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Visitantes na abertura da exposição Convivências – Fundação Iberê Camargo | foto: Cristiano Sant’Anna<br />
Debaixo da ponta do iceberg<br />
reportagem<br />
Antes e depois de qualquer exposição, há sempre um imenso trabalho que<br />
não aparece <strong>ao</strong> público. Conheça os bastidores de museus como Reina Sofía,<br />
Malba e MoMA e da Fundação Iberê Camargo.<br />
Por Augusto Paim<br />
Diz-se que o jornalismo é a arte de sujar os sapatos. O repórter que enfrentou a chuvosa Porto Alegre de 9 de<br />
novembro de 2010 há, no entanto, de contradizer: o jornalismo é a arte de molhar os sapatos.<br />
Na galeria da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, do Instituto de Artes da UFRGS, o repórter encontrou<br />
abrigo contra a chuva. Enquanto a entrevistada Ana Maria Albani de Carvalho, pesquisadora e professora do<br />
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, resolvia algumas pendências, ele observava o ambiente <strong>ao</strong><br />
redor. Uma exposição de gravuras seria inaugurada em dois dias; em razão disso, alunos equilibravam-se em<br />
esca<strong>das</strong> pendurando quadros, martelos martelavam – tap-tap-tap – e pregos afundavam na madeira – tumtum-tum.<br />
Junto a uma mesa, uma estudante montava cada moldura numa colagem com espuma branca.<br />
O repórter não sabia, mas sua reportagem começava ali.<br />
A informatização dos museus – processo buscado e recomendado<br />
pelo Ministério da Cultura através do Sistema Nacional de<br />
Museus –, quando aplicada no caso específico do acervo, não<br />
resolve a questão da falta de espaço. Pois quem jogaria fora<br />
um original de Picasso depois de ele ter sido digitalizado?<br />
Nas catacumbas dos museus<br />
Todo jornalista, quando se debruça sobre um tema novo,<br />
precisa estudá-lo até estar em condições de contar uma<br />
história. Para esta reportagem, o repórter aprendeu, entre<br />
outras coisas, quais são as partes que compõem um museu.<br />
Isso não aparece no texto final da reportagem, mas,<br />
para escrevê-lo, o repórter precisou desses conceitos.<br />
Assim como nos bastidores do jornalismo, nos museus<br />
há um imenso trabalho de sustentação e infraestrutura<br />
que permite o funcionamento <strong>das</strong> instituições. No<br />
Reina Sofía, de Madri, trabalham mais de 600 profissionais.<br />
Arianne Vellosillo, restauradora do museu, explica<br />
que o departamento de conservação e restauro<br />
ocupa sozinho aproximadamente 600 m². “Somos 21<br />
pessoas nesse setor, quase todos restauradores, mas<br />
há também o assistente do chefe do departamento,<br />
um fotógrafo, um especialista em imagens, um gestor<br />
cultural e uma química.” A dimensão dos bastidores é<br />
tão grande que ultrapassa em muito a área de exposição.<br />
Só a reserva técnica (espaço onde fica armazenado<br />
o acervo), com suas 18 mil obras, ocupa vários<br />
andares no sótão do Reina Sofía.<br />
O Malba (Museu de Arte Latino-<br />
Americano de Buenos Aires) tem um<br />
acervo de apenas 500 peças, mas já enfrenta<br />
problemas de espaço por não ter uma reserva<br />
técnica. Serviços como conservação e restauro<br />
são terceirizados. Jim Coddington, chefe do departamento<br />
de conservação do Museu de Arte Moderna<br />
de Nova York (MoMA), relata outro problema: “Um dos<br />
maiores desafios na conservação de arte contemporânea<br />
é o grande leque de materiais que os artistas estão<br />
usando para construir seus trabalhos”. Cintia Mezza,<br />
administradora da coleção permanente do Malba, comenta:<br />
“O que mais nos dá trabalho são as obras cinéticas<br />
ou as que têm mecanismos para os quais o perfil<br />
do restaurador convencional não é suficiente”. Afinal,<br />
o que fazer com uma obra de 20 anos que usava um<br />
aparelho de vídeo com fita VHS? Apenas passar o material<br />
para DVD não resolve, pois nessa transposição se<br />
perdem características importantes, como a cor. Por<br />
isso, museus que trabalham com novas mídias têm<br />
optado por conservar o suporte original, <strong>ao</strong> mesmo<br />
tempo que o convertem em outro formato. A obra,<br />
portanto, duplica-se, duplicando também o problema<br />
do espaço: onde guardar isso tudo?<br />
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