Encarnação, Infância e Nascimento de Jesus
Encarnação, Infância e Nascimento de Jesus Encarnação, Infância e Nascimento de Jesus
S. Jerônimo, que Jesus Cristo ia pôr fim ao reino de Satanás. Assim para nos livrar da tirania do inferno, diz o venerável Beda, Jesus declara-se servo logo ao nascer e como tal se porta. Quer ser inscrito entre os súditos de César e pagar o censo. No desejo de satisfazer desde então as nossas dívidas por seus sofrimentos, ei-lo, exclama S. Zenão, que toma se detença os sinais da escravidão: deixa-se enfaixar em paninhos que o privam da liberdade e representam as cadeias de que um dia será carregado pelos algozes para ser conduzido à morte. Ei-lo depois que se submete e obedece toda a sua vida a uma humilde virgem, a um homem. Ei-lo mais tarde, como servo na pobre morada de Nazaré, empregado por Maria e José, ora a desbastar a madeira que José devia trabalhar, ora a recolher os fragmentos para o fogo, ora a varrer a casa, a buscar água, a abrir ou a fechar a oficina. Como Maria e José eram pobres e obrigados a viver de seu trabalho, nota S. Basílio, Jesus Cristo para exercer a obediência e demonstrar-lhes respeito, devido aos superiores, procurava tomar parte em suas fadigas na medida das forças dum menino da sua idade. Um Deus que serve! Um Deus que varre a casa! Um Deus que trabalha! Ah! um só desses pensamentos deveria bastar para nos inflamar e consumir de amor! Quando Nosso Senhor se pôs a pregar o seu Evangelho, fez-se servo de todos, declarando que não viera para ser servido, mas para servir os outros (Mt 20,28). Segundo Cornélio a Lápide, isso equivale a dizer que Ele queria ser o servo de todos os homens. E no fim de sua vida, ajunta S. Bernardo, “não contente de haver tomado a forma de servo e de haver obedecido como tal, quer ainda parecer servo mau e como tal ser castigado, a fim de pagar a pena devida aos pecados que nos tinham feito escravos do inferno. E finalmente, diz S. Gregório de Nissa, “o Senhor do universo, qual súdito que só sabe obedecer, submete-se à iníqua 32
sentença de Pilatos, e entrega-se às mãos de bárbaros carrascos que o atormentam e crucificam”. E isso que S. Pedro exprimiu com as palavras: Entregava-se àquele que o julgava injustamente (1Pd 2,23); e de fato, acrescentou o mesmo apóstolo, como um escravo que sofre sem resistência um castigo merecido, não amaldiçoava quando o amaldiçoavam; sofrendo não ameaçava. assim, em seu inefável amor por nós, esse Deus quis obedecer como se não passasse dum simples servo; e essa obediência Ele a levou até à morte e até a uma morte cruel e infame: morreu na cruz. Ele obedeceu não como Deus, mas como homem, como servo, cuja forma e natureza tomara. Sublime foi a caridade de S. Paulino que se fez escravo para resgatar o filho duma pobre viúva. Mas esse devotamento, que excitou a admiração do mundo, que é comparado ao nosso Redentor? Ele era Deus e, a fim de nos resgatar da escravidão, das mãos dos demônios e da morte que nos era devida, fez-se servo, deixou-se carregar de cadeias, deixou-se pregar na cruz, onde quis finalmente deixar a vida num oceano de humilhações e de sofrimentos! “Para que o servo se tornasse Senhor, diz S. Agostinho, Deus quis fazer-se servo”. A Santa Igreja tem pois razão de exclamar: “Ó prodígio de misericórdia! ó inapreciável efeito do amor divino! para resgatardes o escravo, entregastes o Filho!” Sim, ó Deus de majestade infinita, tanto amor tivestes ao homem, que para resgatar esses servos rebeldes, quisestes entregar à morte o vosso unigênito Filho! — Mas, Senhor, pergunta Jó, que é o homem, esse ser tão desprezível, tão ingrato para convosco, par que o eleveis tão alto, e o honreis e o ameis (Jó 7,17) como o fizestes? Dizei-me, meu Deus, que vos importam a salvação e a felicidade do homem? Dizei-me: por que tanto o amais de sorte que o vosso coração parece não ter outra preocupação que de amá-lo e fazê-lo feliz? II. 33
- Page 1 and 2: Encarnação, Nascimento e Infânci
- Page 3 and 4: nos testemunhou por suas humilhaç
- Page 5 and 6: e Deus foi mais amado em poucos ano
- Page 7 and 8: sas e ameaças puderam decidir o ho
- Page 9 and 10: divina. Por isso ele se encarnou a
- Page 11 and 12: derou do homem à maneira de quem p
- Page 13 and 14: cados o teriam matado realmente, se
- Page 15 and 16: etribuir de alguma maneira a um Deu
- Page 17 and 18: ção era tão inflamado de amor po
- Page 19 and 20: parte, digamos melhor, quase todos
- Page 21 and 22: estavam satisfeitos. Queriam vê-lo
- Page 23 and 24: séria? foi o amor: Assim quis nasc
- Page 25 and 26: disse ele, mas os pecadores. Digamo
- Page 27 and 28: Temos ofendido a Deus; merecemos se
- Page 29 and 30: ame, ó divino Infante. Este coraç
- Page 31: tados de todo o temor e arrancados
- Page 35 and 36: E quantas ações de graças não d
- Page 37 and 38: sar de amá-lo. Eis por que é prec
- Page 39 and 40: pode haver mais de um Deus. De outr
- Page 41 and 42: ça do amor de Deus, exclama aqui S
- Page 43 and 44: virá, e vos salvará (Is 35,4). N
- Page 45 and 46: seus pés, o filho pródigo que o h
- Page 47 and 48: esquecestes das ofensas que vos fiz
- Page 49 and 50: Maria, minha Mãe, que sois a esper
- Page 51 and 52: É a esses homens temerários e ing
- Page 53 and 54: Esse texto é interpretado no mesmo
- Page 55 and 56: os demônios, se abririam a sentime
- Page 57 and 58: ta nos assegura que Ela é o “tes
- Page 59 and 60: nada pode destruir ou diminuir a su
- Page 61 and 62: trelas, as montanhas, os campos, os
- Page 63 and 64: meu serviço”. E S. João Crisós
- Page 65 and 66: deu-lhe que ia à caça dos coraç
- Page 67 and 68: CONSIDERAÇÃO VII. O VERBO ETERNO
- Page 69 and 70: nós”. E como quem ama quer ser a
- Page 71 and 72: fugir e exilar-se no Egito para esc
- Page 73 and 74: O Filho de Deus quis exercer sobre
- Page 75 and 76: mais longe: “Sofrer, dizia ela, e
- Page 77 and 78: as nossas faltas nesta vida, merece
- Page 79 and 80: CONSIDERAÇÃO VIII. O VERBO ETERNO
- Page 81 and 82: Bernardo chama “escola de Jesus C
S. Jerônimo, que <strong>Jesus</strong> Cristo ia pôr fim ao reino <strong>de</strong> Satanás.<br />
Assim para nos livrar da tirania do inferno, diz o venerável Beda,<br />
<strong>Jesus</strong> <strong>de</strong>clara-se servo logo ao nascer e como tal se porta.<br />
Quer ser inscrito entre os súditos <strong>de</strong> César e pagar o censo. No<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> satisfazer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então as nossas dívidas por seus<br />
sofrimentos, ei-lo, exclama S. Zenão, que toma se <strong>de</strong>tença os<br />
sinais da escravidão: <strong>de</strong>ixa-se enfaixar em paninhos que o privam<br />
da liberda<strong>de</strong> e representam as ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> que um dia será<br />
carregado pelos algozes para ser conduzido à morte. Ei-lo <strong>de</strong>pois<br />
que se submete e obe<strong>de</strong>ce toda a sua vida a uma humil<strong>de</strong><br />
virgem, a um homem. Ei-lo mais tar<strong>de</strong>, como servo na pobre<br />
morada <strong>de</strong> Nazaré, empregado por Maria e José, ora a <strong>de</strong>sbastar<br />
a ma<strong>de</strong>ira que José <strong>de</strong>via trabalhar, ora a recolher os fragmentos<br />
para o fogo, ora a varrer a casa, a buscar água, a abrir<br />
ou a fechar a oficina. Como Maria e José eram pobres e obrigados<br />
a viver <strong>de</strong> seu trabalho, nota S. Basílio, <strong>Jesus</strong> Cristo para<br />
exercer a obediência e <strong>de</strong>monstrar-lhes respeito, <strong>de</strong>vido aos<br />
superiores, procurava tomar parte em suas fadigas na medida<br />
das forças dum menino da sua ida<strong>de</strong>. Um Deus que serve! Um<br />
Deus que varre a casa! Um Deus que trabalha! Ah! um só <strong>de</strong>sses<br />
pensamentos <strong>de</strong>veria bastar para nos inflamar e consumir<br />
<strong>de</strong> amor!<br />
Quando Nosso Senhor se pôs a pregar o seu Evangelho,<br />
fez-se servo <strong>de</strong> todos, <strong>de</strong>clarando que não viera para ser servido,<br />
mas para servir os outros (Mt 20,28). Segundo Cornélio a<br />
Lápi<strong>de</strong>, isso equivale a dizer que Ele queria ser o servo <strong>de</strong> todos<br />
os homens.<br />
E no fim <strong>de</strong> sua vida, ajunta S. Bernardo, “não contente <strong>de</strong><br />
haver tomado a forma <strong>de</strong> servo e <strong>de</strong> haver obe<strong>de</strong>cido como tal,<br />
quer ainda parecer servo mau e como tal ser castigado, a fim<br />
<strong>de</strong> pagar a pena <strong>de</strong>vida aos pecados que nos tinham feito escravos<br />
do inferno.<br />
E finalmente, diz S. Gregório <strong>de</strong> Nissa, “o Senhor do universo,<br />
qual súdito que só sabe obe<strong>de</strong>cer, submete-se à iníqua<br />
32