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Flávia Muniz O Hóspede<br />
na rua, nós vamos a uma delegacia.<br />
E isso se eu não estiver muito<br />
chateado, senão eu vou embora e o<br />
senhor que se f...!<br />
Tudo aconteceu em segundos.<br />
Toni viu o homem levar a mão<br />
pela janela do carro e sacar um 38,<br />
apontando-o em sua direção.<br />
— Não vai pagar, desgraçado?<br />
— Ei... — ele conseguiu dizer,<br />
antes de ouvir os disparos.<br />
8<br />
PG ouviu dois<br />
disparos e se agachou<br />
no banco da<br />
frente, aturdido.<br />
Abriu a porta do carro,<br />
sacou sua arma e deslizou para a<br />
lateral, buscando proteger-se até<br />
entender o que tinha ocorrido.<br />
Um arrepio percorreu sua espinha<br />
ao constatar que Toni havia<br />
sido baleado. Viu o agressor entrar<br />
no carro, dar partida e sair a toda<br />
velocidade pela pista da esquerda,<br />
desviando do corpo do amigo, que<br />
jazia no chão, inerte.<br />
Os carros que circulavam pela<br />
avenida diminuíam a velocidade<br />
ao passar pelo local do acidente.<br />
Alguns curiosos se aproximavam,<br />
querendo provar do espetáculo,<br />
sem maiores comprometimentos.<br />
Alguém gritou que já chamara<br />
o resgate. Um pequeno grupo<br />
se juntara em volta do homem<br />
ferido.<br />
PG saiu correndo em direção<br />
à esquina, atordoado com<br />
a velocidade dos acontecimentos.<br />
Precisava socorrer o amigo. Essa<br />
era a mais importante necessidade<br />
do momento.<br />
Avaliou a situação rapidamente.<br />
Toni recebera dois tiros<br />
no peito e estava inconsciente. Os<br />
ferimentos pareciam ser graves,<br />
sangravam muito, de modo que<br />
PG precisou agir com presteza.<br />
Por sorte, um carro de polícia<br />
estacionou do outro lado da<br />
avenida, e dois homens uniformizados<br />
vieram prestar ajuda. PG<br />
identificou-se e pediu que acompanhassem<br />
o ferido até o hospital<br />
mais próximo, assim que o resgate<br />
chegasse. Ao longe, podia ouvir a<br />
De repente, numa rua à direita, viu de<br />
relance o carro do agressor entrar no terreno<br />
abandonado e mal iluminado...<br />
bendita sirene.<br />
Em seguida, PG correu e entrou<br />
no carro de Toni, saindo em<br />
perseguição ao agressor. Em sua<br />
cabeça, um redemoinho de imagens<br />
foi se formando. Cenas de<br />
dor e violência, uma fusão medonha<br />
de corpos mutilados, choro de<br />
crianças, olhos maus e acusadores<br />
que o perseguiam... Sentia-se<br />
atordoado, com respiração ofegante,<br />
como se estivesse prestes a<br />
vomitar.<br />
PG sacudiu a cabeça para<br />
pensar com clareza. Ponderou<br />
que o agressor não poderia ter ido<br />
muito longe, pois poucos minutos<br />
os separavam no tempo.<br />
Controle-se! — disse a si<br />
mesmo, colocando a cabeça para<br />
fora do carro para sentir o vento<br />
revigorante da noite agir em seu<br />
ânimo. Precisava manter a energia<br />
e o pensamento alertas.<br />
Seu amigo... ele estava em<br />
férias e viera visitá-lo... Ele o acom-<br />
54<br />
panhara na visita ao padre... agora<br />
podia estar morto... por sua culpa!<br />
Seus pensamentos vagavam<br />
sem controle algum. Lembrouse<br />
de Toni, rindo e feliz, ao lado<br />
de um peixe de 10 quilos, numa<br />
foto que havia sobre a mesa do<br />
escritório. Recordou-se de como<br />
ele gostava de contar piadas sobre<br />
pescadores e suas mentiras. Depois<br />
seus pensamentos tornaramse<br />
mais sombrios, na época em<br />
que perdera seu cachorro, atropelado<br />
por um carro. Tinha apenas<br />
sete anos, mas a lembrança<br />
dessa perda<br />
não o deixara<br />
em paz.<br />
Começou a fraquejar,<br />
sentindo-se quase impotente<br />
diante da realidade áspera. Seu<br />
parceiro e melhor amigo podia<br />
estar morto agora. Podia ter dado<br />
entrada no hospital ainda com<br />
vida ou morrido a caminho...<br />
De repente, numa rua à<br />
direita, viu de relance o carro do<br />
agressor entrar no terreno abandonado<br />
e mal iluminado de um<br />
antigo estacionamento, no final do<br />
quarteirão. PG estava só e ciente<br />
de que o homem tinha uma arma.<br />
As viaturas não tardavam a chegar<br />
para dar-lhe reforço. Mas até lá<br />
precisava ter calma.<br />
Ou não.<br />
9<br />
PG apagou as luzes e deslizou<br />
o carro pela rua até chegar à entrada<br />
do terreno. A chuva fina havia<br />
cessado e o ar límpido da noite o<br />
manteve alerta, desperto. Agora,<br />
mais do que nunca precisava estar