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A memória ao alcance das mãos

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Encontro de colecionadores de postais publicitários, em São Paulo<br />

Várias pessoas, a mesma mania<br />

Colecionar sozinho ou em grupo? Algumas coleções têm em comum a<br />

tendência de gerar clubes e associações de colecionadores.<br />

Por Fernanda Castello Branco | Fotos André Seiti<br />

reportagem<br />

O homem coleciona desde a pré-história, quando começou a acumular objetos. O que era feito de forma<br />

solitária, por uma necessidade de sobrevivência, virou um hobby. E esse hobby pode unir em clubes ou<br />

associações pessoas com a mesma mania de juntar determinados objetos.<br />

Há quem prefira nem chamar de clube os grupos mais informais <strong>ao</strong>s quais pertence. “Somos apenas pessoas<br />

que têm a mesma afinidade por coleções”, explica Raquel Belchior, moradora de São Paulo, dona de 20 mil<br />

postais publicitários.<br />

Ela integra um grupo de colecionadores de postais, que costumava se reunir a cada três meses, mas atualmente<br />

se vê apenas uma vez por ano. “Participam de 30 a 35 pessoas, inclusive de outros estados”, conta<br />

Raquel, que organiza os eventos. “No começo, realizávamos no Centro Cultural São Paulo, mas depois fiz<br />

contato com umas lanchonetes. O mais legal é que é bem provável que se veja um garotinho de 8 anos<br />

trocando postais com um senhor de 70”, completa.<br />

Para a psicologia, essa cena é perfeitamente entendida. “A mania de colecionar é normal, comum a determina<strong>das</strong><br />

fases de desenvolvimento. Por exemplo: crianças colecionam papéis de carta, conchinhas, tampinhas<br />

de garrafa, álbuns de adesivos. Ao crescer, elas mudam os interesses: figurinhas, latinhas de cerveja<br />

de diferentes países, postais, caixinhas decora<strong>das</strong>, selos. Esse é um comportamento que pode perdurar ou<br />

modificar-se de uma hora para outra, sem problemas”, analisa Marina Vasconcellos, psicóloga formada pela<br />

PUC/SP, com especialização em psicodrama terapêutico.<br />

O problema não é a idade e sim<br />

saber diferenciar mania de colecionar<br />

de colecionismo. “Colecionismo ou compulsão<br />

por armazenamento é um dos sintomas<br />

do TOC (transtorno obsessivo compulsivo),<br />

em que a pessoa guarda coisas que, para os outros,<br />

parecem absolutamente dispensáveis e sem qualquer<br />

utilidade”, explica Marina.<br />

Unidos em nome da arte<br />

Uma forma de incentivar o surgimento de colecionadores<br />

é proposta pelo MAM, tanto no Rio de Janeiro<br />

quanto em São Paulo. Na capital paulista, seus clubes<br />

de colecionadores começaram nos anos 1980.<br />

Atualmente, o museu tem clubes de gravura, fotografia<br />

e design. Os sócios pagam uma anuidade que vai<br />

de 3 mil reais (fotografia e design) a 3.400 reais (gravura)<br />

e recebem, a cada ano, cinco obras concebi<strong>das</strong> por<br />

artistas selecionados pelos curadores. Os trabalhos<br />

saem com tiragens de cem exemplares e passam a<br />

integrar o acervo do museu.<br />

No total, são 275 sócios: 100 de fotografia, 100 de gravura<br />

e 75 de design, clube criado em 2010. Como o<br />

número de sócios é limitado a cem – e eles têm preferência<br />

na hora de renovar sua participação anual –,<br />

desde 2009 há uma fila de espera com 160 nomes.<br />

Sobre o perfil dos colecionadores, Fátima Pinheiro,<br />

coordenadora dos clubes, conta que é variado.<br />

“Geralmente, as pessoas têm um nível social e cultural<br />

elevado ou em ascensão, mas as profissões são<br />

diversas: médicos, advogados, fotógrafos, arquitetos,<br />

jornalistas, adidos culturais etc.”, conta. “Em relação à<br />

idade, temos sócios de 23 a 70 anos. E temos homens<br />

e mulheres na mesma proporção”, completa.<br />

Cauê Alves, curador do clube de gravura, o mais antigo,<br />

ressalta que a confiança dos sócios nos curadores é<br />

grande. “Eles não opinam sobre os artistas a ser escolhidos.<br />

Sugestões sempre chegam, mas eles confiam no<br />

museu”, explica. “Nossa função é fazer com que cada<br />

integrante do clube, tendo contato com o sistema,<br />

passe a se interessar por adquirir mais obras”, afirma.<br />

“Colecionismo ou compulsão por armazenamento é um<br />

dos sintomas do TOC, em que a pessoa guarda coisas que,<br />

para os outros, parecem absolutamente dispensáveis e sem<br />

qualquer utilidade.” (Marina Vasconcellos)<br />

Rachel Belchior, com alguns de seus 20 mil postais, e Lelê Mak<strong>ao</strong>, segurando uma de suas 700 Hello Kitty<br />

44 Continuum Itaú Cultural Participe com suas ideias 45

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