do que Eu" é<br />
promessa <strong>de</strong> Jesus Cristo. Na verda<strong>de</strong>, quando <strong>de</strong>ixamos que Deus nos impregne,<br />
quando aceitamos valorizar mais a Sua palavra que a dos homens,<br />
quando acreditamos na Sua presença misteriosa mais que naquela visível e falível<br />
do e <strong>de</strong> quem vemos, a vida ganha outros contornos, a esperança é verda<strong>de</strong><br />
a acontecer, o sonho é realida<strong>de</strong> que nos envolve e apaixona...<br />
Quando, ao contrário, <strong>de</strong>ixamos que a apatia e a inércia, a falta <strong>de</strong> compromisso<br />
e o comodismo se apo<strong>de</strong>rem dos nossos corações, transformamo-nos<br />
em «velhos do Restelo» para que nada está bem, para quem em nada já crê,<br />
para quem <strong>de</strong>sconfia da beleza da vida e do mundo que nos envolve.<br />
Ser «sal» e ser «luz» implicará <strong>de</strong>sassossego, é certo; trará inquietações,<br />
atrairá sobre nós provocações que, esponjados nos nossos sofás não trariam!<br />
Mas, ao mesmo tempo, a História e a Igreja ficariam privadas dos talentos e<br />
dos dons que o Céu nos conce<strong>de</strong>u! E, por consequência, tudo será mais triste,<br />
mais pobre, mais <strong>de</strong>sanimador, mais negativo!<br />
É importante, é urgente, revalorizar a nossa missão apostólica a fim <strong>de</strong> que outros<br />
se sintam e saibam envolvidos nessa aventura inenarrável <strong>de</strong> transformar<br />
a realida<strong>de</strong> com os critérios d'Aquele Galileu que passou a marcar e a contar<br />
a História <strong>de</strong> forma distinta.<br />
Somos únicos. Somos especiais. Somos precisos. Deus quer as nossas mãos<br />
e os nossos pés; quer a nossa boca e o nosso coração. Sem nós, Deus ficará<br />
mais pobre. E a tarefa da construção do mundo permanecerá inacabada...<br />
P.A.<br />
SENTIR DE PASTOR<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
11
OPINIÃO<br />
“O maior <strong>de</strong>safio feito à Igreja”<br />
Gostaria <strong>de</strong> perguntar a muitos cristãos, leigos e clérigos,<br />
dos mais diversos meios e ida<strong>de</strong>s, qual consi<strong>de</strong>ram<br />
ser o gran<strong>de</strong>, senão mesmo o maior, <strong>de</strong>safio<br />
que a Igreja enfrenta hoje. Admito que uns falariam<br />
da crise <strong>de</strong> vocações, do <strong>de</strong>snorte das famílias, da<br />
ida<strong>de</strong> avançada dos padres, da evangelização, assim<br />
em geral, como que a dizer tudo e a não dizer nada.<br />
Também se po<strong>de</strong>riam ouvir as dificulda<strong>de</strong>s da linguagem<br />
para comunicar o Evangelho, os diminutos<br />
passos dados no diálogo com o mundo da cultura<br />
emergente, da crise da vida comunitária das pessoas<br />
e das estruturas pastorais. Talvez ainda, apesar dos<br />
ecos favoráveis das Jornadas Mundiais da Juventu<strong>de</strong>,<br />
em Madrid, falariam do <strong>de</strong>safio que os jovens<br />
constituem. Todos estes e muitos outros temas, em<br />
campo, constituem, por certo, problemas e <strong>de</strong>safios<br />
incómodos e difíceis. Mas qual o maior?<br />
Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> concretizar, a ponto <strong>de</strong> incomodar,<br />
aquele que se po<strong>de</strong>rá consi<strong>de</strong>rar o <strong>de</strong>safio<br />
mais englobante, no qual vão entroncar todos os outros.<br />
Será, talvez, a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> da fé dos que se dizem<br />
crentes e consi<strong>de</strong>ram a Igreja como espaço que<br />
ainda lhes diz algum respeito. Não há meios técnicos<br />
para medir a autenticida<strong>de</strong> e a verda<strong>de</strong> da fé das pessoas.<br />
Cada um tem o seu itinerário religioso próprio,<br />
foram diferentes oportunida<strong>de</strong>s que se lhe abriram<br />
para crescer na fé, e, ao afirmar-se cristão, ninguém<br />
gosta que duvi<strong>de</strong>m da sua religiosida<strong>de</strong>. A prova final<br />
é a vida <strong>de</strong> cada um. Há gente com gran<strong>de</strong> coerência<br />
entre o que acredita e o que vive. Outra que <strong>de</strong>ixa<br />
os sentimentos e as coisas religiosas para <strong>de</strong>terminados<br />
dias, acontecimentos e lugares. Alguém disse<br />
que, tal como na socieda<strong>de</strong> actual, também na Igreja<br />
reina o caos, on<strong>de</strong> se encontra tudo. Aí se expressam<br />
as maiores diversida<strong>de</strong>s e opções em relação à prática<br />
religiosa, ao estilo <strong>de</strong> família, à intervenção social<br />
e política, para não falarmos já dos que permanecem<br />
no templo e exprimem a pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caminhos <strong>de</strong><br />
acção, da liturgia às estruturas <strong>de</strong> participação, dos<br />
leigos agindo quase por favor, àqueles que evoluíram<br />
e reivindicam, legitimamente, o direito à iniciativa, à<br />
palavra, à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> associação. É neste contexto,<br />
a meu ver, que emerge o gran<strong>de</strong> problema: uma<br />
Igreja que, por sua natureza, é uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
crentes adultos e na qual muitos dos seus membros<br />
não o são, nem têm vonta<strong>de</strong> ou motivação para o vir<br />
a ser. O ambiente é marcado por valores e tradições<br />
12<br />
Veritas<br />
cristãs, que permitem a humanização da vida e a sua<br />
dimensão transcen<strong>de</strong>nte. Porém, os dinamismos<br />
mais influentes da socieda<strong>de</strong>, nem sempre contrários<br />
à Igreja, processam-se, normalmente, à margem da<br />
Igreja, sem que se vislumbrem propostas alternativas.<br />
Dir-se-á que ainda há igrejas cheias. É verda<strong>de</strong>.<br />
O pluralismo é um valor estimável, que nem sempre<br />
se vê assumido e promovido nas comunida<strong>de</strong>s com<br />
marcas <strong>de</strong> um clericalismo serôdio. João Paulo II levantou<br />
a ban<strong>de</strong>ira da «nova evangelização» para ir<br />
ao encontro dos cristãos tradicionais, adormecidos ou<br />
convencidos. Bento XVI caminha no mesmo sentido.<br />
Mas, a nova evangelização não vive <strong>de</strong> acontecimentos<br />
<strong>de</strong> massa, ou <strong>de</strong> iniciativas <strong>de</strong> passagem que<br />
po<strong>de</strong>m comover, mas não chegam a converter. A pedagogia<br />
<strong>de</strong> uma nova evangelização com futuro é <strong>de</strong><br />
promoção e aproveitamento das relações primárias,<br />
<strong>de</strong> modo a gerar motivação; <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res<br />
que testemunhem, com normalida<strong>de</strong>, a sua fé; <strong>de</strong><br />
criação <strong>de</strong> grupos, não nascidos por força <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões<br />
superiores, mas propostas <strong>de</strong> reflexão serena,<br />
aberta e <strong>de</strong> confronto com a Palavra <strong>de</strong> Deus; <strong>de</strong> uma<br />
prática orante a<strong>de</strong>quada; <strong>de</strong> progressiva abertura aos<br />
outros e às suas condições <strong>de</strong> vida Evangelizar as<br />
pessoas, pelo anúncio jubiloso <strong>de</strong> Jesus Cristo, Re<strong>de</strong>ntor<br />
e Salvador, exige que, ao mesmo tempo, para<br />
que o seja <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> modo mais alargado, tocar nos<br />
ambientes e nas estruturas da socieda<strong>de</strong>. Evangelizar<br />
não é fazer praticantes <strong>de</strong> culto, mas crentes adultos<br />
com testemunho <strong>de</strong> vida e compromisso<br />
apostólico.<br />
Bento XVI fala <strong>de</strong> uma Igreja na Alemanha com muita<br />
organização e pouco espírito, com muito mundo e<br />
pouca espiritualida<strong>de</strong>. Também se po<strong>de</strong> falar nos países<br />
<strong>de</strong> tradição religiosa, como Portugal, <strong>de</strong> uma<br />
Igreja ainda mais voltada para conservar tradições e<br />
estruturas paralisantes e menos atenta a caminhos<br />
novos, exigidos pelas mudanças sociais e culturais, e<br />
por ser uma necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> tornar o Evangelho<br />
acessível. Com esta apreciação pouco optimista,<br />
como se po<strong>de</strong> pensar, não se po<strong>de</strong>m esquecer<br />
as muitas iniciativas válidas e promissoras, não se<br />
po<strong>de</strong> passar ao lado do esforço generoso <strong>de</strong> bispos,<br />
padres e leigos que, na sua vida e acção, animados<br />
pelo Espírito vão criando caminhos novos. Mas, até<br />
neste ponto, no conjunto nacional, <strong>de</strong>ntro das dioceses<br />
e paróquias, há estrangulamentos individuais lamentáveis.<br />
A evangelização não dispensa<br />
testemunhos comunitários e estes não se improvisam.<br />
A. M.<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
Uma lição bem estudada<br />
O nome <strong>de</strong>sta professora <strong>de</strong> Benguela não é comum, mas a vida em Inglaterra fez<br />
com que gostasse <strong>de</strong> ser tratada por Susy. E é assim que a vamos chamar. Vive em<br />
Manchester há dois anos e visitou o Centro Comunitário da <strong>Paróquia</strong> <strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong><br />
(CCPC) para voltar a ver as pessoas que antes a ajudaram.<br />
Fugir a uma guerra<br />
Nasceu em Angola e teve uma infância perfeitamente feliz. Vivia com os pais e tinha<br />
uma boa vida. Ao contrário <strong>de</strong> algumas crianças em Angola, pô<strong>de</strong> estudar e fez um<br />
curso profissional para se tornar professora primária. Não casou porque nunca<br />
achou importante, mas tinha uma relação estável com um companheiro e trabalhava<br />
“por <strong>de</strong>sporto” como a própria admitia, sem ter necessida<strong>de</strong> para isso. Vivia<br />
em Benguela e o companheiro era militar <strong>de</strong> alta patente.<br />
Quando a guerra surgiu em 1992 “foi como que dormir e acordar num outro mundo”,<br />
como a própria relembra. A guerra fez com que tivesse <strong>de</strong> abandonar a sua casa somente<br />
com a roupa que tinha no corpo. Partiram do Congo, ela num dia com três<br />
dos seus cinco filhos e o companheiro no dia seguinte. Os filhos mais velhos já cá<br />
estavam com a avó e os tios e foi a família do companheiro, que Susy ainda não conhecia,<br />
que a foi receber ao aeroporto. “Foi tudo muito estranho”, confessa. Tinha<br />
24 anos quando veio para Portugal e a saída atribulada <strong>de</strong> Angola fez com que<br />
nunca tivesse surgido o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> regressar.<br />
De uma vivenda para um “bairro <strong>de</strong> lata”<br />
Da vivenda que tinha em Benguela, Susy, filhos e companheiro, passaram a morar<br />
numa habitação precária <strong>de</strong> dois quartos on<strong>de</strong> tiveram <strong>de</strong> se apertar com mais 4<br />
pessoas, nos chamados “bairros <strong>de</strong> lata”. Vivia com a mãe e tios até conseguirem<br />
uma “barraca” maior e a família <strong>de</strong> Susy ficou então na mais pequena. Com o <strong>de</strong>smantelar<br />
<strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> bairros, Susy conseguiu uma casa num bairro social em S.<br />
Miguel das Encostas.<br />
Em Portugal, trabalhar já não era apenas “por <strong>de</strong>sporto”. Era preciso alimentar a família.<br />
Mas Susy não era mulher <strong>de</strong> cruzar os braços e conseguiu <strong>de</strong> imediato um<br />
emprego na Abla (Associação <strong>de</strong> beneficência Luso Alemã) como auxiliar <strong>de</strong> educação<br />
na creche. Apesar da experiência em educação, não renovaram o contrato a<br />
Susy. Mas nem isso a <strong>de</strong>sanimou: trabalhou ainda um tempo como empregada doméstica<br />
numa casa particular e <strong>de</strong>pois num hipermercado. Tudo o que trouxesse comida<br />
à mesa serviria. Até mesmo um trabalho numa lavagem <strong>de</strong> carros.<br />
Trabalhou como lavadoura <strong>de</strong> automóveis e foi a primeira mulher neste ofício. Diz<br />
com um sorriso que o facto <strong>de</strong> ser pioneira levou a que aparecesse no Jornal da Região.<br />
Contudo também não conseguiu manter este emprego. Engravidou, e <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> a criança nascer e da licença <strong>de</strong> maternida<strong>de</strong>, a empresa dispensou-a.<br />
Um Centro Comunitário diferente<br />
As dificulda<strong>de</strong>s foram-se intensificando e pensou que o Centro Comunitário a po<strong>de</strong>ria<br />
ajudar. Já tinha tido contacto com o Centro através da “Porta Aberta”, as activida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> verão para crianças, e sabia pelo entusiasmo dos filhos que o CCPC<br />
era um sítio especial. “Falavam tanto do Centro e levavam para casa livros e outras<br />
ofertas feitas pelos monitores. Tive curiosida<strong>de</strong> em conhecer e foi assim que tive o<br />
primeiro contacto com a Dr.ª. Zulmira e a Dr.ª. Marta”. Susy foi ajudada com apoio<br />
alimentar e na procura <strong>de</strong> trabalho.<br />
Foi através do gabinete <strong>de</strong> emprego do Centro que voltou ao serviço doméstico e<br />
passou a trabalhar para uma psicóloga em 2004. Tinha boas condições <strong>de</strong> trabalho<br />
e uma boa relação com a patroa. Passados três anos a psicóloga mudou-se para o<br />
Centro <strong>de</strong> Lisboa e reduziu o período <strong>de</strong> trabalho. Para Susy, o tempo <strong>de</strong> trabalho<br />
já não compensava a viagem, e acabou por ficar <strong>de</strong> novo <strong>de</strong>sempregada.<br />
Vidas com história<br />
Nova viagem, nova aventura<br />
Com 35 anos tornava-se difícil encontrar trabalho e o regresso ao ponto <strong>de</strong> partida<br />
fazia com que Susy quisesse uma mudança mais significativa na sua vida. Já tinha<br />
família e conhecidos em Manchester e já la tinha ido visitar a cida<strong>de</strong> durante as férias.<br />
Entusiasmou-se com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ir para lá trabalhar, através <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrições feitas<br />
pelos amigos, que diziam ser fácil conseguir emprego e apoio. Aproveitou o<br />
pouco dinheiro que tinha posto <strong>de</strong> parte e achou que ou saía naquela altura ou já<br />
não saía <strong>de</strong> todo. Voltou assim a abandonar um país, <strong>de</strong>sta vez sem ser forçada, e<br />
com o entusiasmo <strong>de</strong> uma nova vida.<br />
Em Inglaterra a adaptação não foi fácil, especialmente pela língua, que Susy não<br />
percebia nem gostava. Gradualmente foi ultrapassando os obstáculos e hoje já consegue<br />
“respirar” sem estar constantemente a pensar como irá alimentar os filhos no<br />
dia seguinte.<br />
Não conseguiu trabalho no imediato mas está a apren<strong>de</strong>r inglês e a fazer voluntariado<br />
para ter experiência e conseguir arranjar emprego. Ainda ficou uns tempos a<br />
viver na casa <strong>de</strong> um familiar mas conseguiu finalmente o apoio que precisava para<br />
ter casa própria e assim levar a sua vida avante.<br />
A Susy que veio visitar novamente o Centro é hoje uma mulher feliz, bem-disposta,<br />
e com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> começar <strong>de</strong> novo num país que a recebeu <strong>de</strong> braços abertos. A<br />
Portugal regressa nas férias para rever a família e os amigos que cá <strong>de</strong>ixou. Mas<br />
agora a aventura é outra, e esta professora não vai <strong>de</strong>ixar a lição a meio.<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
13
CRITÉRIOS...<br />
Os tempos <strong>de</strong> crise e também <strong>de</strong> renovação na nossa comunida<strong>de</strong> são propícios à<br />
interpelação. Nas suas homilias o Padre António questiona-nos sobre se acreditamos<br />
ou não que Deus nos tem sempre no seu coração. Será que para mim basta<br />
Deus e só Deus? Afinal o que é ser cristão hoje e, mais ainda, ser cristão para quê? 1<br />
Neste início do advento senti-me tentado a partilhar partes <strong>de</strong> uma obra, <strong>de</strong> um<br />
autor que me tem interpelado <strong>de</strong> modo especial e me oferece respostas com que<br />
me i<strong>de</strong>ntifico. Trata-se <strong>de</strong> Timothy Radcliffe, fra<strong>de</strong> dominicano, que escreveu o livro<br />
Ser cristão para quê? , este ano editado em Portugal e cujo primeiro capítulo é<br />
sobre a ESPERANÇA, tão urgente entre nós, como nos questiona o P. António.<br />
De facto se a humanida<strong>de</strong> está <strong>de</strong>stinada a tomar parte na inexprimível felicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Deus, então isso <strong>de</strong>verá ser o objectivo da minha vida (), pois se isso não for<br />
verda<strong>de</strong> () <strong>de</strong>verei <strong>de</strong>ixar a Igreja. Porque acho que é verda<strong>de</strong> isso tem <strong>de</strong>, obrigatoriamente,<br />
reflectir-se na minha vida, duma forma que esteja para além das pa-<br />
14<br />
Veritas<br />
TEMPO DE ADVENTO,<br />
TEMPO DE ESPERANÇA<br />
lavras, pois Deus está para lá <strong>de</strong>las e os sinais que falam são os mais eficazes.<br />
Então, qual o sentido <strong>de</strong> ser cristão, se perante tantas contradições do mundo e da<br />
igreja apetece, por vezes, <strong>de</strong>sistir? Mas, como afirma Pascásio Radberto, o <strong>de</strong>sespero<br />
não tem pés para andar o caminho que é Cristo. Como acredito no que Cristo<br />
me propõe é preciso ousar ter ESPERANÇA, na qual caminharemos e peregrinaremos<br />
nesta vida, ao Seu encontro. Mas caminhamos para algum lado ou andamos<br />
às voltas como os israelitas no <strong>de</strong>serto?<br />
Olhamos () para trás, para a Criação, e para a frente, para o Reino, isto é, vimos<br />
<strong>de</strong> Deus e voltamos outra vez para Ele. É essa caminhada que exprime a nossa<br />
ESPERANÇA; precisamos caminhar juntos para um <strong>de</strong>stino comum.<br />
Apesar da perda <strong>de</strong> confiança que actualmente se sente, das guerras, da violência<br />
e da crise () este é, potencialmente, um momento maravilhoso para o Cristianismo,<br />
se formos capazes <strong>de</strong> encontrar maneiras <strong>de</strong> viver e partilhar a nossa ES-<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
PERANÇA cristã, oferecemos aquilo <strong>de</strong> que o mundo está se<strong>de</strong>nto.<br />
Foi num período <strong>de</strong> crise () on<strong>de</strong> as expectativas dos apóstolos se <strong>de</strong>smoronaram<br />
completamente () que () Jesus tomou o pão, o abençoou e partiu Não lhes <strong>de</strong>u<br />
um itinerário, pelo contrário fez <strong>de</strong>saparece-lo, mas a intimida<strong>de</strong> com o Senhor cresceu<br />
() <strong>de</strong> tal modo que todos os dias celebramos esse momento. A Igreja nasceu<br />
assim <strong>de</strong> uma ESPERANÇA no meio <strong>de</strong> uma crise bem maior do que aquela por que<br />
estamos a passar agora!<br />
Então interroguemo-nos: () será que oferecemos uma história alternativa para o<br />
futuro? Acreditamos na vitória do bem sobre o mal () e na vinda do reino e no fim<br />
<strong>de</strong> todo o sofrimento e morte?<br />
Certamente, não será um cristianismo <strong>de</strong> puro entusiasmo e exaltação da experiência<br />
religiosa, como é corrente hoje, afastado da cruz, das questões da justiça<br />
dos pobres e das limitações da condição humana.<br />
A ESPERANÇA não é a convicção <strong>de</strong> que alguma coisa acabará bem, mas a certeza<br />
que alguma coisa tem sentido, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do modo como acabar. É<br />
a convicção que acabaremos por <strong>de</strong>scobrir que tudo aquilo para que vivemos, felicida<strong>de</strong><br />
e <strong>de</strong>sgosto, vitória e <strong>de</strong>rrota, tem algum sentido e que apesar das loucuras<br />
do último século, a existência não está con<strong>de</strong>nado ao absurdo.<br />
Como cristãos pomos a ESPERANÇA () na eternida<strong>de</strong>, mas esta não é o que<br />
acontece no fim dos tempos, quando já tivermos morrido. Começa agora, sempre<br />
que tomamos parte na vida <strong>de</strong> Deus, sempre que superamos o ódio com o amor.<br />
Ter ESPERANÇA é viver neste preciso momento, agora, em que alguma coisa po<strong>de</strong><br />
acontecer.<br />
Se as pessoas vissem que os cristãos são capazes <strong>de</strong> uns gestos um pouco loucos,<br />
em vez <strong>de</strong> recuarem sempre timidamente, quer por acharem que não são capazes<br />
quer porque têm medo que os outros não apreciam o que fazem, então po<strong>de</strong>riam<br />
captar uma lufada da nossa extravagante ESPERANÇA que é algo raro e extraordinário<br />
que temos para oferecer: a ESPERANÇA <strong>de</strong>spojada das suas muletas seculares,<br />
nova, fresca e <strong>de</strong>sejável.<br />
O sentido do cristianismo é mostrar-nos que há um sentido para as nossas vidas,<br />
convida-nos a uma liberda<strong>de</strong> e a uma felicida<strong>de</strong> específicas, que são partilha da vitalida<strong>de</strong><br />
própria <strong>de</strong> Deus.<br />
Os nossos sonhos são <strong>de</strong>masiado pequenos e, se Deus os <strong>de</strong>sfaz, é para que nos<br />
possamos aventurar no espaço mais vasto da vida. Ele liberta-nos <strong>de</strong> pequenas<br />
ambições para que possamos apren<strong>de</strong>r a ter uma ESPERANÇA mais extravagante.<br />
E quantas vezes os nossos projecto são mesmo pequeninos!<br />
E on<strong>de</strong> está a alegria e a beleza? O último salmo do Saltério diz: Louvai ao som da<br />
trombeta, louvai-o com a harpa e a cítara! Louvai-o com tambores e danças, louvaio<br />
com instrumentos <strong>de</strong> corda e flautas! Quantas vezes somos monocórdicos e sem<br />
beleza!<br />
O nosso bispo D. José Policarpo, na sua recente entrevista à Voz da Verda<strong>de</strong> 2 , diznos<br />
() que a força da Igreja é ela ser um povo, ser uma comunida<strong>de</strong> crente e que<br />
um dos contributos que ela dá à humanida<strong>de</strong> hoje é suscitar a ESPERANÇA! Mas<br />
cautela, é preciso não i<strong>de</strong>ntificar a ESPERANÇA com as expectativas humanas. A<br />
ESPERANÇA cristã tem sempre uma raiz que é Nosso Senhor Jesus Cristo e a ES-<br />
PERANÇA <strong>de</strong> uma vida nova. E aqui é preciso vencer a rotina; tem <strong>de</strong> haver um<br />
alerta, dinamismos internos da Igreja para voltar a <strong>de</strong>scobrir, adaptando ao tempo<br />
que passa, o ardor e a frescura da Verda<strong>de</strong> inicial. E como se vence a rotina? Ele<br />
próprio respon<strong>de</strong>: fazendo as coisas como se fosse a primeira e a última vez, com<br />
a verda<strong>de</strong> fundamental que nos mobilizou no início.<br />
Como nos diz Timothy () po<strong>de</strong>mos encontrar esta mesma liberda<strong>de</strong> e alegria entre<br />
pessoas <strong>de</strong> outras fés ou <strong>de</strong> nenhumas. Não po<strong>de</strong>mos preten<strong>de</strong>r ter o exclusivo na<br />
partilha da vida <strong>de</strong> Deus.<br />
E neste tempo do Advento, em que preparamos a celebração do dia em que o Filho<br />
se incarnou em Jesus, no seio <strong>de</strong> uma família em que o Espírito Santo se personalizou<br />
em Maria e em que Deus não apenas assumiu a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus, mas<br />
também foi assumida a paternida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> José (Re<strong>de</strong>mptoris Custos, n. 21) 3<br />
, um bom projecto <strong>de</strong> vida será ir ao encontro do apelo do nosso bispo.<br />
CRITÉRIOS...<br />
Parece-me matéria interessante para reflectirmos enquanto esperamos a Sua vinda.<br />
Termino com o poema <strong>de</strong> Emily Dickinson , citado por Timothy Radclifffe no final do<br />
primeiro capítulo do seu livro::<br />
ESPEREANÇA é a coisa com penas<br />
Que se empoleira na alma<br />
E canta a melodia sem palavras<br />
E nunca para - absolutamente<br />
FF<br />
1 RADCLIFFE, Timothy (<strong>2011</strong>) – Ser cristão para quê? Lisboa: Paulinas Editora<br />
2D. José Policarpo em entrevista a Diogo Paiva Brandão. VOZ DA VERDADE ano<br />
78 n.º 4004, 30 Outubro <strong>de</strong> <strong>2011</strong>-11-09<br />
3 BOFF, Leonardo (2005) – São José a personificação do Pai; Campinas: Versus<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
Editora<br />
15
À CONVERSA COM...<br />
16<br />
Nesta edição do nosso Jornal “VERITAS” conseguimos conversar com um personagem fundamental<br />
<strong>de</strong>ste Tempo do Advento que viveremos muito em breve: S. João Baptista.<br />
Na verda<strong>de</strong>, João é o Precursor, é aquele que prepara os caminho e aponta para Jesus como O<br />
Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Deus que tira o pecado do mundo, como o Salvador...<br />
É uma oportunida<strong>de</strong> única para nós como forma <strong>de</strong> nos ajudar a viver mais intensa e profundamente<br />
este Tempo <strong>de</strong> Deus que se avizinha no horizonte próximo...<br />
Caro João Baptista, verda<strong>de</strong>iramente, é para a <strong>Paróquia</strong> <strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong>, uma<br />
gran<strong>de</strong> honra po<strong>de</strong>r contar com alguns minutos do seu precioso tempo. Ficam<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já os nossos sinceros agra<strong>de</strong>cimentos...<br />
1. Em primeiro lugar, gostaríamos <strong>de</strong> saber um pouco sobre a sua vida,<br />
sobre a sua vocação. Chegou-nos a informação que tinha o hábito <strong>de</strong><br />
baptizar os pecadores, os impuros... Como surgiu essa iniciativa? Qual<br />
o impacto <strong>de</strong>sse acto na vida das pessoas com essa (aparente) má conduta?<br />
Veritas<br />
S. JOÃO BAPTISTA<br />
Olá, muito bom dia a todos... para mim é também uma imensa alegria po<strong>de</strong>r<br />
estar aqui em <strong>Carcavelos</strong>, no seio da vossa <strong>Paróquia</strong>...<br />
Quanto à questão colocada, <strong>de</strong> facto, essa foi a minha missão durante algum<br />
tempo; senti no mais fundo do meu ser que a minha tarefa era, precisamente,<br />
preparar, com autenticida<strong>de</strong>, os corações para esse “Encontro” que Deus tinha<br />
sonhado para cada coração...<br />
Sentia, melhor, sabia interiormente, que a Promessa da vinda do Messias se<br />
iria cumprir brevemente; sabia, sentia, que os corações humanos estavam <strong>de</strong>masiadamente<br />
distraídos do essencial e que <strong>de</strong>veriam converter-se, transfigurar-se,<br />
para po<strong>de</strong>rem, com verda<strong>de</strong>, profundida<strong>de</strong> e alegria, encontrar-se<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
com O Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Deus que viria tirar o pecado do mundo.<br />
Qualquer momento importante nas nossas vidas é sempre precedido <strong>de</strong> alguma<br />
preparação, <strong>de</strong> um “antes” para a beleza e a importância <strong>de</strong>sse “<strong>de</strong>pois”<br />
que se há-<strong>de</strong> viver...<br />
É nesse sentido que <strong>de</strong>cido tomar esta iniciativa, essa “hora”, esse acto interior,<br />
que <strong>de</strong>veria preparar a intimida<strong>de</strong> mais profunda <strong>de</strong> cada coração, para<br />
esse <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro encontro com o Filho que estaria para chegar...<br />
Muitos enten<strong>de</strong>ram a mensagem, muitos aceitaram o apelo à mudança <strong>de</strong> vida,<br />
à conversão dos corações, à opção e escolha pelo essencial. Foi bonito olhar<br />
e perceber a verda<strong>de</strong> do encontro entre esses corações e Jesus Cristo que<br />
passava, permanecia, <strong>de</strong>safiava, propunha, ousava...<br />
Creio, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, que esse “baptismo” em água que celebrei com essas multidões<br />
no rio Jordão foi caminho <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> vida para imensos homens e<br />
mulheres que, <strong>de</strong>ssa forma, conseguiram aceitar a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo e se predispuseram<br />
a seguir o Evangelho do Reino incarnado na pessoa d’Esse Salvador<br />
que para nós nascia, vivia, morria e ressuscitava...<br />
2. Dada a época do ano em que já nos encontramos, sinto-me obrigada<br />
a mudar um pouco o rumo da nossa conversa... Não podia ser mais<br />
pertinente a ocasião em que <strong>de</strong>cidiu passar por <strong>Carcavelos</strong>... O Advento<br />
está a chegar... No entanto, com o clima que se faz sentir até<br />
agora neste nosso tempo, neste pais, penso que a gran<strong>de</strong> maioria das<br />
pessoas não tomará consciência da proximida<strong>de</strong> do Tempo <strong>de</strong> preparação<br />
para o Natal! Sabemos que veio anunciar a chegada <strong>de</strong> Jesus, do<br />
Messias prometido. Como tal, temos muita curiosida<strong>de</strong> em perceber<br />
como é que se preparou para essa mesma chegada. Rezava muito?<br />
Fazia jejum?<br />
Afirmava atrás que senti <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim mesmo esse “encontro” que estaria<br />
prestes a dar-se... Pressenti que a história dos homens e do mundo se iria<br />
transformar profunda e radicalmente. Deus serve-Se dos homens para Se revelar,<br />
para salvar, redimir, libertar... Assim, senti o chamamento para a preparação,<br />
em mim e nos <strong>de</strong>mais, para a vinda do Salvador do mundo a esta nossa<br />
terra, a esta nossa humanida<strong>de</strong>, às nossas vidas, aos nossos corações...<br />
Sinto, creio, que para <strong>de</strong>terminados momentos, etapas, episódios, das nossas<br />
vidas, <strong>de</strong>vemos preparar-nos a<strong>de</strong>quadamente, o melhor possível... Assim, ao<br />
vislumbrar o nascimento, s vinda do Messias à nossa História, senti que <strong>de</strong>veria<br />
viver esse “acontecimento”, esse milagre, o mais profundamente que<br />
fosse capaz. Rezava, jejuava, procurava a conversão, buscava a autenticida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vida, do coração... Queria muito – muito mesmo – que quando O encontrasse,<br />
O visse, Lhe falasse, o meu coração estivesse o mais puro e verda<strong>de</strong>iro<br />
possível...<br />
Sabia, acreditava, que era Deus que viria à minha vida. De forma única, <strong>de</strong>cisiva,<br />
<strong>de</strong>finitiva. Não podia não preparar essa vinda, esse encontro! Como nestes<br />
novos tempos, não po<strong>de</strong>mos – não <strong>de</strong>vemos – cair na tentação <strong>de</strong> celebrar<br />
um acontecimento tão fecundo quando fascinante, sem o preparar, o <strong>de</strong>sejar<br />
profundamente! Se esse encontro com o “Emanuel”, Esse Deus-connosco não<br />
for <strong>de</strong>sejado intensamente por cada um <strong>de</strong> nós, pois esse encontro não se verificará<br />
mesmo! Falar-se-á <strong>de</strong>le, po<strong>de</strong>rá até celebrar-se mas será sempre <strong>de</strong><br />
forma exteriorizada, epidérmica, não comprometida, mundana! E isso apenas<br />
conseguirá o empobrecimento da beleza, da “magia”, da radicalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sse<br />
momento sempre único nas nossas vidas...<br />
Hoje, como ontem, creio firmemente que importa preparar o Natal <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong><br />
forma séria, autêntica, para não corrermos mais o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar esta Festa<br />
presa e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> artifícios e acessórios que a <strong>de</strong>spem e privam daquilo<br />
que ele é: vida, ternura, verda<strong>de</strong>, partilha, justiça, amor, paz, generosida<strong>de</strong>,<br />
fraternida<strong>de</strong>...<br />
À CONVERSA COM...<br />
3. Imagino que tenha sido um enorme choque para si ver como é o<br />
Natal dos nossos dias. Sinto-me até um pouco envergonhado perante o<br />
seu testemunho... Mas pelo menos há algo positivo, o Natal hoje é sinónimo<br />
<strong>de</strong> “Reunião Familiar”, é como se fosse a Festa da Família. Isto<br />
tem um fundo positivo, não concorda?<br />
Sabe, às vezes tenho as minhas dúvidas! O Natal <strong>de</strong> Jesus Cristo é a Festa<br />
do Seu Nascimento e <strong>de</strong> tudo quanto isso significa e implica. É o cumprimento<br />
da Promessa, é a Aliança Nova e <strong>de</strong>finitiva, é o Amor <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong>rramado nestas<br />
criaturas que nós somos... Não é propriamente a festa da família! Para a<br />
Festa da Família existe uma outra celebração e uma outra data específicas...<br />
É o chamamento <strong>de</strong> toda a Humanida<strong>de</strong> para viver unida e solidária, como<br />
gran<strong>de</strong> família humana e não como uma “colecção” <strong>de</strong> famílias em festa, isoladas<br />
e esquecidas umas das outras!<br />
Na verda<strong>de</strong>, quantas vezes esses <strong>de</strong>nominadas “reuniões familiares” acabam<br />
simplesmente por ser uma rejeição <strong>de</strong> Jesus e da Sua Palavra?! Quantas<br />
vezes essas celebrações <strong>de</strong> família não são sinónimo <strong>de</strong> negação da verda<strong>de</strong>,<br />
da justiça, da carida<strong>de</strong>, da humilda<strong>de</strong>, da paz?! Quantas vezes esses encontros<br />
familiares, ditos em nome do Natal, <strong>de</strong> Jesus, não são simplesmente lu-<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
17
À CONVERSA COM…<br />
gares on<strong>de</strong> Jesus não tem lugar?! Encontros <strong>de</strong> famílias em nome <strong>de</strong> Jesus<br />
on<strong>de</strong> Este é, simplesmente, secundarizado, esquecido, rejeitado?! Será isso<br />
Natal?! Quantas vezes essas mesmas “reuniões” não estão absolutamente<br />
<strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> Deus?! Reúnem-se, encontram-se, festejam, em Seu nome,<br />
por Sua causa , mas Ele, em Si mesmo, não ocupa um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, o<br />
lugar primeiro e privilegiado que <strong>de</strong>veria ocupar como verda<strong>de</strong>iro e único protagonista<br />
da Festa!<br />
Homenageia-se Alguém que é esquecido e relevado para um plano imensamente<br />
inferior!<br />
Daí que, como referi atrás, às vezes duvido muito do “positivo” que isso seja!<br />
Natal é família, família humana unida, congregada, em nome <strong>de</strong> Deus. Família<br />
humana que se faz e consegue com a união <strong>de</strong> todas as famílias. Celebrar<br />
o Natal em festa familiar é, com certeza, <strong>de</strong>veras importante; acolher o Menino<br />
Deus em espírito <strong>de</strong> encontro familiar, <strong>de</strong> corações, <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong>, é fundamental.<br />
Mas famílias que acolhem, amam e adoram Esse Menino que nos<br />
foi dado, Esse Filho que nasce para nós...<br />
Em não poucas famílias reunidas para celebrar o Natal, aquilo que se verifica<br />
é a “tradução”, a “actualização” daquela expressão do Evangelho que afirma<br />
que não havia lugar para Ele nas hospedarias! Cheios do sentido da festa,<br />
ocupados e preocupados na celebração familiar, nos presentes, na ceia, nos<br />
adornos, acabam por ficar cheios <strong>de</strong> si mesmos, atafulhados em acessórios,<br />
não <strong>de</strong>ixando tempo nem espaço para Deus que nasce para nós! Que tremendo<br />
paradoxo! Mais sublinhado ainda quando estas realida<strong>de</strong>s se verificam<br />
em lares e famílias que se afirmam cristãs! Vale mais um encontro <strong>de</strong> pessoas,<br />
uma ceia <strong>de</strong> natal, uma troca <strong>de</strong> presentes naquela noite única que a celebração<br />
em Família cristã, em Família comunitária, eclesial, do Nascimento<br />
d’Aquele a Quem chamam <strong>de</strong> Salvador! Incongruências que jamais se enten<strong>de</strong>rão...<br />
Natal é Jesus Cristo!<br />
Natal é aquela gruta <strong>de</strong>spojada, marcada pela simplicida<strong>de</strong>, pelo <strong>de</strong>spojamento,<br />
pelo essencial, pelo amor profundo, autêntico, <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro, <strong>de</strong>finitivo...<br />
Natal é pureza <strong>de</strong> sentimentos, é paz verda<strong>de</strong>ira e permanente, é vida aberta<br />
aos outros e partilhada sem medos nem condições...<br />
Natal é Cristo!<br />
E só! O resto é mera construção humana! O resto é secundário. E não po<strong>de</strong>-<br />
18<br />
Veritas<br />
mos nem <strong>de</strong>vemos trocar o eterno pelo instante! Desafio-vos a celebrar este<br />
Advento e este Natal com outro espírito, isto é, on<strong>de</strong> Jesus Menino é tudo! Celebrá-l’O<br />
com os outros, em Família, em Comunida<strong>de</strong>, mas on<strong>de</strong> Ele é verda<strong>de</strong>iramente<br />
o centro, o eixo, , o “mais”, <strong>de</strong> todos os encontros, palavras, gestos,<br />
ternura, festa... Celebrá-l’O com toda a intensida<strong>de</strong> possível, on<strong>de</strong> cada momento,<br />
cada minuto e segundo <strong>de</strong>ste Natal que se aproxima seja um sinal da<br />
presença <strong>de</strong> Jesus Menino nas nossas próprias vidas. Um Natal on<strong>de</strong> Deus é<br />
a razão da Festa. Um Natal on<strong>de</strong> nos apagamos a nós próprios, on<strong>de</strong> diminuímos<br />
nós próprios, para que aquela Luz do mundo brilhe verda<strong>de</strong>ira e profundamente<br />
no coração <strong>de</strong> cada homem, a começar no nosso...<br />
Em família, em famílias, na comunhão com a gran<strong>de</strong> Família Humana, mas<br />
on<strong>de</strong> Jesus Menino é a razão, a causa, o princípio e o fim <strong>de</strong>sses mesmos encontros...<br />
4. Gostaria que nos <strong>de</strong>screvesse o sentido original e profundo do Natal.<br />
Sem saber que me pediria essa explicação ou <strong>de</strong>scrição, creio que acabei <strong>de</strong><br />
o fazer na questão anterior...<br />
Mas posso – e quero – sublinhar <strong>de</strong> novo aquilo que importa reter em cada celebração<br />
do Natal: Jesus Cristo.<br />
Jesus é o Natal e apenas n’Ele perceberemos o sentido da celebração e da<br />
festa. Natal significa nascimento. É a celebração do nascimento <strong>de</strong> Deus segundo<br />
a Carne, no coração da história humana. E é esse mistério <strong>de</strong> amor, <strong>de</strong><br />
entrega e doação que faz, cria e recria, o verda<strong>de</strong>iro e único sentido <strong>de</strong>sta<br />
quadra especial que atravessaremos brevemente. Todos os <strong>de</strong>mais aspectos<br />
das festivida<strong>de</strong>s, todos os outros elementos das celebrações, serão sempre<br />
acessório, acrescento. Que po<strong>de</strong>rão ser importantes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não secundarizem<br />
e banalizem, sempre que não relativizem o que é essencial: numa<br />
manjedoura, permanece o Omnipotente, apresentado na pobreza e na fragilida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>spojamento e simplicida<strong>de</strong> daquela Gruta <strong>de</strong> Belém.<br />
Ter a coragem <strong>de</strong> olhar para Belém, para o Presépio, e <strong>de</strong>ixar-se maravilhar<br />
diante do que po<strong>de</strong>mos e <strong>de</strong>vemos contemplar: Deus Omnipotente revelado na<br />
Sua omni-impotência! Isso é o Natal, e o seu verda<strong>de</strong>iro e único sentido e significado.<br />
5. Baseando-se na sua experiência única <strong>de</strong> “preparar os caminhos do<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
Senhor”, como nos relatam os Evangelhos, peço-lhe que <strong>de</strong>ixe à <strong>Paróquia</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong> dois conselhos para seguirmos e vivermos fielmente<br />
este Advento <strong>de</strong> <strong>2011</strong>.<br />
Talvez esta seja a questão mais fácil <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r, até porque nas respostas<br />
anteriores já conseguem discernir e enten<strong>de</strong>r vários conselhos para a real vivência<br />
do Tempo do Advento que prepara o momento maior e mais solene que<br />
é o silêncio amoroso e salvador daquela Noite Santa do Nascimento do Salvador,<br />
o Senhor Jesus...<br />
Primeiro conselho: ter a consciência <strong>de</strong> que a todos é dado uma nova oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> conversão e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são à intimida<strong>de</strong> com Deus. Querer conscientemente<br />
dar-se conta <strong>de</strong> cada um dos dias do Tempo do Advento. Para que não<br />
chegue o dia solene <strong>de</strong> Natal, sem ter a consciência <strong>de</strong> que o tempo da preparação<br />
já terminou!!!<br />
Segundo: ousar a experiencia da partilha. Ou seja, encarnar em si mesmo o espírito<br />
do Natal, que é entrega, doação, <strong>de</strong>spojamento, partilha... Do que se é<br />
e do que se tem. Não como purificação da consciência e como forma <strong>de</strong> justificar<br />
todos os supérfluos e acessórios em que sempre nos <strong>de</strong>ixamos envolver.<br />
Ser capaz <strong>de</strong> partilhar com os mais pobres – e não po<strong>de</strong>mos esquecer a crise<br />
em que se está mergulhado, os novos e envergonhados pobres que connosco<br />
convivem diariamente -; ser capaz <strong>de</strong> partilhar com os mais necessitados, algo<br />
que nos custe, no sentido <strong>de</strong> que seja gesto que ultrapasse a nossa habitual<br />
“carida<strong>de</strong>zinha”, que suplante a normal doação do que não nos faz falta e do<br />
que nos sobra!<br />
Quantos corações po<strong>de</strong>riam sentir e viver o Natal <strong>de</strong> Jesus, um Natal diferente<br />
se fossemos capazes nós mesmos, <strong>de</strong> ser diferentes, se ousássemos fazer<br />
do Natal aquilo que ele verda<strong>de</strong>iramente é: Deus simples, Deus humil<strong>de</strong>, Deus<br />
pobre, Deus <strong>de</strong>spojado!<br />
6. Daquilo que já teve oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar na nossa <strong>Paróquia</strong>,<br />
consi<strong>de</strong>ra que a nossa Comunida<strong>de</strong> tem produzido “bons frutos” e conseguirá<br />
a experiência fecunda <strong>de</strong> um sério Advento?<br />
Tenho sempre presente aquelas palavras <strong>de</strong> Jesus no Evangelho: “Não julgueis<br />
e não sereis julgados”! Isto significa que não posso nem <strong>de</strong>vo fazer julgamentos<br />
da vida particular <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> vós, da vossa interiorida<strong>de</strong> e<br />
serieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> fé...<br />
Cada um <strong>de</strong>veria, isso sim, ser capaz, com frequência, fazer um profundo e<br />
sério exame <strong>de</strong> consciência, sobre como está a viver a sua fé, a sua pertença<br />
a Cristo e à Igreja, comparando a sua vida pessoal persistente e autenticamente<br />
com o Evangelho.<br />
Que frutos “doces” e “saborosos” como a simplicida<strong>de</strong> e a verda<strong>de</strong>, a disponibilida<strong>de</strong><br />
e a transparência, a justiça e a generosida<strong>de</strong>, a alegria e a esperança,<br />
temos dado a quantos se cruzam connosco e fazem caminho com cada um <strong>de</strong><br />
nós?! Ou que frutos “azedos” e “amargos” como sejam a mentira e a hipocrisia,<br />
a corrupção e a maledicência, a apatia e a indiferença, o egoísmo e as<br />
frau<strong>de</strong>s, os diversificados adultérios e comodismos, a inveja e a inércia, tenho<br />
eu oferecido e partilhado com quem me olha, me sente, me vê?!<br />
O Advento e o consequente Natal, são sempre essa oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus<br />
para “arrepiarmos” caminhos mal andados e regressarmos à “estrada” que nos<br />
conduz ao seio <strong>de</strong> Deus. Estes tempos litúrgicos que se avizinham já no nosso<br />
horizonte são, <strong>de</strong> facto “o tempo favorável” para recomeçar uma história <strong>de</strong><br />
amor e <strong>de</strong> santida<strong>de</strong> possível a esta nossa condição <strong>de</strong> peregrinos...<br />
Mas atrevo-me a dizer também à <strong>Paróquia</strong> <strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong>, como anunciei há<br />
tanto tempo atrás: “Preparai o caminho do Senhor; endireitai as suas veredas”!<br />
Escutem sempre esta palavra como dirigida aos vossos corações e não as en<strong>de</strong>recem<br />
aos outros! Foram, e continuam a ser proclamadas, para o vosso bem<br />
À CONVERSA COM…<br />
e santificação, para a vossa felicida<strong>de</strong> e a vossa paz duradouras...<br />
Não acreditem jamais, nunca mesmo, não se convençam <strong>de</strong> que já fizeram<br />
tudo quanto podiam fazer; não amaram tanto quanto conseguem e po<strong>de</strong>m<br />
amar; não caminharam até on<strong>de</strong> conseguem ir; não se converteram nunca o<br />
suficiente. Por isso mesmo, <strong>de</strong> novo vos segredo: “Preparai o caminho do Senhor”!<br />
Preparai os vossos corações para a vinda d’Aquele que vos ama como<br />
nunca alguém alguma vez amou... preparai as vossas almas, transformai-as,<br />
para que elas tenham os contornos da Gruta <strong>de</strong> Belém e nelas o Senhor Jesus<br />
possa nascer verda<strong>de</strong>iramente.<br />
E será Natal, e haverá Natal, nas vossas vidas, nas vossas famílias, na vossa<br />
<strong>Paróquia</strong>, neste nosso mundo...<br />
(Entrevista orientada por Raquel Abecassis)<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
19
IGREJA NO MUNDO<br />
Visita à Escola EB1 <strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong><br />
Centro Comunitário Dda<br />
<strong>Paróquia</strong> explica a Pobreza<br />
às crianças<br />
No dia 17 <strong>de</strong> Outubro celebrou-se o<br />
Dia Mundial para a Erradicação da<br />
Pobreza e da Exclusão Social e a<br />
Escola EB1 dos Lombos convidou o<br />
Centro Comunitário para ir explicar<br />
às crianças o trabalho que <strong>de</strong>senvolve<br />
na luta contra a exclusão social.<br />
A tarefa coube à Marta<br />
Pereira, técnica <strong>de</strong> serviço social do<br />
projeto INTERVIR .<br />
A Marta explicou o trabalho que o<br />
Centro <strong>de</strong>senvolve e lançou ainda<br />
um <strong>de</strong>safio às crianças: fazer uma<br />
campanha para recolha <strong>de</strong> produtos<br />
para bebés, uma necessida<strong>de</strong> que<br />
é sempre difícil <strong>de</strong> suprir pelo apoio<br />
social do Centro.<br />
A Escola correspon<strong>de</strong>u, as turmas<br />
organizaram-se, e em apenas uma<br />
semana conseguiram-se: 49 embalagens<br />
<strong>de</strong> toalhitas, 15 embalagens<br />
<strong>de</strong> fraldas, 9 fraldas <strong>de</strong> pano, 10<br />
embalagens <strong>de</strong> champô, 10 embalagens<br />
<strong>de</strong> gel <strong>de</strong> banho, 4 embalagens<br />
<strong>de</strong> Pó <strong>de</strong> talco, mais <strong>de</strong> 50<br />
peças <strong>de</strong> roupa <strong>de</strong> bebé, 22 chupetas,<br />
32 embalagens <strong>de</strong> papa, e muitos<br />
outros produtos para o banho,<br />
higiene oral, boiões <strong>de</strong> fruta e leites,<br />
num total <strong>de</strong> 873 produtos.<br />
O Centro Comunitário e as famílias<br />
que vão usufruir <strong>de</strong>stes produtos<br />
agra<strong>de</strong>cem todo o empenho e <strong>de</strong>dicação<br />
dos colaboradores da escola,<br />
das crianças que mobilizaram as<br />
suas famílias, e um especial agra<strong>de</strong>cimento<br />
ao professor António<br />
Mouta que organizou o evento e a<br />
campanha!<br />
Os produtos que venham a ser angariados<br />
serão muito importantes para ajudar<br />
as famílias que recorrem ao Centro!<br />
20<br />
Veritas<br />
Marta Pereira na Escola EB1 <strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong>; Alguns dos produtos angariados na campanha.<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
Cabazes <strong>de</strong> Natal <strong>2011</strong><br />
Campanha <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong><br />
produtos para as famílias<br />
apoiadas pelo Centro<br />
Comunitário da <strong>Paróquia</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong><br />
Em <strong>Novembro</strong> e Dezembro o Centro Comunitário<br />
da <strong>Paróquia</strong> <strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong><br />
(CCPC) fará a recolha <strong>de</strong> alimentos para<br />
os cerca <strong>de</strong> 100 cabazes <strong>de</strong> Natal que<br />
todos os anos tornam o Natal <strong>de</strong> muitas<br />
famílias um pouco melhor.<br />
Cada cabaz é composto por: 1 litro <strong>de</strong><br />
azeite, 1 kg <strong>de</strong> arroz, 1 litro <strong>de</strong> vinagre, 1<br />
kg <strong>de</strong> bacalhau, 1 kg <strong>de</strong> açúcar, 1 kg <strong>de</strong><br />
batatas, 2 litros <strong>de</strong> leite, 1 kg <strong>de</strong> fruta em<br />
calda, 1 kg <strong>de</strong> farinha, esparguete, frutos<br />
secos, 1 lata <strong>de</strong> leguminosas, 2 latas<br />
<strong>de</strong> salsichas, 2 latas <strong>de</strong> atum, chocolates,<br />
fraldas e artigos para bebé e bolorei.<br />
Os contributos para os cabazes são oferecidos<br />
por particulares, comércio, empresas<br />
e escolas da zona, que se<br />
organizam para oferecer cabazes já<br />
completos.<br />
A organização dos cabazes e festa <strong>de</strong><br />
Natal é da responsabilida<strong>de</strong> da equipa<br />
do Projeto Intervir: Zulmira Pechirra e<br />
10º. Aniversário da Casa Jubileu<br />
Foi num verda<strong>de</strong>iro ambiente <strong>de</strong> festa<br />
e confraternização que no mês passado<br />
a Casa Jubileu, pertença e valência<br />
do Centro Comunitário da<br />
Paroquia <strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong> celebrou o<br />
seu 10º. Aniversário <strong>de</strong> existência.<br />
Com simplicida<strong>de</strong>, e com a presença<br />
dos actuais e antigos resi<strong>de</strong>ntes da<br />
Casa, na partilha <strong>de</strong> testemunhos <strong>de</strong><br />
vida, da importância da permanência<br />
e da vivência naquela Casa, seguida<br />
<strong>de</strong> um Lanche/Jantar, comemorou-se<br />
essa importante efeméri<strong>de</strong>.<br />
A Casa Jubileu conta com a presença<br />
<strong>de</strong> doze resi<strong>de</strong>nte (está completa) e<br />
com a ajuda e colaboração <strong>de</strong> vários<br />
técnicos e voluntários que ajudam a<br />
ultrapassar situações <strong>de</strong>veras difíceis<br />
para quem chega.<br />
Muitas <strong>de</strong>stas vidas trazem consigo<br />
marcas profundas dos mundos da toxico<strong>de</strong>pendência,<br />
do álcool, da experiência<br />
nua e crua <strong>de</strong> viverem na rua<br />
anos seguidos, sem a experiência <strong>de</strong><br />
afectos, <strong>de</strong> ternura, <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>,<br />
acabando por “abraçarem” uma tremenda<br />
solidão como “companheiros”<br />
<strong>de</strong> jornada!<br />
Na Casa Jubileu, os técnicos que os<br />
acolhem (médicos, psicólogos, terapeutas,<br />
conselheiros, assistentes sociais,<br />
etc.) são uma preciosa e<br />
indispensável ajuda a erguer esperanças<br />
e em tantos conseguirem a re<strong>de</strong>scoberta<br />
<strong>de</strong> um sorriso, <strong>de</strong> uma nova<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />
Quando se encontram já com capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> trabalhar, <strong>de</strong> se tornarem <strong>de</strong><br />
novo responsáveis por si, pelas suas<br />
vidas, po<strong>de</strong>m viver em duas casas <strong>de</strong><br />
saída que o Centro Comunitário também<br />
faculta até que consigam a sua<br />
total integração na socieda<strong>de</strong>, a nível<br />
profissional, económico, social.<br />
Dez anos da Casa Jubileu...on<strong>de</strong> muitos<br />
corações <strong>de</strong>sesperados e perdidos<br />
IGREJA NO MUNDO<br />
Marta Pereira. O papel dos voluntários<br />
também é fundamental, po<strong>de</strong>ndo ajudar<br />
<strong>de</strong> diversas maneiras: preparação<br />
e distribuição dos cabazes e animação<br />
e organização da Festa <strong>de</strong> Natal especialmente<br />
pensada para as crianças.<br />
Também po<strong>de</strong>m ajudar nesta causa oferecendo<br />
um pouco do seu tempo como<br />
voluntário, ou oferecendo produtos para<br />
os cabazes. Deixe o seu donativo na <strong>Paróquia</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong> até dia 10 <strong>de</strong> Dezembro.<br />
Se quiser ser voluntário po<strong>de</strong><br />
inscrever-se no Centro Comunitário <strong>de</strong><br />
<strong>Carcavelos</strong>!<br />
reencontraram a alegria <strong>de</strong> viver, a esperança<br />
<strong>de</strong> recomeçar, o sorriso para<br />
continuar, um dia <strong>de</strong> cada vez, a aventura<br />
<strong>de</strong> uma vida marcada pela dignida<strong>de</strong><br />
que um dia lhes tinha sido<br />
roubada.<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
21
IGREJA NO MUNDO<br />
DISTRIBUIÇÃO DO JORNAL “VERITAS”<br />
Foram vários os adolescentes e jovens<br />
que a<strong>de</strong>riram à chamada e logo se prontificaram<br />
para a distribuição pelos muitos<br />
correios da <strong>Paróquia</strong> do primeiro número<br />
do Jornal “VERITAS”, o Jornal <strong>de</strong> Informação<br />
Religiosa da <strong>Paróquia</strong> <strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong>.<br />
Naquele sábado, pelas 10h, começaram<br />
a chegar à igreja paroquial. Pouco a<br />
pouco formou-se um grupo <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />
trinta pessoas que, em cinco carros, se<br />
distribuíram por várias zonas da <strong>Paróquia</strong><br />
e, <strong>de</strong>ssa forma, levarem uma “voz” e<br />
um “rosto” diferentes da fé e da Igreja<br />
que somos, tanto a nível universal como<br />
a nível local.<br />
Em ambiente <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e confraternização,<br />
perceberam que estavam ao serviço<br />
da fé e da Comunida<strong>de</strong> e,<br />
rapidamente, distribuíram cerca <strong>de</strong> 4000<br />
Jornais.<br />
No fim da jornada, a alegria estava estampada<br />
naqueles rostos juvenis que,<br />
também <strong>de</strong>ssa forma, aprendiam a ser<br />
mensageiros da fé, missionários <strong>de</strong><br />
Cristo, aqui na <strong>Paróquia</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Carcavelos</strong>.<br />
22<br />
Veritas<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
IGREJA NO MUNDO<br />
Começo dos “Grupos <strong>de</strong> Vida” em <strong>Carcavelos</strong><br />
Início da Catequese<br />
Infantil<br />
Também nesse fim-<strong>de</strong>-semana <strong>de</strong> 23<br />
<strong>de</strong> Outubro se iniciou a Catequese Infantil<br />
da <strong>Paróquia</strong>. Do 1º. ao 6º. Ano,<br />
várias crianças com os seus Catequistas<br />
e acompanhados dos Pais “arrancaram”<br />
para uma nova etapa da sua<br />
formação cristã.<br />
Na Missa das 12h <strong>de</strong>sse Domingo,<br />
diante <strong>de</strong> toda a Comunida<strong>de</strong> cristã<br />
presente, <strong>de</strong> joelhos diante do Altar,<br />
todos os Catequistas celebraram o<br />
seu Compromisso. Uma entrega a<br />
Deus e à Igreja neste serviço tão especial<br />
e importante que é levar a Boa<br />
Nova <strong>de</strong> Jesus aos mais pequeninos<br />
da Comunida<strong>de</strong>.<br />
Um Compromisso, um gesto, que a<br />
ninguém <strong>de</strong>ixou indiferente, pois que<br />
foram autêntico testemunho <strong>de</strong> serviço<br />
a Deus, <strong>de</strong> entrega à Igreja, <strong>de</strong> amor<br />
à Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Carcavelos</strong>.<br />
Assim todos os presentes se predispusessem<br />
a apren<strong>de</strong>r estes “sinais”<br />
com que Deus vai presenteando o peregrinar<br />
<strong>de</strong> cada um!<br />
Às quartas, às sextas, aos Sábados e<br />
Domingos, conforme o número <strong>de</strong> inscritos,<br />
a <strong>Paróquia</strong> tenta dar resposta a<br />
esta obra pastoral fundamental que é<br />
a Catequese Infantil.<br />
Apesar <strong>de</strong> se terem já iniciado as activida<strong>de</strong>s,<br />
todas as Crianças interessadas<br />
po<strong>de</strong>m ainda inscrever-se na<br />
Catequese. Basta aparecer num dos<br />
dias da Catequese (4ª.feira e 6ª.feira<br />
às 17h 30; Sábados e Domingos às<br />
10h 30, no salão paroquial) e dirigirse<br />
a um Catequista.<br />
Foi no passado dia 21 <strong>de</strong> Outubro que se<br />
<strong>de</strong>u início a mais um ano <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s<br />
com os “Grupos <strong>de</strong> Vida” da <strong>Paróquia</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Carcavelos</strong>.<br />
Os “Grupos <strong>de</strong> Vida” compõem-se <strong>de</strong> adolescentes<br />
e jovens, a partir dos 12 anos.<br />
Em grupos etários, orientados por dois ou<br />
três Responsáveis, buscam olhar paras as<br />
suas vidas com os olhos da fé. Após a primeira<br />
etapa da <strong>de</strong>nominada Catequese Infantil,<br />
que acaba com a Festa da Profissão<br />
<strong>de</strong> Fé, no sexto ano, iniciam uma outra caminhada<br />
<strong>de</strong> fé nos “Grupos”.<br />
Com uma orgânica e dinamização distintas<br />
da Catequese Infantil, intenta-se que cada<br />
adolescente e jovem saiba viver a sua fé no<br />
concreto da sua vida escolar, familiar, social,<br />
eclesial, universitária, etc.<br />
Este ano pastoral, para alem dos quatro<br />
grupos habituais, iniciou-se um quinto<br />
grupo para todos aqueles que já haviam recebido<br />
o Sacramento do Crisma mas pretendiam<br />
continuar a sua caminhada<br />
humana e cristã. A este Grupo pertencem<br />
também jovens que, mesmo sem terem recebido<br />
a Confirmação, têm a ida<strong>de</strong> dos primeiros<br />
e, em Grupo, preparar-se-ão <strong>de</strong>vida<br />
e atempadamente para a celebração <strong>de</strong>sse<br />
Sacramento.<br />
Jerusalém: Religiosa belga<br />
distinguida no memorial<br />
do Holocausto<br />
A falecida religiosa belga Philomène<br />
Smeers foi proclamada ‘justa entre as<br />
nações’ em inícios do mês, em Jerusalém,<br />
numa cerimónia que <strong>de</strong>correu no<br />
memorial ‘Yad Vashem’.<br />
O título foi atribuído pela autorida<strong>de</strong> memorial<br />
pelas vítimas e heróis do Holocausto,<br />
criada pelo Governo <strong>de</strong> Israel,<br />
<strong>de</strong>stacando a protecção concedida a jovens<br />
judaicas, durante a ocupação<br />
alemã, no convento <strong>de</strong> La Hulpe, “salvando-as<br />
dos campos <strong>de</strong> concentração”,<br />
referiu a Rádio Vaticano.<br />
A religiosa, que assumiu o nome <strong>de</strong><br />
Maria Verónica, faleceu em 1973, aos 98<br />
anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />
Este ano, com a entrada do novo Pároco,<br />
os “Grupos <strong>de</strong> Vida” começaram todos juntos,<br />
no salão paroquial, com a apresentação<br />
do novo Prior a cada um e umas<br />
palavras <strong>de</strong> incentivo para o novo ano que<br />
se inicia e para aquilo que se espera dos<br />
“Grupos”.<br />
Todas as sextas-feiras, no salão paroquial,<br />
aí estão esses “valentes” que buscam consolidar<br />
a sua fé. E para pertencer aos “Grupos”<br />
basta aparecer e ter vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<br />
mais discípulo, mais amigo, mais cúmplice,<br />
<strong>de</strong> Jesus ao serviço da Igreja.<br />
No primeiro encontro estavam presentes<br />
cerca <strong>de</strong> 120 adolescentes e jovens juntamente<br />
com os seus Responsáveis.<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
23
IGREJA NO MUNDO<br />
Assis <strong>2011</strong>: «Nunca mais a guerra,<br />
nunca mais o terrorismo»<br />
Bento XVI e mais <strong>de</strong> 300 lí<strong>de</strong>res religiosos<br />
e académicos realizaram a um encontro<br />
<strong>de</strong> oração e reflexão pela paz e a<br />
América/Vaticano: Igreja preocupada<br />
com difusão da pobreza e da violência<br />
O Vaticano e os lí<strong>de</strong>res da Igreja Católica<br />
no continente americano manifestaram<br />
a sua preocupação pela<br />
difusão da “pobreza e da violência”<br />
nos países da região, revelou há dias<br />
um comunicado da Santa Sé.<br />
O documento apresentou as conclusões<br />
da 16ª reunião do Conselho Especial<br />
para a América, da Secretaria<br />
Geral do Sínodo dos Bispos, que <strong>de</strong>correu<br />
nos dias 27 e 28 <strong>de</strong> Outubro,<br />
no Vaticano.<br />
Em especial, comentou-se “a difícil<br />
situação no Haiti”, que ainda sofre as<br />
consequências do terramoto <strong>de</strong> Janeiro<br />
<strong>de</strong> 2010, com a difusão <strong>de</strong><br />
24<br />
Veritas<br />
justiça no mundo, reunidos na cida<strong>de</strong> italiana<br />
<strong>de</strong> Assis, sob o lema ‘Nunca mais a<br />
guerra, nunca mais o terrorismo’.<br />
doenças e um sentimento <strong>de</strong> “malestar”<br />
na população.<br />
Outro fenómeno analisado foi o movimento<br />
migratório, “que representa<br />
hoje um dos principais <strong>de</strong>safios para<br />
a nova evangelização”.<br />
Já a relação com as seitas foi consi<strong>de</strong>rada<br />
um "verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>safio para<br />
a Igreja”.<br />
Os participantes falaram em “interferência<br />
do Estado” na relação entre<br />
as religiões, “ignorando” o papel histórico<br />
da Igreja Católica “na primeira<br />
evangelização do Continente, bem<br />
como na formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das<br />
nações”.<br />
As palavras <strong>de</strong> João Paulo II, lançadas<br />
em Assis, em Janeiro <strong>de</strong> 2002 (pouco<br />
<strong>de</strong>pois dos atentados do 11 <strong>de</strong> Setembro,<br />
nos EUA), foram pronunciadas em<br />
diversas línguas durante um ví<strong>de</strong>o que<br />
recordava o Dia Mundial <strong>de</strong> Oração<br />
pela Paz, convocado pelo mesmo<br />
Karol Wojtyla, há precisamente 25<br />
anos.<br />
O filme retomou várias intervenções dos<br />
últimos dois Papas, em favor da paz e da<br />
<strong>de</strong>fesa do ambiente, recordando ainda<br />
imagens e sons dos conflitos mais sangrentos<br />
do último quarto <strong>de</strong> século.<br />
Nos ecrãs passaram ainda protagonistas<br />
<strong>de</strong>stes 25 anos, como o sul-africano<br />
Nelson Man<strong>de</strong>la ou a birmanesa Aung<br />
San Suu Kyi.<br />
Após uma viagem <strong>de</strong> comboio, Bento<br />
XVI e os representantes religiosos dirigiram-se<br />
para a basílica <strong>de</strong> Santa<br />
Maria dos Anjos, on<strong>de</strong> foram acolhidos<br />
pelo car<strong>de</strong>al Peter Turkson, presi<strong>de</strong>nte<br />
do Conselho Pontifício Justiça e Paz,<br />
organismo da Santa Sé, que sublinhou<br />
o "chamamento comum a viver juntos<br />
em paz".<br />
Em seguida, tiveram início as intervenções<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>z lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> religiões e<br />
uma representante dos não crentes,<br />
com o patriarca ecuménico <strong>de</strong> Constantinopla<br />
(Igreja Ortodoxa), Bartolomeu<br />
I, a <strong>de</strong>clarar que “todo o diálogo<br />
verda<strong>de</strong>iro” traz em si as sementes <strong>de</strong><br />
uma “metamorfose possível”<br />
“É da indiferença que nasce o ódio”,<br />
referiu o patriarca, que recordou a “primavera<br />
árabe” e alertou para a situação<br />
dos cristãos no Médio Oriente<br />
Por seu lado, Rowan Williams, arcebispo<br />
da Cantuária, primaz da Comunhão<br />
Anglicana (Inglaterra), <strong>de</strong>ixou<br />
aos presentes uma convicção que diz<br />
ser partilhada por todos os crentes:<br />
“Em última instância, não somos estranhos<br />
uns para os outros”.<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
Bispos europeus reclamam<br />
maior «corresponsabilida<strong>de</strong>»<br />
social na procura <strong>de</strong> soluções<br />
Os Bispos europeus reclamaram maior<br />
“corresponsabilida<strong>de</strong>” social na procura <strong>de</strong><br />
soluções para a crise financeira, no final <strong>de</strong><br />
uma reunião em Bruxelas, Bélgica, on<strong>de</strong><br />
também foi analisada o "futuro da integração<br />
europeia”.<br />
De acordo com um comunicado da comissão<br />
das Conferências Episcopais da União<br />
Europeia (COMECE), do encontro sobressaiu<br />
ainda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “uma visão<br />
política a longo prazo”, no sentido <strong>de</strong> ultrapassar<br />
a actual conjuntura.<br />
Peter Wagner, representante da União Europeia,<br />
falou sobre a missão do grupo <strong>de</strong><br />
trabalho recentemente criado para a Grécia,<br />
um dos países em maiores dificulda<strong>de</strong>s<br />
na chamada Zona Euro.<br />
A partir <strong>de</strong> uma análise feita por diversos<br />
especialistas económicos, como Jean-<br />
Pierre Jouyet, presi<strong>de</strong>nte da Autorida<strong>de</strong><br />
João Paulo II: Possível milagre estudado<br />
no México para lançar canonização<br />
Um possível milagre atribuído à intercessão<br />
<strong>de</strong> João Paulo II (1920-2005), no México,<br />
po<strong>de</strong>ria abrir caminho à <strong>de</strong>claração<br />
como “santo” do Papa polaco, beatificado<br />
em Maio, revela a Rádio Vaticano.<br />
O padre Jorge Oscar Herrera Vargas,<br />
porta-voz da arquidiocese <strong>de</strong> Yucatán, revelou<br />
que o caso vai ser julgado por um tribunal<br />
eclesiástico e enviado ao postulador<br />
da causa <strong>de</strong> canonização, padre Slawomir<br />
O<strong>de</strong>r.<br />
Em causa está a cura “repentina” <strong>de</strong> Sara<br />
Guadalupe Fuentes, recuperada <strong>de</strong> um<br />
tumor que obstruía, em 80%, a sua garganta<br />
e a impedia <strong>de</strong> comer <strong>de</strong>vidamente,<br />
numa altura em que as relíquias do beato<br />
João Paulo II visitaram o México.<br />
O Papa polaco foi proclamado beato por<br />
Bento XVI a 1 <strong>de</strong> Maio, na Praça <strong>de</strong> São<br />
Pedro, numa cerimónia em que participaram<br />
cerca <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> pessoas, encerrando<br />
a penúltima etapa para a<br />
<strong>de</strong>claração da santida<strong>de</strong>, na Igreja Católica.<br />
De acordo com o direito canónico, para a<br />
canonização é necessário um novo milagre<br />
atribuível à intercessão do beato João<br />
Francesa dos Mercados Financeiros<br />
(FFMA), foi possível verificar que a crise<br />
está ligada a “políticas eleitoralistas e <strong>de</strong><br />
curto prazo que foram consecutivamente<br />
implementadas nas últimas décadas”.<br />
Para a COMECE, ainda que “essas escolhas<br />
se tenham reflectido frequentemente<br />
num consumismo <strong>de</strong>senfreado, a atribuição<br />
<strong>de</strong> culpas não levará a lado nenhum”.<br />
“Os cidadãos europeus têm <strong>de</strong> se manter<br />
unidos e exercer da sua solidarieda<strong>de</strong> para<br />
ultrapassar a crise, que po<strong>de</strong> ser uma oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> renovação”, salientam os prelados.<br />
Quanto ao contributo que a Igreja po<strong>de</strong> dar,<br />
no sentido <strong>de</strong> aplicar estas i<strong>de</strong>ias, os bispos<br />
mostram-se convencidos <strong>de</strong> que ela<br />
será sobretudo “uma força <strong>de</strong> coesão e <strong>de</strong><br />
esperança”, no meio <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />
“ameaçada pelo populismo e a divisão”.<br />
Paulo II a partir <strong>de</strong>sse dia.<br />
Concluídas estão, em <strong>de</strong>finitivo, as investigações<br />
sobre as chamadas “fama <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>”<br />
e “virtu<strong>de</strong>s heróicas” <strong>de</strong> Karol<br />
Wojtyla (1920-2005), eleito Papa em Outubro<br />
<strong>de</strong> 1978, o que torna o processo <strong>de</strong> canonização<br />
menos moroso.<br />
O Vaticano escolheu o dia 22 <strong>de</strong> Outubro,<br />
início <strong>de</strong> pontificado <strong>de</strong> João Paulo II, para<br />
a celebração da memória litúrgica do<br />
beato.<br />
A Santa Sé dispõe um calendário próprio<br />
para a diocese <strong>de</strong> Roma (da qual todos os<br />
Papas são bispos) e as dioceses da Polónia<br />
(país natal <strong>de</strong> João Paulo II), regulando<br />
o “culto litúrgico” ao futuro beato.<br />
Outras conferências episcopais, dioceses<br />
ou famílias religiosas po<strong>de</strong>m apresentar<br />
um “pedido <strong>de</strong> inscrição” <strong>de</strong>sta memória litúrgica<br />
nos seus calendários próprios, por<br />
causa do “carácter <strong>de</strong> excepcionalida<strong>de</strong>”<br />
<strong>de</strong> que se revestiu esta beatificação.<br />
Nesse sentido, é permitido que, no primeiro<br />
ano após a cerimónia, seja possível<br />
celebrar uma “Missa <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento a<br />
Deus” em locais e dias “significativos”, por<br />
<strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> cada bispo diocesano.<br />
IGREJA NO MUNDO<br />
Vaticano: Papa pe<strong>de</strong> respeito<br />
pela liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> culto<br />
Bento XVI recebeu no Vaticano o novo embaixador<br />
da Holanda, pedindo respeito pela<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> culto e <strong>de</strong>ixando críticas ao<br />
que classificou como “mentalida<strong>de</strong> antirreligiosa”.<br />
“Essa liberda<strong>de</strong> não é ameaçada apenas<br />
por restrições legais nalgumas partes do<br />
mundo, mas por uma mentalida<strong>de</strong> antireligiosa<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> muitas socieda<strong>de</strong>s,<br />
mesmo quando a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> religião é<br />
protegida pela lei. É por isso que esperamos<br />
que o seu Governo seja vigilante,<br />
para que a liberda<strong>de</strong> religiosa e a liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> culto continuem a ser protegidos<br />
e promovidos, tanto na sua terra quanto<br />
no exterior", disse o Papa ao diplomata<br />
holandês, Joseph Weterings.<br />
A Igreja Católica na Holanda conta com<br />
4,26 milhões <strong>de</strong> fiéis, mais <strong>de</strong> 25% da população<br />
e é o maior “grupo religioso” no<br />
país, segundo dados do Vaticano, apesar<br />
da diminuição do número <strong>de</strong> baptizados<br />
nas últimas décadas.<br />
Bento XVI abordou também a questão da<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da Santa Sé, afirmando que<br />
esta não é “um po<strong>de</strong>r económico ou militar”,<br />
“A sua voz moral exerce consi<strong>de</strong>rável influência<br />
à volta do mundo. Uma das razões<br />
para isso é precisamente o facto <strong>de</strong><br />
a instância moral da Santa Sé não ser<br />
afectada por interesses políticos ou económicos<br />
ou coerções eleitorais <strong>de</strong> um par-<br />
tido político. A sua contribuição à diplomacia<br />
internacional consiste largamente<br />
em articular os princípios éticos que <strong>de</strong>veriam<br />
sustentar a or<strong>de</strong>m política e social<br />
e em chamar a atenção para a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> acções para remediar as violações<br />
<strong>de</strong> tais princípios", referiu o Papa.<br />
Segundo Bento XVI, a diplomacia da<br />
Santa Sé “não é conduzida por motivos<br />
confessionais ou pragmáticos, mas com<br />
base em princípios universalmente aplicáveis<br />
que são tão reais quanto os elementos<br />
físicos do ambiente natural”.<br />
"Como uma voz para os que não têm<br />
voz, e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo os direitos dos in<strong>de</strong>fesos,<br />
incluindo os pobres, doentes, não<br />
nascidos, idosos e os membros <strong>de</strong> grupos<br />
minoritários que sofrem injustas discriminações,<br />
a Igreja procura sempre<br />
promover a justiça natural”, acrescentou.<br />
O Papa admitiu que os membros da<br />
Igreja “nem sempre vivem à altura dos<br />
parâmetros morais que ela propõe”, mas<br />
enten<strong>de</strong> que isso não a impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> “continuar<br />
a exortar as pessoas para procurarem<br />
fazer o que está <strong>de</strong> acordo com a<br />
justiça”.<br />
Em conclusão, Bento XVI <strong>de</strong>stacou pontos<br />
<strong>de</strong> colaboração em comum entre a<br />
Santa Sé e a Holanda, particularmente<br />
no que diz respeito à resolução pacífica<br />
<strong>de</strong> conflitos internacionais e à oposição<br />
à proliferação <strong>de</strong> armas.<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
25
IGREJA NO MUNDO<br />
Car<strong>de</strong>al-Patriarca diz que<br />
actual crise po<strong>de</strong> «pôr<br />
em questão» nível <strong>de</strong> vida<br />
O Car<strong>de</strong>al-Patriarca <strong>de</strong> Lisboa e Presi<strong>de</strong>nte<br />
da Conferência Episcopal Portuguesa<br />
(CEP) afirmou há dias em Fátima<br />
que a actual crise económica no país<br />
“po<strong>de</strong> pôr em questão níveis <strong>de</strong> vida conseguidos”<br />
e agravar “a exigência da austerida<strong>de</strong>”.<br />
Na abertura dos trabalhos da 178ª Assembleia<br />
Plenária do Episcopado católico,<br />
D. José Policarpo admitiu que “este<br />
agravamento po<strong>de</strong>, porventura, ser o resultado<br />
das medidas adoptadas para<br />
vencer a presente crise”.<br />
Este responsável apelou ainda à “equida<strong>de</strong>,<br />
nos sacrifícios que se pe<strong>de</strong>m, nos<br />
contributos que se esperam <strong>de</strong> cada pessoa<br />
ou <strong>de</strong> cada grupo social”.<br />
“Po<strong>de</strong> acontecer que se peçam sacrifícios<br />
que acabem por prejudicar o bem<br />
colectivo”, advertiu.<br />
O Patriarca <strong>de</strong> Lisboa disse que a socieda<strong>de</strong><br />
portuguesa está a “atravessar um<br />
período difícil” que traz exigências “para<br />
todos” e po<strong>de</strong> agravar “a situação dos<br />
mais <strong>de</strong>sfavorecidos”.<br />
“A todos os portugueses, <strong>de</strong> modo particular<br />
aos nossos irmãos para quem este<br />
período vai ser mais duro e exigente, dirigimos<br />
uma palavra <strong>de</strong> muito amor. Os<br />
mais pobres e os que sofrem serão sempre<br />
os nossos aliados privilegiados”, referiu,<br />
em nome dos bispos.<br />
“A Igreja fará por vós e convosco, tudo o<br />
que pu<strong>de</strong>r. Queremos ser, para todos,<br />
porta <strong>de</strong> acolhimento e lugar da partilha”,<br />
acrescentou D. José Policarpo.<br />
O presi<strong>de</strong>nte da CEP disse que não compete<br />
ao episcopado católico “apresentar<br />
soluções ou criticar as soluções apresentadas<br />
por quem tem a missão <strong>de</strong>mocrática<br />
<strong>de</strong> o fazer”, mas “proclamar<br />
valores fundamentais”.<br />
Entre estes, o Car<strong>de</strong>al-Patriarca apelou<br />
em particular à “verda<strong>de</strong>”, “no concreto<br />
das situações”.<br />
“Que ninguém atraiçoe a verda<strong>de</strong>, que<br />
ninguém se sirva do sofrimento colectivo<br />
para impor as suas verda<strong>de</strong>s”, alertou.<br />
Mais à frente, D. José Policarpo pediu<br />
“solidarieda<strong>de</strong>”, consi<strong>de</strong>rando que “esta<br />
exige que cada um dê priorida<strong>de</strong> aos outros,<br />
aceite que faz parte da solução colectiva”.<br />
26<br />
Veritas<br />
“A solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>nuncia todas as atitu<strong>de</strong>s<br />
individualistas, quer <strong>de</strong> indivíduos,<br />
quer <strong>de</strong> grupos ou classes. A socieda<strong>de</strong><br />
é um todo, <strong>de</strong>ve ser comunida<strong>de</strong> e buscar<br />
o bem comum, não apenas o bem individual<br />
e particular”, precisou.<br />
Neste contexto, o presi<strong>de</strong>nte da CEP observou<br />
que “ninguém, pessoas, grupos e<br />
instituições, está isento <strong>de</strong> procurar perceber<br />
qual é o seu contributo para a solução<br />
das dificulda<strong>de</strong>s”, criticando os que<br />
“teimam em pedir tudo ao Estado”.<br />
O Car<strong>de</strong>al-Patriarca dirigiu-se explicitamente<br />
a “políticos, governantes, empresários,<br />
dirigentes das associações <strong>de</strong><br />
trabalhadores”, referindo que “só os que<br />
servem merecem as honras da glória e<br />
do triunfo”.<br />
D. José Policarpo aludiu ainda às questões<br />
que vão ocupar os bispos durante<br />
os próximos dias, como “encontrar caminhos<br />
<strong>de</strong> pastoral para a renovação da<br />
Igreja em Portugal” e a re<strong>de</strong>finição das<br />
Comissões Episcopais.<br />
Individualismo ameaça<br />
catolicismo português,<br />
diz Bispo do Porto<br />
O “individualismo”, “imediatismo” e “tolerantismo”<br />
constituem “gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios” ao catolicismo<br />
em Portugal, afirmou o Bispo do<br />
Porto numa conferência realizada na Fundação<br />
Inês <strong>de</strong> Castro, em Coimbra.<br />
As “instituições sobrevivem com dificulda<strong>de</strong>s,<br />
dada a gran<strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> dos itinerários<br />
individuais, tanto físicos como<br />
mentais” e “o cristianismo não é totalmente<br />
alheio a este movimento”, apontou D. Manuel<br />
Clemente no discurso publicado no site<br />
da diocese portuense.<br />
O historiador referiu que “a realização comunitária<br />
da religião mantém-se mal num<br />
mundo tão disperso e os ritmos comunitários<br />
<strong>de</strong> iniciação e prática ce<strong>de</strong>ram face a<br />
outros ritmos <strong>de</strong> socialização e encontro,<br />
mais particulares e variáveis”.<br />
No âmbito da cultura, “a revisão constante<br />
<strong>de</strong> certezas adquiridas, a <strong>de</strong>sconfiança pósmo<strong>de</strong>rna<br />
em relação às pré e metanarrativas”<br />
e a “comercialização geral e publicitária<br />
dos gostos e comportamentos” contribuem<br />
para que o catolicismo sofra “uma erosão<br />
permanente”.<br />
“Estes e outros factores dificultam pon<strong>de</strong>rações<br />
comunitárias ou mesmo individuais,<br />
retraem para a sensibilida<strong>de</strong> ocasional, ‘cultivam’<br />
pouco ou nada as opções, reagem<br />
instintivamente às normas recebidas, <strong>de</strong>sconfiam<br />
geralmente das instituições que as<br />
transportam”, indicou.<br />
Na intervenção intitulada “O catolicismo português<br />
<strong>de</strong> ontem para amanhã”, o Prémio<br />
Pessoa 2009 assinalou que “as afirmações<br />
<strong>de</strong>finidas dalgum crente são facilmente tomadas<br />
como fanatismo ou <strong>de</strong>spropósito” e<br />
“a proposta que faça a terceiros dum caminho<br />
religioso” é qualificada <strong>de</strong> “intromissão<br />
abusiva”.<br />
“Não sendo esse o seu sentido original e <strong>de</strong><br />
algum modo esquecendo o papel histórico<br />
que realmente <strong>de</strong>sempenhou, a “tolerância”<br />
po<strong>de</strong> significar hoje, pura e simplesmente,<br />
“abandono <strong>de</strong> campo”, <strong>de</strong>caindo em tolerantismo”,<br />
acrescentou.<br />
O prelado consi<strong>de</strong>ra que seria “complexo”<br />
para o catolicismo e outras confissões religiosas<br />
a repercussão daquele “estado <strong>de</strong><br />
espírito em políticas públicas que extravasassem<br />
o (legítimo) aconfessionalismo estatal<br />
no (incorrecto) aconfessionalismo da<br />
socieda<strong>de</strong>”, que se mantém “religiosa em<br />
gran<strong>de</strong> parte”.<br />
“Como instituição quase global e mais antiga<br />
na socieda<strong>de</strong> portuguesa”, o catolicismo<br />
“tenta re<strong>de</strong>finir-se e relançar-se, com<br />
algumas linhas maiores <strong>de</strong> pensamento e<br />
acção”, como “dar visibilida<strong>de</strong> ao testemunho<br />
cristão, fazer da carida<strong>de</strong> a priorida<strong>de</strong><br />
dos programas pastorais” e conce<strong>de</strong>r “precedência<br />
à intimida<strong>de</strong> com Deus”.<br />
<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02
Papa critica uniões conjugais fora<br />
do matrimónio, feitiçaria e tribalismo<br />
étnico em Angola e São Tomé<br />
O Papa criticou as uniões conjugais fora do sacramento do matrimónio,<br />
a feitiçaria e o tribalismo étnico que ocorrem em Angola e São<br />
Tomé e Príncipe, durante a audiência que conce<strong>de</strong>u no Vaticano a Bispos<br />
daqueles países.<br />
No discurso revelado pela Sala <strong>de</strong> Imprensa da Santa Sé, Bento XVI<br />
afirmou que o primeiro dos “três escolhos” on<strong>de</strong> “naufraga a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
muitos santomenses e angolanos que a<strong>de</strong>riram a Cristo” é o “chamado<br />
‘amigamento’, que contradiz o plano <strong>de</strong> Deus para a geração e a família<br />
humana”.<br />
“O reduzido número <strong>de</strong> matrimónios católicos, nas vossas comunida<strong>de</strong>s,<br />
indica uma hipoteca que grava sobre a família, cujo valor insubstituível<br />
para a estabilida<strong>de</strong> do edifício social conhecemos”, acentuou o<br />
Papa.<br />
Depois <strong>de</strong> lembrar que a Conferência Episcopal <strong>de</strong> Angola e São Tomé<br />
“escolheu o matrimónio e a família como priorida<strong>de</strong>s”, Bento XVI vincou<br />
que o “amor esponsal” <strong>de</strong>ve ser “único e indissolúvel”, sendo este um<br />
“tesouro precioso” que “<strong>de</strong>ve ser salvaguardado, custe o que custar”.<br />
O segundo obstáculo que a Igreja Católica <strong>de</strong>ve resolver é a divisão<br />
IGREJA NO MUNDO<br />
“entre o cristianismo e as religiões tradicionais africanas” patente nos baptizados:<br />
“Aflitos com os problemas da vida, não hesitam em recorrer a práticas<br />
incompatíveis com o seguimento <strong>de</strong> Cristo”.<br />
“Efeito abominável é a marginalização e mesmo o assassinato <strong>de</strong> crianças<br />
e idosos, a que são con<strong>de</strong>nados por falsos ditames <strong>de</strong> feitiçaria”, <strong>de</strong>nunciou<br />
o Papa, que pediu aos prelados para chegarem a um método que conduza<br />
à “<strong>de</strong>finitiva erradicação” daquelas práticas, “com a colaboração dos governos<br />
e da socieda<strong>de</strong> civil”.<br />
A intervenção <strong>de</strong> Bento XVI também mencionou os “resquícios <strong>de</strong> tribalismo<br />
étnico palpáveis nas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s que ten<strong>de</strong>m a fechar-se, não<br />
aceitando pessoas originárias doutras partes da nação”.<br />
Na Igreja “não há lugar para qualquer tipo <strong>de</strong> divisão”, dado que o “vínculo<br />
<strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong> é mais forte” do que o das famílias e das tribos, salientou o<br />
Papa.<br />
“Os cristãos respiram o espírito do seu tempo e sofrem a pressão dos costumes<br />
da socieda<strong>de</strong> em que vivem; mas, pela graça do Baptismo, são chamados<br />
a renunciar às tendências nocivas imperantes e a caminhar<br />
contracorrente”, frisou Bento XVI.<br />
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<strong>Novembro</strong> - <strong>2011</strong> - Nº 02 Veritas<br />
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Missas<br />
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3ª. feira – 10h – Celebração da Palavra com distribuição da Sagrada Comunhão<br />
3ª.feira – 19h 15<br />
4ª.feira – 10h e 19h 15<br />
5ª.feira – 10h e 19h 15<br />
6ª.feira – 10h e 19h 15<br />
Sábado – 10h e 19h<br />
Domingo – 10h 30, 12h e 19h<br />
Igreja<br />
De 2ª. feira a 6ª. feira – 9h às 12h e das 16h às 20h<br />
Sábados e Domingos – 9h às 13h e das 17h às 20h<br />
Cartório<br />
2ª. feira a 6ª.feira – 9h às 12h<br />
2ª. feira – 16h às 19h<br />
3ª. feira – 18h às 20h<br />
4ª. feira a 6ª. feira – 16h às 20h<br />
Acolhimento<br />
2ª. a 6ª. feira - 9h às 12h e das 16h às 19h<br />
Sábados e Domingos - 9h às 13h e das 17h às 20h<br />
Contactos da Igreja - tel: 214 569 660 I www.paroquia<strong>de</strong>carcavelos.com<br />
Contactos do Centro Comunitário - tel: 214 578 952 I www.centrocomunitário.net<br />
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