Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
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um campo de produção erudita é medi<strong>do</strong> pelo grau em que se mostra capaz de funcio<strong>na</strong>r<br />
como um merca<strong>do</strong> específico, gera<strong>do</strong>r de um tipo de raridade e de valor irredutíveis à raridade<br />
e ao valor propriamente culturais” (BOURDIEU, 2001, p.108-109).<br />
Seguin<strong>do</strong> ainda seu rastro de argumentação, é <strong>na</strong> lógica oposicionista entre os campos<br />
da produção erudita e da grande produção que habita a peculiaridade da esfera <strong>cultural</strong>,<br />
ilustran<strong>do</strong>, dessa forma, a “distinção entre as relações de interação e as relações estruturais<br />
que são constitutivas de um campo, [que] podem jamais se encontrar, ou mesmo ignorar-se<br />
metodicamente, e permanecer profundamente determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s, em sua prática, pela relação de<br />
oposição que os une” (BOURDIEU, 2001, p.247).<br />
Ao erguer seu edifício teórico a respeito <strong>do</strong> processo de autonomização <strong>do</strong> campo<br />
<strong>cultural</strong>, Bourdieu ancorou-se em experiências sócio-históricas de algumas sociedades<br />
européias, <strong>na</strong>s quais houve uma nítida distinção <strong>na</strong> formação <strong>do</strong> campo da produção restrita e<br />
da grande produção. Ainda que determi<strong>na</strong>ntes entre si, a constituição destes diferentes<br />
campos, em algumas sociedades específicas, se processou sob lógicas e princípios<br />
diferencia<strong>do</strong>s, mesmo sen<strong>do</strong> eles partes integrantes de um mesmo sistema. Ao postular que o<br />
sistema de produção e circulação de bens simbólicos em si deriva sua estrutura específica<br />
fundamentalmente dessa oposição que se estabelece entre o campo erudito e o campo da<br />
indústria <strong>cultural</strong>, Pierre Bourdieu acaba não contemplan<strong>do</strong> a irrupção <strong>do</strong> fenômeno<br />
contemporâneo que hoje ocorre no seio da esfera <strong>cultural</strong>, a saber: a diluição das fronteiras<br />
entre esses campos e a conseqüente interpenetração das racio<strong>na</strong>lidades específicas que lhe são<br />
imanentes, atuan<strong>do</strong> como eixo regula<strong>do</strong>r de suas diferentes práticas, agentes e instituições. É<br />
bem verdade que, nesta dinâmica, a lógica <strong>do</strong> campo da grande produção acaba<br />
pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, lançar mão exclusivamente <strong>do</strong>s pressupostos de Bourdieu para a<br />
compreensão de to<strong>do</strong> e qualquer processo de formação de campos culturais é correr o risco de<br />
operar a<strong>na</strong>liticamente com limitações. Como apreender o processo de autonomização da<br />
esfera <strong>cultural</strong> no Brasil, por exemplo, ten<strong>do</strong> como base ape<strong>na</strong>s os postula<strong>do</strong>s <strong>do</strong> pensa<strong>do</strong>r<br />
francês? Como veremos mais detalhadamente <strong>na</strong> terceira seção, a imbricação da indústria<br />
<strong>cultural</strong> com o campo erudito é a raiz instituinte da formação mesma <strong>do</strong> campo <strong>cultural</strong><br />
brasileiro. E mais: o seu processo de autonomização conta com a decisiva atuação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
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