Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
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Em meio a essa ambiência favorável, ainda que carregada de forte conteú<strong>do</strong> autoritário e<br />
repressivo, a produção <strong>cultural</strong> brasileira ou, mais precisamente, a produção daqueles<br />
perso<strong>na</strong>gens mais devota<strong>do</strong>s ao regime político getulista, conhece um clima favorável para<br />
sua realização. Nas áreas mais específicas da literatura e das artes plásticas há uma rotação<br />
desde a ênfase <strong>do</strong> caráter estético para um projeto de teor mais ideológico, no qual a questão<br />
da identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l ganha relevância. Floresce aí a literatura realista e uma representação<br />
pictórica figurativa, manifestações artísticas preocupadas em retratar mais positiva e<br />
cientificamente, por assim dizer, a ideologia que gravitava em torno da <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidade. São<br />
representativos dessa fase artistas como Cândi<strong>do</strong> Porti<strong>na</strong>ri e Di Cavalcanti. Na área da<br />
arquitetura, a gestão Capanema apóia oficialmente arquitetos vincula<strong>do</strong>s ao movimento<br />
modernista, quan<strong>do</strong>, por exemplo, nomeia oficialmente Lucio Costa para a direção da Escola<br />
Nacio<strong>na</strong>l de Belas-Artes em 1930, ou ainda quan<strong>do</strong> promove a visita de Le Corbusier ao<br />
Brasil em 1937.<br />
Dentre as instituições culturais vinculadas ao Ministério da Educação e Saúde, há que se<br />
destacar a importante atuação <strong>do</strong> SPHAN <strong>na</strong> consolidação <strong>do</strong> projeto político para a área da<br />
cultura no regime getulista. Isso porque ele foi uma das poucas instituições que, de fato,<br />
elaboraram uma política de ação mais consistente, consubstancializada em “um conjunto<br />
articula<strong>do</strong> e fundamenta<strong>do</strong> de decisões e programas” (FALCÃO, 1984, p.24). Isso lhe<br />
garantiu autonomia administrativa e lhe facultou a rara habilidade institucio<strong>na</strong>l de cruzar<br />
décadas “imune” às intensas transformações políticas e econômicas. Não por a<strong>caso</strong>, o IPHAN<br />
(Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacio<strong>na</strong>l) rompe o século XX ancora<strong>do</strong> nos<br />
objetivos e programas desencadea<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> da sua criação no ano de 1937. O SPHAN<br />
abrigou, em seu aparato administrativo modernistas de peso como Mario de Andrade e Lucio<br />
Costa. I<strong>na</strong>ugurou um perío<strong>do</strong> em que a política de preservação patrimonial de monumentos<br />
artísticos e históricos viria a se tor<strong>na</strong>r uma espécie de modelo clássico, por assim dizer, de<br />
atuação estatal <strong>na</strong> área da cultura. Sob esta filosofia, o Esta<strong>do</strong> Novo integrou o ideário <strong>do</strong><br />
patrimônio ao projeto de construção da <strong>na</strong>ção.<br />
Ainda que o projeto idealiza<strong>do</strong> por Mário de Andrade sobre a atuação deste órgão tenha<br />
si<strong>do</strong> inibi<strong>do</strong> em seu conceito origi<strong>na</strong>l – bem mais ousa<strong>do</strong> e abrangente em seus princípios – ,<br />
não se pode negar que o SPHAN realizou um trabalho de vulto nos anos iniciais, sob a gestão<br />
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