Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

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15.04.2013 Views

contemporâneas sejam compreendidos, pari passu, ao acúmulo de poder que os especialistas culturais foram ganhando ao longo do desenvolvimento de suas práticas, buscando, no entanto, considerar as mudanças na balança de poder e as contradições oriundas das interdependências entre os portadores de cultura e outros grupos de especialistas como o econômico, principalmente. Entre os fatores que contribuíram para a ênfase na produção e disseminação das atividades lúdico-artísticas na contemporaneidade, Featherstone vai eleger o aumento do número de intelectuais e especialistas dedicados ao desenvolvimento da produção simbólica e seu crescente entrelaçamento com outros grupos da sociedade (os econômicos, sobretudo). Situando historicamente o boom do referido fenômeno nas décadas e 60 e 70 do século passado, quando o pós-modernismo nas artes atinge seu paroxismo, o surgimento desses “novos intermediários culturais” – uma classe composta por profissionais ligados a atividades típicas da cultura de consumo (moda, design, publicidade, jornalistas) –, irá propiciar não somente a produção e disseminação de artefatos culturais, como também será o leitmotiv do considerável aumento de um “público potencial mais sensível e sintonizado com a variedade de bens e experiências simbólicas e culturais rotulados como pós-modernos” (FEATHERSTONE, 1995, p.59). Mais do que a geração de milhões de empregos surgidos a partir do desenvolvimento de atividades culturais, o que esta nova classe de produtores culturais vai disseminar nas sociedades ocidentais capitalistas é, sobretudo, um ethos baseado numa crescente estetização da vida. Inspirados nos estilos de vida de artistas e intelectuais do final do século XIX, contexto em que valores como a emoção e a informalidade regulavam os padrões de conduta de tons românticos, esses profissionais da cultura contemporânea serão os responsáveis também por contribuir para uma maior aproximação entre arte e a vida, diluindo, assim, a tão polêmica dicotomia alta/baixa cultura. Eles promovem e transmitem o estilo de vida dos intelectuais a um público mais amplo e se aliam aos intelectuais para converter temas como esporte, moda, música popular e cultura popular em campos legítimos de análise intelectual. (...) Eles efetivamente contribuem para derrubar algumas das velhas distinções e hierarquias simbólicas que giram em torno da polarização alta-cultura/cultura popular. Essa veneração generalizada pelos bens intelectuais e pelo estilo de vida artístico e intelectual contribui assim para criar um público para novos bens e experiências simbólicos, para o 47

modo de vida artístico e intelectual, que poderia ser receptivo a certas sensibilidades incorporadas ao pós-modernismo e por ele disseminada (FEATHERSTONE, 1995, p. 71). Sob essa óptica, há que se reconhecer que no atual estágio da “modernidade tardia” parece ter havido um acirramento da tendência, já imanente ao próprio desenvolvimento da modernidade como bem antecipou Walter Benjamin, da estetização da vida cotidiana proporcionada justamente pela aproximação das esferas de gosto que secularmente separaram a alta-cultura e cultura popular. Numa experiência mais radical, porque agora impulsionada pelo gigantesco potencial dos meios de comunicação e das novas tecnologias de informação, a esfera cultural abre seus horizontes a novas arenas, estendendo-se em dimensões jamais presenciadas em outros processos civilizadores. Neste sentido, a experiência social contemporânea parece estar indelevelmente marcada e auto-concebida pelo signo da experiência estética, em que um certo ethos hedonista, típico da cultura de consumo, eleva as atividades lúdico-artísticas, de entretenimento e turismo, a uma dimensão de destaque no atual concerto societal globalizado. Uma nova estrutura de sensibilidade (voltada enfaticamente para a estetização da vida), o crescente número de atividades voltadas a ocupações ligadas a artistas e intelectuais, somados a um maior investimento financeiro no setor – investimentos esses oriundos de subvenções estatais ou de capital do empresariado privado – foram os ingredientes que contribuíram para o surgimento de novas interdependências e estratégias que alteraram as balanças de poder e produziram alianças entre grupos que, antes, talvez percebessem seus interesses como opostos” (FEATHERSTONE, 1995, p.74). Focado nos altos lucros provenientes da produção e do consumo de bens culturais, o setor econômico passou a reconhecer a cultura como setor estratégico de investimento, conjunção essa que favoreceu a dilatação das fronteiras da esfera cultural, conferindo-lhes dimensões super ampliadas a ponto de tornar-se um dos negócios mais lucrativos da atualidade. Ilustrativo desse processo são as cifras que movimentam a economia do lúdico em escala global. A indústria cultural nos Estados Unidos, por exemplo, responde por mais de 1 milhão e duzentos mil empregos diretos, movimentando uma astronômica cifra na ordem de 48

contemporâneas sejam compreendi<strong>do</strong>s, pari passu, ao acúmulo de poder que os especialistas<br />

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entanto, considerar as mudanças <strong>na</strong> balança de poder e as contradições oriundas das<br />

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econômico, principalmente.<br />

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atividades lúdico-artísticas <strong>na</strong> contemporaneidade, Featherstone vai eleger o aumento <strong>do</strong><br />

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seu crescente entrelaçamento com outros grupos da sociedade (os econômicos, sobretu<strong>do</strong>).<br />

Situan<strong>do</strong> historicamente o boom <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> fenômeno <strong>na</strong>s décadas e 60 e 70 <strong>do</strong> século<br />

passa<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> o pós-modernismo <strong>na</strong>s artes atinge seu paroxismo, o surgimento desses<br />

“novos intermediários culturais” – uma classe composta por profissio<strong>na</strong>is liga<strong>do</strong>s a atividades<br />

típicas da cultura de consumo (moda, design, publicidade, jor<strong>na</strong>listas) –, irá propiciar não<br />

somente a produção e dissemi<strong>na</strong>ção de artefatos culturais, como também será o leitmotiv <strong>do</strong><br />

considerável aumento de um “público potencial mais sensível e sintoniza<strong>do</strong> com a variedade<br />

de bens e experiências simbólicas e culturais rotula<strong>do</strong>s como pós-modernos”<br />

(FEATHERSTONE, 1995, p.59).<br />

Mais <strong>do</strong> que a geração de milhões de empregos surgi<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> desenvolvimento de<br />

atividades culturais, o que esta nova classe de produtores culturais vai dissemi<strong>na</strong>r <strong>na</strong>s<br />

sociedades ocidentais capitalistas é, sobretu<strong>do</strong>, um ethos basea<strong>do</strong> numa crescente estetização<br />

da vida. Inspira<strong>do</strong>s nos estilos de vida de artistas e intelectuais <strong>do</strong> fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século XIX,<br />

contexto em que valores como a emoção e a informalidade regulavam os padrões de conduta<br />

de tons românticos, esses profissio<strong>na</strong>is da cultura contemporânea serão os responsáveis<br />

também por contribuir para uma maior aproximação entre arte e a vida, diluin<strong>do</strong>, assim, a tão<br />

polêmica dicotomia alta/baixa cultura.<br />

Eles promovem e transmitem o estilo de vida <strong>do</strong>s intelectuais a um público<br />

mais amplo e se aliam aos intelectuais para converter temas como esporte,<br />

moda, música popular e cultura popular em campos legítimos de análise<br />

intelectual. (...) Eles efetivamente contribuem para derrubar algumas das<br />

velhas distinções e hierarquias simbólicas que giram em torno da<br />

polarização alta-cultura/cultura popular. Essa veneração generalizada pelos<br />

bens intelectuais e pelo estilo de vida artístico e intelectual contribui assim<br />

para criar um público para novos bens e experiências simbólicos, para o<br />

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