15.04.2013 Views

Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

intelectuais, erigidas por pensa<strong>do</strong>res como Silvio Romero, Euclides da Cunha e Ni<strong>na</strong><br />

Rodrigues, no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século XIX e início <strong>do</strong> século XX e posto em debate por movimentos<br />

culturais como a Sema<strong>na</strong> de Arte Moder<strong>na</strong> de 1922. Diferentemente das formulações que<br />

orientavam as teses <strong>do</strong>s folcloristas <strong>do</strong> fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século XIX, a teorização de Gilberto Freyre<br />

sobre a problemática da identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l não se baseava em teorias raciológicas, que<br />

creditavam a especificidade <strong>do</strong> ser <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l às justificações pautadas em categorias sobre<br />

meio e raça. Ela estará impreg<strong>na</strong>da pela corrente <strong>cultural</strong>ista <strong>do</strong> antropólogo Franz Boas,<br />

plasman<strong>do</strong>-se aí a passagem <strong>do</strong> conceito de raça para o conceito de cultura. Visto por esse<br />

prisma , o elemento mestiço, fruto <strong>do</strong> cruzamento de uma raça inferior transforma-se em<br />

categoria capaz de apreender a própria identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (ORTIZ, 2003).<br />

Como o momento econômico, social e político requeria uma outra imagem <strong>do</strong> homem<br />

brasileiro, não mais identificada à ambigüidade da identidade <strong>do</strong> ‘Ser <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l’, anteriormente<br />

interpretada como uma raça inferior, avessa ao trabalho, essa nova ideologia positiva da<br />

mestiçagem difundiu-se socialmente, ten<strong>do</strong> no aparelho estatal construí<strong>do</strong> por Getúlio Vargas,<br />

seu veículo de maior expressividade. Dessa forma, “o que era mestiço tornou-se <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l”<br />

(ORTIZ, 2003, p.41). Aproprian<strong>do</strong>-se dessa ideologia que atualiza e celebra hibridez das<br />

diferentes matrizes culturais que formam a sociedade brasileira, o governo getulista a utiliza<br />

amplamente com fins de consolidação <strong>do</strong> seu projeto político. Assim, a imagem <strong>do</strong> homem<br />

brasileiro “in<strong>do</strong>lente” e i<strong>na</strong>pto para o trabalho ganha uma outra interpretação, conforman<strong>do</strong>-se<br />

agora aos processos de modernização pelos quais o país passava. Forja-se uma nova<br />

identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, de um homem liga<strong>do</strong> ao trabalho, possibilitan<strong>do</strong> assim que a mão-de-<br />

obra negra e mestiça fosse valorizada e incorporada ao formato <strong>do</strong> capitalismo brasileiro<br />

(BARBALHO, 1998).<br />

Essa ideologia em prol <strong>do</strong> trabalho se expande para além <strong>do</strong> campo econômico ou<br />

político e atinge também a seara da cultura. Indica<strong>do</strong>r desse processo é o mo<strong>do</strong> pelo qual são<br />

apropria<strong>do</strong>s símbolos da cultura popular, ten<strong>do</strong> <strong>na</strong> música popular, e mais precisamente no<br />

samba, um elemento privilegia<strong>do</strong>. Assim, as melodias que incensavam a malandragem são<br />

substituídas por músicas que e<strong>na</strong>ltecem a qualidade <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r brasileiro. A linguagem<br />

musical, pelo seu poder de penetração <strong>na</strong>s massas, passou a ser também uma área de extremo<br />

zelo por parte <strong>do</strong> governo. Sintomático dessa preocupação é o papel que cabe ao compositor<br />

63

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!