Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
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de antagonismos e conflitos que a noção de diversidade porta em si. Desse mo<strong>do</strong>, a cultura, e<br />
por conseqüência a sociedade brasileira, são compreendidas como harmônicas e não<br />
conflitivas. Conforme ainda aponta o autor, subjaz a essa ideologia da diversidade a idéia de<br />
democracia e liberdade. Isso se constituía num problema que tinha de ser enfrenta<strong>do</strong> pelo<br />
regime, já que não lhe interessava alimentar ape<strong>na</strong>s uma imagem de aparelho repressor e<br />
autoritário. Afi<strong>na</strong>l, a seara <strong>cultural</strong> interessava diretamente aos militares por se constituir<br />
como um espaço propício para a construção de seu projeto hegemônico de governo. Sob este<br />
ângulo, os intelectuais que compunham o sistema oficial interpretam o sincretismo <strong>cultural</strong><br />
como um viés para o exercício de liberdade de expressão, ten<strong>do</strong> no slogan “a diversidade <strong>na</strong><br />
unidade” o caminho para referendar as ações gover<strong>na</strong>mentais <strong>na</strong> área <strong>cultural</strong> e ainda<br />
conceder-lhe o papel de bastião da identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Pautan<strong>do</strong>-se <strong>na</strong>s formulações de Ortiz<br />
sobre esta questão, Barbalho (1988) esclarece que:<br />
A miscige<strong>na</strong>ção revela uma realidade sem contradições, já que o resulta<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> encontro entre as culturas passa por cima das possíveis divergências, e<br />
acaba por qualificar a cultura brasileira como ‘cultura democrática’,<br />
contraposta ao totalitarismo (leia-se socialismo). Enfim, o termo<br />
democracia passa a constituir a ‘essência da brasilidade’, o que significa o<br />
reconhecimento de uma ‘verdadeira’ cultura brasileira, espontânea,<br />
sincrética e plural. A essência dessa cultura define a identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que<br />
se realiza no ‘Ser brasileiro’ (BARBALHO, 1998, p.61).<br />
Seguin<strong>do</strong> ainda a linha de pensamento de Re<strong>na</strong>to Ortiz, um outro mo<strong>do</strong> de orientação<br />
que embasava as ações e discursos <strong>do</strong> CFC refere-se ao conceito de tradição. Como os<br />
intelectuais que compunham o referi<strong>do</strong> Conselho pertenciam a uma corrente conserva<strong>do</strong>ra, a<br />
tônica de seu discurso ancorava-se <strong>na</strong> idéia de ressaltar a importância de preservação das<br />
manifestações culturais forjadas no passa<strong>do</strong> histórico <strong>do</strong> Brasil. O tema da preservação da<br />
memória <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e <strong>do</strong> acervo material lega<strong>do</strong> pela história passou a ser um <strong>do</strong>s princípios<br />
nortea<strong>do</strong>res que vai orientar a política de preservação de bens culturais como museus, sítios<br />
históricos e arquitetônicos, folclores, artesa<strong>na</strong>to etc. Essa política de vertente<br />
pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntemente patrimonialista revelava uma postura defensiva <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> uma vez que a<br />
relevância <strong>do</strong> conjunto de bens e práticas tradicio<strong>na</strong>is, pelo seu teor histórico e prestígio<br />
simbólico, acabava por se constituir em um consenso, já que não portava contradições sociais<br />
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