Sabe-se que nos EUA as construções civis são antissísmicas, feitas levando em conta as possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ocorrência de grandes sismos, e portanto seguindo regulamentos e controles muito rigorosos. Isto seguramente impediu que no sismo de São Francisco os edifícios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de colapsassem, e fez com que o número de vítimas fosse pequeno, menos de vinte pessoas. Em contraste, no terremoto de Porto Príncipe, cuja magnitude foi similar, a ci<strong>da</strong>de inteira foi destruí<strong>da</strong>, pela fraqueza estrutural de suas construções civis. Nesse evento o número de vítimas foi descomunal, mais de 200 mil pessoas pereceram. No Chile os códigos para construção civil também são rigorosos. Entretanto a magnitude dos terremotos de Valdívia e Concepción foi tão eleva<strong>da</strong> que a destruição foi grande, e o custo em vi<strong>da</strong>s também foi muito alto, cerca de 6 mil pessoas no primeiro caso, e mil no segundo. De qualquer forma, muito menos vítimas do que em Porto Príncipe. Caso intermediário foi o <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de do México, situa<strong>da</strong> em terreno pouco consoli<strong>da</strong>do, de sedimentos lacustres. Esse material amplificou as vibrações do solo durante o terremoto de 1985, a destruição foi considerável, e cerca de 10 mil pessoas foram vitima<strong>da</strong>s. Com relação aos vulcões ativos, o seu monitoramento possibilita evitar grandes per<strong>da</strong>s de vi<strong>da</strong>s, embora a devastação provoca<strong>da</strong> por erupções de lavas e outros materiais vulcânicos não possa ser impedi<strong>da</strong>. Vulcões recentemente ativos, como o Cerro Hudson no Chile ou o Arenal na Costa Rica, estão relativamente afastados de assentamentos urbanos para provocar vítimas fatais. Entretanto, isto pode ocorrer em condições particulares, em que a ativi<strong>da</strong>de vulcânica se associa a circunstâncias adicionais que podem em muito aumentar a sua capaci<strong>da</strong>de destrutiva. Três exemplos são <strong>da</strong>dos a seguir. Pelo acúmulo de pressão em sua câmara magmática, o vulcão Saint Helens, nos EUA, explodiu em 1980, lançando aos ares grande parte de seu edifício vulcânico, o que reduziu de 400 metros a sua elevação, e devastou uma enorme área em seus arredores. Como a região tem ocupação humana pouco relevante, apenas cerca de 60 vítimas foram contabiliza<strong>da</strong>s. Em 1985, o Nevado Ruiz, na Colômbia, teve uma erupção modera<strong>da</strong> em termos vulcânicos, mas que aqueceu e fundiu grande quanti<strong>da</strong>de de material de suas geleiras, provocando a formação de grandes massas de lama e fragmentos de rocha, que desceram vales abaixo com grande veloci<strong>da</strong>de e grande força destrutiva. A ci<strong>da</strong>de de Armero, situa<strong>da</strong> num dos vales que se originam no vulcão, contabilizou cerca de 25 mil vítimas. Finalmente, características insólitas teve a erupção do Mt. Pelée que destruiu completamente a ci<strong>da</strong>de de Saint Pierre, na Martinica, em 1902. Na ocasião, além de materiais vulcânicos normais, o vulcão emitiu uma grande quanti<strong>da</strong>de de vapor superaquecido a mais de 1000 graus centígrados, misturado com outros gases e cinza vulcânica, que desceu as encostas a atingiu Saint Pierre, incendiando-a completamente em poucos minutos. Os poucos exemplos aqui descritos servem para ilustrar que os movimentos inerentes à tectônica de placas, embora a veloci<strong>da</strong>de destas seja muito pequena para ser observa<strong>da</strong> no dia a dia, pode ter consequências trágicas nas regiões que situam-se no limite entre placas contíguas. Nesse aspecto o Brasil pode considerar-se beneficiado pela sua situação geográfica. Apesar de ser um país de grande dimensão, está ele localizado na região central <strong>da</strong> Placa Sulamericana, onde não há vulcões ativos, e as ativi<strong>da</strong>des sísmicas assinala<strong>da</strong>s em seu território são de baixa intensi<strong>da</strong>de, sem grandes riscos para os assentamentos humanos. Umberto G. Cor<strong>da</strong>ni é diretor do Instituto de Estudos Avançados <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo e professor do Instituto de Geociências <strong>da</strong> USP. 43
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