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Gerson Lodi-Ribeiro Todo o Silício do Mundo<br />

Os veículos alienígenas se<br />

aproximam outra vez. No<br />

mergulho picado, a intenção<br />

clara de bombardear o terreno<br />

a meu redor com nova chuva de<br />

microbombas inteligentes.<br />

No último ataque, meu interferidor<br />

pessoal conseguiu<br />

perturbar a programação dos<br />

processadores das bombas. Os<br />

microbólidos passaram em voo<br />

rasante sobre a minha cabeça e se<br />

perderam atrás do horizonte. O<br />

solo estremeceu sob meus pés.<br />

Segundos mais tarde<br />

ouvi os estrondos das<br />

três explosões distantes.<br />

É claro que já me<br />

considero mais uma<br />

baixa desta guerra insensata.<br />

Para minha surpresa, os feixes<br />

laser concentrados erram o alvo,<br />

rasgando duas fendas paralelas<br />

no chão, alguns metros à minha<br />

direita.<br />

Os dois batedores se afastam<br />

em silêncio.<br />

Fito os edifícios distantes,<br />

nebulosos sob o manto translúcido<br />

da poeira; um redemoinho<br />

levantado pelos rasantes das naves<br />

ligeiras.<br />

Tenho certeza absoluta de que<br />

não conseguirei retornar ao nosso<br />

prédio natal.<br />

Examino o panorama desolado<br />

à minha volta.<br />

Nas últimas décadas o planalto<br />

se transformou em deserto. Ainda<br />

me lembro destes solos áridos<br />

como uma grande campina fértil e<br />

verdejante, com árvores esparsas,<br />

memórias de uma época anterior<br />

ao colapso do complexo ocidental.<br />

A parede de areia vitrificada<br />

de uma das fendas abertas pelos<br />

lasers inimigos desmorona, expondo<br />

a carcaça velha de um robô.<br />

Noto que as placas peitorais da armadura<br />

são bastante semelhantes<br />

às minhas. Talvez tenha sido<br />

fabricado no subsolo do nosso<br />

prédio, há vários milênios. Talvez<br />

até mesmo na própria Oficina 7,<br />

local onde despertei pela primeira<br />

vez para a consciência.<br />

*****<br />

Não imaginamos na época que aquela<br />

primeira derrota marcaria o início<br />

da queda de nossa cultura planetária.<br />

Quando as grandes espaçonaves<br />

alienígenas pousaram na<br />

planície litorânea há três séculos,<br />

imaginamos que, como nós, eles<br />

fossem representantes de uma<br />

cultura pacífica.<br />

Apesar do vasto número de<br />

efetivos desembarcados já naquela<br />

primeira leva, sequer cogitamos a<br />

hipótese absurda de uma invasão.<br />

Se os alienígenas eram civilizados<br />

a ponto de construir naves<br />

interestelares, pareceu-nos lógico<br />

admitir que não fossem hostis.<br />

De qualquer modo, uma<br />

suposta hostilidade não despertou<br />

maiores preocupações. Uma<br />

análise preliminar indicou que a<br />

nossa tecnologia era superior a<br />

dos recém-chegados. Imaginamos<br />

que essa superioridade por si só<br />

fosse capaz de garantir a nossa<br />

segurança contra qualquer forma<br />

de ataque.<br />

Depositamos demasiada<br />

confiança nessa superioridade<br />

17<br />

tecnológica inegável.<br />

Jamais imaginamos que, pela<br />

simples quantidade de efetivos,<br />

aquelas hordas intermináveis<br />

de robôs e veículos conscientes<br />

fossem capazes de sobrepujar os<br />

nossos sistemas defensivos sofisticados.<br />

Consideramos nossas<br />

barreiras eletrônicas inexpugnáveis,<br />

pois sabíamos que haviam<br />

sido articuladas pela interligação<br />

temporária das capacidades vastíssimas<br />

de programas-regentes; as<br />

inteligências quase oniscientes<br />

cujos núcleos se distribuíam<br />

por vários<br />

complexos da América do<br />

Sul, e às quais confiamos<br />

há centenas de<br />

milênios os destinos da civilização<br />

e da Terra.<br />

E então, primeiro sob a forma<br />

de boato desencontrado, chegou a<br />

notícia surpreendente. O fato que<br />

fez nossa auto-confiança desmoronar:<br />

não obstante as perdas<br />

pesadíssimas que as nossas forças<br />

infligiram ao inimigo, os invasores<br />

haviam conseguido tomar um<br />

dos prédios do lado ocidental do<br />

Planalto Brasileiro.<br />

Não imaginamos na época que<br />

aquela primeira derrota marcaria<br />

o início da queda de nossa cultura<br />

planetária.<br />

Após o colapso daquele<br />

primeiro baluarte, os alienígenas<br />

desencadearam uma espécie de<br />

reação em cadeia. Absorveram<br />

nossa matriz tecnológica com<br />

rapidez e eficiência surpreendentes.<br />

Adotaram como seus os nossos<br />

princípios, copiando o nosso<br />

estilo de vida, reprogramando os<br />

sistemas de produção dos prédios

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