Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
formular uma política <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de cultura. Para compor a classe dirigente <strong>do</strong> CFC foram<br />
convoca<strong>do</strong>s intelectuais identifica<strong>do</strong>s a uma corrente mais conserva<strong>do</strong>ra da elite intelectual <strong>do</strong><br />
país. Arregimenta<strong>do</strong>s de instituições consagradas como o Instituto Histórico e Geográfico e da<br />
Biblioteca Nacio<strong>na</strong>l, esse grupo será encarrega<strong>do</strong> de elaborar um conceito de cultura<br />
sintoniza<strong>do</strong> aos interesses <strong>do</strong> regime militar, traçan<strong>do</strong>, assim, as diretrizes de uma política<br />
<strong>cultural</strong> para o país, coadu<strong>na</strong>das a esse objetivo. Enfim, “a função <strong>do</strong> CFC pode ser entendida<br />
como a defesa da ‘cultura legítima’ segun<strong>do</strong> a óptica estatal contra seus concorrentes capazes<br />
de motivar práticas contestatórias” (BARBALHO, 1998, p.58)<br />
Assim, dan<strong>do</strong> continuidade a uma tradição política e intelectual sobre a questão da<br />
cultura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, o Esta<strong>do</strong> mais uma vez se reveste <strong>do</strong> papel de agente privilegia<strong>do</strong> capaz de<br />
elaborar uma síntese da <strong>na</strong>ção brasileira ao lançar mão da velha estratégia de apropriar-se <strong>do</strong>s<br />
símbolos da cultura popular e <strong>do</strong> monopólio da memória <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l para forjar uma possível<br />
ontologia <strong>do</strong> ‘Ser <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l’. Neste senti<strong>do</strong>, a cultura passa a ser um terreno propício à<br />
construção de um projeto de hegemonia <strong>do</strong> regime militar.<br />
Até aí nenhuma grande novidade, afi<strong>na</strong>l o governo Getúlio Vargas também houvera<br />
lança<strong>do</strong> mão dessa estratégia para encampar seu projeto de construção <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> década de<br />
30. O que difere no regime militar é que ao apropriar-se da ‘mitologia das três raças’, o<br />
objetivo <strong>do</strong>s militares passa a ser o de ressaltar um outro componente imanente a este conceito<br />
de cultura brasileira, qual seja: o aspecto da diversidade. Como esclarece Barbalho (1988,<br />
p.60), “a saída é apontar a mestiçagem como emblema da diversidade <strong>na</strong> unidade”. A cultura<br />
brasileira será compreendida como produto da soma das diversas matrizes culturais que<br />
sintetizam a noção da identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Assim, a pluralidade de culturas espalhadas pelas<br />
mais diversas regiões <strong>do</strong> país passa a ser um <strong>do</strong>s temas candentes desse perío<strong>do</strong>. Aproprian<strong>do</strong>-<br />
se dessa temática, uma série de ações começam a ser encampadas pelo Esta<strong>do</strong> bem como<br />
pelos meios de comunicação de massa com o intuito de valorizar a singularidade das<br />
diferentes culturas que compõem o complexo mosaico socio<strong>cultural</strong> chama<strong>do</strong> Brasil. Com<br />
esse objetivo, diversas manifestações culturais regio<strong>na</strong>is – principalmente aquelas voltadas<br />
para o artesa<strong>na</strong>to e o folclore popular –foram promovidas no país durante esse perío<strong>do</strong>.<br />
Porém, como chama a atenção Ortiz (2003, p.93-95), reside <strong>na</strong> idéia da diversidade<br />
<strong>cultural</strong> uma ideologia de harmonia, de complementaridade capaz de neutralizar os aspectos<br />
74