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Sem título-10 - Arquivo Nacional

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A C E<br />

realmente, acabou assassinando-a.<br />

Dessa forma, José Gaspar foi entregue à<br />

Justiça já como criminoso, com a versão<br />

comum do acontecimento dada por todas<br />

as testemunhas, escravos ou livres, e<br />

abandonado pelo senhor – que afirmou<br />

“ser esta a forma de afastá-lo do convívio<br />

de sua fazenda”. Nesse caso, a<br />

interferência do senhor evitou um<br />

choque entre o julgamento e a justiça da<br />

comunidade da fazenda e a do Estado,<br />

que acabou absorvendo o julgamento da<br />

primeira, condenando José Gaspar à<br />

pena de galés perpétuas.<br />

Podemos apreender parte dessas<br />

alianças em notícias que narram a<br />

indignação de uma parcela da população<br />

dos municípios do Vale do Paraíba e da<br />

região oeste paulista, ao estranhar que<br />

diligências não fossem montadas para<br />

captura de escravos notoriamente<br />

fugidos das fazendas da região. No jornal<br />

O Areense, 39 da cidade de Areas, São<br />

Paulo, na página dois de uma edição de<br />

domingo, 19 de março de 1876, lê-se a<br />

seguinte notícia: “Negros fugidos – nas<br />

matas do sr. comendador Bonifácio<br />

Tomas da Silva se acoitam dois negros<br />

fugidos. O que faz a polícia? Espera que<br />

passe pela frente da cadeia para cobrar<br />

os <strong>10</strong> micos?”. Eis a nossa pergunta: será<br />

que esses escravos estavam fugidos, ou<br />

autorizados a estarem fora da fazenda<br />

de seu senhor? 40 Será que as pessoas<br />

que sustentavam a publicação de tal<br />

notícia não estavam compreendendo a<br />

possibilidade de um acordo invisível<br />

pág.28, jul/dez 2002<br />

entre os escravos, o senhor e as<br />

autoridades policiais locais?<br />

A maioria dos processos criminais não<br />

foi encontrada nos periódicos da época,<br />

entretanto algumas notícias trazem<br />

detalhes os mais ricos sobre os conflitos<br />

e alianças, confirmando sua existência.<br />

Da mesma maneira, jornalistas dão<br />

opiniões e versam sobre medidas<br />

necessárias para acabar com o problema<br />

das insurreições escravas, abrindo um<br />

caminho para cruzarmos formas de<br />

pensamento de grupos da própria elite<br />

imperial sobre o final do trabalho<br />

escravo, o que também está presente em<br />

algumas páginas desses jornais. Em 5 de<br />

janeiro de 1876, a Gazeta de Notícias, 41<br />

do Rio de Janeiro, publica, na página<br />

dois, que, mesmo sem a instauração de<br />

processo criminal, era “sem dúvida” que<br />

a escrava, “uma crioula de 13 anos de<br />

idade”, num sítio em Silveiras, Rio de<br />

Janeiro, havia se matado dentro da casa<br />

do senhor, um tal sr. Júlio, com um tiro<br />

certeiro disparado da arma deste, “sem<br />

precisar de testemunhas”.<br />

Novamente, voltemos ao processo-eixo.<br />

Deu-se o julgamento, impossível de ser<br />

evitado pela publicidade do acontecido,<br />

sendo o escravo Domingos condenado às<br />

galés perpétuas. Seu senhor apelou do<br />

resultado, fato totalmente possível pelas<br />

leis do Império, argumentando que não<br />

fora o golpe de seu escravo Domingos<br />

mortal, mas sim a demora no<br />

atendimento a Raimundo que precipitou<br />

sua morte. Em 15 de julho de 1875, a

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