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No caso do convite do Facebook,<br />
eu me interessei em conferir a lista<br />
alheia, em busca de boas dicas culturais,<br />
mais do que em fazer a minha própria.<br />
Portanto, além de colocar as preferências em ordem,<br />
os listeiros acabam, de certa maneira, agindo<br />
como formadores de opinião. Sobretudo quando o<br />
ambiente é uma rede social – só no Brasil, as redes<br />
atraem 29 milhões de pessoas por mês, o que quer<br />
dizer que oito em cada dez brasileiros com acesso à<br />
internet estão em algum desses sites, como Facebook<br />
ou Orkut. “Tecnologicamente, um blog tem o mesmo<br />
poder comunicativo que a CNN”, lembra o sociólogo<br />
italiano Massimo di Felice, especialista em mídias digitais<br />
e professor da ECA/USP.<br />
O multimídia Marcelo Tas é um desses formadores de<br />
opinião que não escondem seu gosto em elencar os<br />
acontecimentos. Muita gente aguarda com ansiedade<br />
suas listas. No CQC, programa comandado por ele<br />
na TV Bandeirantes, sua trupe arranca gargalha<strong>das</strong><br />
com o quadro “Top Five”, que pinça, semanalmente,<br />
a dedo, as cinco escorregadelas mais diverti<strong>das</strong> exibi<strong>das</strong><br />
na televisão. Já entraram para essa disputada lista<br />
uma repórter entrevistando pombos e a apresentadora<br />
Hebe Camargo caindo do sofá. Recentemente,<br />
Marcelo Tas elegeu as dez piores manca<strong>das</strong> do Twitter.<br />
Entre elas, o tweet de Sasha, filha de Xuxa, em que<br />
ela escreveu “sena”, em vez de “cena”, e as palavras da<br />
cantora Sandy dizendo que as vítimas do terremoto<br />
no Haiti podiam esperar, uma vez que em terras brasileiras<br />
as coisas não iam tão bem. No sentido inverso,<br />
neste ano, Tas foi incluído na lista dos cinco humoristas<br />
mais influentes do mundo, elaborada pela revista<br />
americana Foreign Policy, especializada em política.<br />
Marcelo Tas apresenta<br />
o quadro “Top Five” do<br />
programa CQC | foto:<br />
divulgação<br />
Mas que mania é essa?<br />
Muitos dos listeiros juram que esse hábito surgiu<br />
bem antes de Rob Fleming. O relações-públicas<br />
Denis Pacheco, de 27 anos, autor do blog Topismos<br />
(topismos.blogspot.com), diz que foi influenciado,<br />
sim, pelo personagem, mas que sempre teve esse<br />
hobby. “Sempre tive o hábito de fazer listas, não necessariamente<br />
listas públicas. Usava-as como forma<br />
de me organizar para ver filmes e séries, ouvir discos<br />
ou hierarquizar que livros ia ler primeiro. Anotava em<br />
bloco de notas ou agen<strong>das</strong>, somente como forma de<br />
controle”, afirma. O estudante de engenharia Daniel<br />
Souza, que pretende lançar nos próximos meses um<br />
blog só com suas listas, concorda: “Desde criança eu<br />
arrumava minhas coleções numa ordem com os itens<br />
que mais gosto em cima da pilha”.<br />
Todo listeiro que se preze tem regras para incluir (ou excluir)<br />
algo de sua lista. A maioria diz que os critérios são<br />
principalmente emocionais – o item deve ter alguma<br />
ligação com sua história de vida e sua maneira de ver o<br />
mundo. “É preciso ter uma ligação emocional comigo.<br />
Nem sempre é fácil mensurar relevância, ainda mais<br />
quando se trata de cultura pop, por isso, como assino a<br />
lista, o maior critério que utilizo é mesmo minha relação<br />
Denis Pacheco, autor do blog Topismos: listas<br />
como forma de controle | foto: André Seiti<br />
com cada um dos objetos ali mencionados. Além do<br />
critério emocional, às vezes utilizo regras mais simples<br />
como cronologia ou ordem alfabética”, explica Pacheco.<br />
Segundo o listeiro José Navarro, esses critérios são tão<br />
rígidos que, em geral, uma lista demora dias (ou meses)<br />
para ser finalizada. “Outro dia me pediram para fazer a<br />
lista <strong>das</strong> dez melhores ban<strong>das</strong> dos anos 1990, no melhor<br />
estilo Rob Fleming. Pior: tive só uma semana para<br />
entregar. Passei dias sem dormir, incluindo e excluindo<br />
itens”, lembra ele, um fanático por rock. “Cheguei à conclusão<br />
de que dez era muito pouco para uma década.<br />
Quando terminei, já fui logo avisando: tenho certeza<br />
que vou querer mudar isso mais tarde.”<br />
Os amigos dos listeiros, como esse que pediu a seleção<br />
a Navarro, já estão acostumados e acabam entendendo<br />
esse estado volúvel constante, assim como essa mania<br />
de hierarquizar tudo o tempo inteiro. “Já fui chamado<br />
de obcecado algumas (várias) vezes. Costumava andar<br />
com uma planilha de Excel no celular onde listo os filmes<br />
a que assisti, os livros que queria ler e os discos<br />
que mais gostei no último ano”, resume Pacheco.<br />
Ele acredita que depois de tantos anos passou a<br />
ser mais compreendido por amigos e familiares.<br />
“Ou então eles aprenderam a fingir<br />
muito bem”, diverte-se.<br />
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