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Sem título-10 - Arquivo Nacional

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A C E<br />

antes estimulem, o desenvolvimento de<br />

estratégias para manter uma vida cultural<br />

e material mínima e tentar torná-la a<br />

máxima possível. Os homens e mulheres<br />

de lá tinham de se articular para<br />

manter suas ambições de pé, frente à<br />

pujança da condição cativa. Pode ser que<br />

fosse nessa experiência comum e interligada,<br />

em que freqüentemente surgem<br />

solidariedades e disputas, que os homens<br />

cativos entendessem a dimensão<br />

da sua escravidão. Vendo-a não só “de<br />

baixo para cima”, mas sendo capazes de<br />

olhar para os lados e de tecer uma apreciação<br />

ampla da sua realidade e dos instrumentos<br />

disponíveis para o seu viver.<br />

O que Santa Cruz nos mostra é que, dis-<br />

N O T A S<br />

1. Neste artigo são apresentados resultados da pesquisa que redundou na dissertação de mestrado<br />

Os servos de Santo Inácio a serviço do imperador, defendida na Universidade Federal do Rio<br />

de Janeiro, e que teve como coluna fundamental o exame de fontes do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>,<br />

principalmente os dois inventários citados e a documentação cartorária acerca das alforrias.<br />

2. Richard Graham, Escravidão, reforma e imperialismo, São Paulo, Perspectiva, 1979.<br />

3. “... atribuir um nome resume experiências pessoais, acontecimentos importantes, visões de<br />

mundo e valores culturais”. Manolo Florentino e J. Roberto Góes, “Comércio negreiro e estratégias<br />

de socialização parental entre os escravos no agrofluminense”, Anais do IX Encontro<br />

<strong>Nacional</strong> de Estudos Populacionais, Caxambú, ABEP, 1994, p. 369.<br />

4. Carla Casper Hackenberg, Famílias em cativeiro, dissertação inédita, Curitiba, Universidade<br />

Federal do Paraná, 1997.<br />

5. Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, t. VI, Rio de Janeiro, INL, 1945,<br />

p. 59.<br />

6. Richard Graham, op. cit., p. 43.<br />

7. Carlos de Souza Moraes, Feitoria do linho cânhamo: documentação inédita, Porto Alegre,<br />

Parlenda, 1994.<br />

A B S T R A C T<br />

This article describes some of the aspects of slave’s life in Santa Cruz Farm, in Rio de Janeiro,<br />

their social practices and kinship relations, and how took place the procedures of transaction<br />

with their two bosses: first, Saint Ignatius, later, El Rey.<br />

pág.<strong>10</strong>0, jul/dez 2002<br />

pondo de espaço, tempo e população,<br />

os cativos construíram – e talvez construiriam<br />

em qualquer outro lugar – uma<br />

comunidade, conceito pouco explorado<br />

para a escravidão. O parentesco tendeu<br />

a se multiplicar e a enfeixar os cativos<br />

de tal modo que puderam se reconhecer<br />

enquanto “servos de Santo Inácio a serviço<br />

do imperador”, manipulando a memória<br />

do “tempo dos jesuítas”. Talvez,<br />

tenha sido assim que os que foram levados<br />

de lá para a feitoria do linho cânhamo<br />

no sul da Colônia, ao final do século<br />

XVIII, se apresentaram aos novos feitores.<br />

Mas, logo passaram a ser conhecidos<br />

por priorizarem seus negócios, em<br />

detrimento do linho de Sua Majestade. 7

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