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Claudio Parreira Perdidão Eu vi quando eles chegaram: passava pouco da meianoite, céu claro e estrelado. Aquele tinha sido um dia inútil pra mim: nenhum negócio, nenhum carro, nenhuma graninha no meu bolso. Aquela nave, portanto, ia livrar a minha cara. Os aliens desceram todos em fila; uns verdes, outros vermelhos, outros tantos coloridos. Havia também uns monstros estranhos, que eu não sei descrever aqui. Era uma invasão, sem dúvida — mas eu não estava nem aí. Precisava mesmo é faturar. Quando os telejornais começaram a noticiar em edição extraordinária que São Paulo estava dominada, eu saquei que era a minha hora: saí no escuro mesmo, guiado pela luz que vinha do tal disco voador. Os ET’s, ocupados que estavam em dominar a cidade (será que o mundo viria em seguida, como nos filmes?), vacilaram grandão e deixaram a nave desprotegida. Subi de boa e me deparei com uma coisa loka: luzes pra todo lado, botões, uma tela imensa de LED ou algo parecido. E, pra minha felicidade, ninguém lá dentro. Aquela nave, cheia de modernidades, com certeza renderia um puta dinheiro no Paraguai. Ou mesmo nos States, que lá eles gostam de coisas assim. Sentei, portanto, num treco parecido com uma cadeira e fiquei olhando pro painel à minha frente: não se parecia com nada que eu tinha visto até então. Tirar aquele negócio do chão é que seria o verdadeiro nó. Mas eu, que sou formado, frequentei academia, conheço geografia e sei até multiplicar, não me apertei: bastava cutucar aqueles botões. Um deles ligaria a máquina. Os ET’s, ocupados que estavam em dominar a cidade, vacilaram grandão e deixaram a nave desprotegida. 38 ***** Uma hora dessas os ET’s já devem ter dominado São Paulo, o Brasil, talvez até mesmo o mundo. Mas isso não é da minha conta — tenho outras preocupações. Essa porra de nave voa rápido pra caralho, e na tela de LED vejo estrelas, estrelas e mais estrelas. Pareço mesmo estar dentro de um episódio de Jornada nas Estrelas. O problema é que não sou nenhum capitão Kirk e não conheço lhufas de viagens espaciais. Sou apenas um ladrão de carros. Ou era, já nem sei mais. Os aliens invadiram a minha cidade e eu invadi o espaço deles. A diferença é que eles sabem dirigir isso aqui. Posso ir, acho, pra qualquer lugar do universo, mas quem tá me conduzindo é a nave. Sou apenas um perdidão no espaço, admito — nada além disso.
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Claudio Parreira Perdidão<br />
Eu vi quando eles chegaram:<br />
passava pouco da meianoite,<br />
céu claro e estrelado.<br />
Aquele tinha sido um dia<br />
inútil pra mim: nenhum negócio,<br />
nenhum carro, nenhuma graninha<br />
no meu bolso. Aquela nave, portanto,<br />
ia livrar a minha cara.<br />
Os aliens desceram todos em<br />
fila; uns verdes, outros vermelhos,<br />
outros tantos coloridos. Havia<br />
também uns monstros estranhos,<br />
que eu não sei descrever aqui. Era<br />
uma invasão, sem dúvida — mas<br />
eu não estava nem aí. Precisava<br />
mesmo é faturar.<br />
Quando os telejornais<br />
começaram a noticiar em edição<br />
extraordinária que São Paulo<br />
estava dominada, eu saquei que<br />
era a minha hora: saí no escuro<br />
mesmo, guiado pela luz que vinha<br />
do tal disco voador.<br />
Os ET’s, ocupados que estavam<br />
em dominar a cidade (será<br />
que o mundo viria em seguida,<br />
como nos filmes?), vacilaram<br />
grandão e deixaram a nave desprotegida.<br />
Subi de boa e me<br />
deparei com uma coisa loka: luzes<br />
pra todo lado, botões, uma tela<br />
imensa de LED ou algo parecido.<br />
E, pra minha felicidade, ninguém<br />
lá dentro.<br />
Aquela nave, cheia de modernidades,<br />
com certeza renderia<br />
um puta dinheiro no Paraguai.<br />
Ou mesmo nos States, que lá eles<br />
gostam de coisas assim.<br />
Sentei, portanto, num treco<br />
parecido com uma cadeira e fiquei<br />
olhando pro painel à minha frente:<br />
não se parecia com nada que eu<br />
tinha visto até então.<br />
Tirar aquele negócio do chão<br />
é que seria o verdadeiro nó. Mas<br />
eu, que sou formado, frequentei<br />
academia, conheço geografia e sei<br />
até multiplicar, não me apertei:<br />
bastava cutucar aqueles botões.<br />
Um deles ligaria a máquina.<br />
Os ET’s, ocupados que estavam em<br />
dominar a cidade, vacilaram grandão<br />
e deixaram a nave desprotegida.<br />
38<br />
*****<br />
Uma hora dessas os ET’s já<br />
devem ter dominado São Paulo, o<br />
Brasil, talvez até mesmo o mundo.<br />
Mas isso não é da minha conta —<br />
tenho outras preocupações.<br />
Essa porra de nave voa rápido<br />
pra caralho, e na tela de LED vejo<br />
estrelas, estrelas e mais estrelas.<br />
Pareço mesmo estar dentro de um<br />
episódio de Jornada nas Estrelas.<br />
O problema é que não sou nenhum<br />
capitão Kirk e não conheço<br />
lhufas de viagens espaciais. Sou<br />
apenas um ladrão de carros. Ou<br />
era, já nem sei mais.<br />
Os aliens invadiram a minha<br />
cidade e eu invadi o espaço deles.<br />
A diferença é que eles sabem dirigir<br />
isso aqui. Posso ir, acho, pra<br />
qualquer lugar do universo, mas<br />
quem tá me conduzindo é a nave.<br />
Sou apenas um perdidão no espaço,<br />
admito — nada além disso.