H i S t ó r i a Jorge Caldeira, autor da biografia do Barão de Mauá, disse que ele foi o maior empresário brasileiro de todos os tempos. 46 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • U r U g U a i Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá Dique Mauá: construído pelo brasileiro em 1872, está em operação até hoje
Mauá: o pioneirismo do capitalismo brasileiro no Uruguai Maior empresário do século XIX, Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, marcou presença com grandes empreendimentos no Uruguai Ele tem seu nome em ruas, bairros, cidades, praças por todo o Brasil e até na ponte que liga o Brasil ao Uruguai. Empreendedor muito a frente do seu tempo e, para alguns estudiosos, um dos precursores do Mercosul, Irineu Evangelista de Souza ou, como melhor ficou conhecido, o Barão de Mauá, é, sem dúvida, um dos personagens mais contundentes da história brasileira. De fato, quando se pensa em nomes importantes para se pensar no processo de desenvolvimento da economia brasileira, a sua importância não pode ser relegada. Nascido no Rio Grande do Sul em 1813, Evangelista de Souza saiu da fronteira do Brasil com o Uruguai e foi para o Rio de Janeiro, então capital do Império. Com nove anos começou a trabalhar como balconista de loja, onde começou a desenvolver o seu faro para negócios. Dono de enorme senso de pragmatismo, Mauá apostava na livre iniciativa como catalisador de riqueza e desenvolvimento. Desse modo, Mauá controlou oito das dez maiores empresas do país: as restantes eram o Banco do Bra- sil e a Estrada de Ferro Dom Pedro II, ambas empreendimentos estatais, tornando-se, ao 30 anos, no homem mais rico do Brasil e dono de uma das maiores fortunas do mundo na época. Chegou a controlar dezessete empresas, com filiais operando em seis países. Sua fortuna em, 1867, atingiu o valor de 115 mil contos de réis, enquanto o orçamento do Império do Brasil para aquele ano contava apenas com 97 mil contos de réis. “Mauá Foi o maior empresário brasileiro de todos os tempos, com uma das maiores fortunas do mundo no séc. XIX”, disse o biógrafo do Barão de Mauá, Jorge Caldeira, autor do consagrado livro Mauá, Empresário do Império (Companhia das Letras), em entrevista, por telefone, à Revista da <strong>FCCE</strong>. Para Caldeira, o seu principal talento de Mauá era estar pronto para olhar o que havia de novo e fazer de forma diferente. Mauá no Uruguai Em meados de 2007, Caldeira viu a relevância da figura de Mauá se reforçar quando foi informado de que a biografia de sua autoria sobre o empresário brasileiro seria traduzida para o espanhol e publicada no Uruguai. Ter o livro publicado no país vizinho representa um movimento mais do que pertinente. Afinal, foi no Uruguai onde a expansão dos seus negócios teve grande vulto, fazendo com que Mauá se tornasse o principal credor do país durante grande parte da segunda metade do século XIX. Nesse período, convinha ao governo do então Império do Brasil “Apesar das condições políticas favoráveis que permitiram a entrada de Mauá no Uruguai, Mauá buscou investir no Uruguai por puro pragmatismo. Isso porque ele via as condições do país vizinho propícias para investimentos capitalistas” Jorge Caldeira, biógrafo do Barão de Mauá manter um comércio regular com o Uruguai em que preponderava, sem dúvida, a necessidade brasileira de importação do charque, uma vez que a produção oriunda do Rio Grande do Sul era insuficiente para alimentar a massa escrava que o movia o sistema produtivo brasileiro. Nesse sentido, se estende a vontade de manter contatos mais profundos com o Uruguai, principal fonte de abastecimento de charque para o Brasil. Os interesses brasileiros se estabeleceram igualmente no domínio das finanças, mediante empréstimos feitos ao governo do Uruguai. E é dentro dessa política de maior aproximação com o país platino que entra Mauá, concedendo empréstimos e promovendo investimentos em diversos setores da economia uruguaia, da agropecuária (ele possuía 100 mil cabeças de gado no Uruguai) ao controle das finanças públicas. Na década de 1860, ele obteve do governo uruguaio a concessão da companhia de distribuição de gás Montevideogas e, em 1872, Mauá construiu o que seria o primeiro dique seco do Rio da Prata, o Dique Mauá. Atualmente, a Montevideogas é controlada pela Petrobras e o dique ainda está em operação. “Apesar das condições políticas favoráveis que permitiram a entrada de Mauá no Uruguai, Mauá buscou investir no Uruguai por puro pragmatismo. Isso porque ele via as condições do país vizinho propícias para investimentos capitalistas”, explicou Caldeira. De acordo com ele, entre as condições existentes estavam a necessidade de o Uruguai se reestruturar financeiramente, após quase duas décadas de guerra civil (1834-1852) e a existência de mão-de-obra livre no país, fator crucial para o desenvolvimento do liberalismo econômico, lembrando que Mauá era um crítico ferrenho da economia de base escravagista do império. Para o escritor, as relações de comércio entre Brasil e Uruguai e, ainda, com a Argentina (onde Mauá também tinha negócios) pautada no liberalismo era a chave para o desenvolvimento da região do Cone Sul. “Não podemos dizer que Mauá idealizou a formação do Mercosul, mas ele foi, com certeza, um grande defensor da criação de uma zona de livre comércio. Mauá era um internacionalista e acreditava na globalização muito antes desse termo ter sido inventado”, disse Caldeira. Já em relação ao lançamento do seu livro no Uruguai, Caldeira disse estar bastante satisfeito com a repercussão da biografia de Mauá naquele país. “Já participei de seminários, concedi entrevistas a jornais e TVs locais. Isso demonstra que a memória de Mauá ainda permanece viva no Uruguai”, disse. Mauá, Empresário do Império foi publicado no Brasil pela primeira vez e obra de 557 páginas já vendeu mais de 156 mil cópias, consagrando-se como uma das mais bem-sucedidas biografias de personagens históricos brasileiros até hoje. No momento atual, em que várias empresas brasileiras aportam vultosos investimentos no país platino, lembrar o pioneirismo de Mauá faz-se, sem dúvida, bastante salutar. Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • U r U g U a i 47