Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ... Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

poscom.ufba.br
from poscom.ufba.br More from this publisher
15.04.2013 Views

Na tentativa de apreender e sintetizar em categorias de análise sociológica a espiral de mudanças que vem se processando nas sociedades ocidentais desde meados do século passado, um número diversificado de intérpretes vem se lançando no exercício de compreensão dos fenômenos associados às transformações institucionais que vêm ocorrendo na cultura contemporânea. Para alguns autores vivemos ainda numa experiência de modernidade inconclusa, em que o seu projeto civilizador não pôde se realizar por completo. Habermas (1992) é um deles. Outros autores sustentam a tese de que estamos presenciando a modernidade na sua versão mais radical “....estamos alcançando um período em que as conseqüências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes” (GIDDENS, 1991, p. 13). Há, ainda, aqueles que acreditam que a modernidade é um projeto que já conheceu o seu ocaso e que agora vivemos numa nova etapa civilizatória que possui seus próprios princípios organizadores – a pós-modernidade. Compartilham dessa tese autores como Baudrillard, Lyotard. Outros, como David Harvey (2000), concebem o pós-modernismo como uma lógica que surge quando o modernismo se completa, tomando-o não como uma dominante de uma ordem social inaugural, mas como conseqüência e reflexo das modificações no interior do próprio capitalismo. Versões distintas à parte, o que não se pode negar é que presenciamos uma transformação de época em que, como náufragos de um barco à deriva, passamos a desejar sofregamente uma tábua de salvação para as nossas inquietações teóricas frente à instabilidade e fragmentação que (des)fazem os contornos das sociedades contemporâneas e que acabam por embaçar possíveis diagnósticos desse tempo de intensas transformações sociais, econômicas, políticas e culturais. Mas, em meio a esse turbilhão de possibilidades teóricas, é preciso aqui re-encontrar uma espécie de bússola que nos conduza a águas mais tranqüilas, passíveis de serem navegadas. Trata-se aqui da necessidade de definir um eixo teórico a respeito da complexidade cultural contemporânea. Neste sentido, a versão eleita como fio-guia enfatizará a dimensão cultural ou estética da condição pós-moderna, procurando entendê-la como uma dinâmica civilizatória que, mais do que qualquer outra, trouxe para o cerne do seu próprio desenvolvimento novos remanejamentos que acabaram por engendrar uma nova configuração e uma nova 31

compreensão das experiências e práticas culturais cotidianas, fato que, por conseguinte, outorgou uma elevação do papel da esfera cultural na cena contemporânea. Sob essa perspectiva, então, o que se pretende aqui é compreender o fenômeno da inflação das atividades artístico-culturais na contemporaneidade, procurando dar ênfase às mediações entre economia e cultura – umbilicalmente implicadas pelo inter-relacionamento cada vez mais íntimo entre especialistas culturais e agentes econômicos –, fato que confere especial configuração ao sistema de produção, difusão e consumo dos bens culturais do capitalismo contemporâneo. Logo, o tema sobre o papel das políticas culturais na atualidade não pode deixar de considerar este novo cenário em que agentes diversos – Estado, empresas, intermediários culturais, organizações não-governamentais e a própria sociedade civil – co- participam de uma mesma rede de ações na esfera cultural, fazendo ressoar redefinições nas práticas e nos modos de produção, difusão e consumo de bens simbólicos. 2.1 AUTONOMIZAÇÃO NO CAMPO DA PRODUÇÃO CULTURAL: FORMAÇÃO E ESPECIFICIDADES Para uma investigação que pretende formular questões a respeito do lugar das atividades voltadas para o consumo cultural, o lazer e o entretenimento na atual configuração societal, é necessário atentarmos para a formação do campo social que lhe justifica e que lhe origina, qual seja, o campo da produção cultural. Este é pensado a partir da interdependência entre a produção erudita de bens simbólicos (a “arte erudita”) e a grande produção (ou cultura de massas), simbolizada pelas indústrias culturais, denotando, dessa forma, uma concepção mais ampliada do que aqui se pretende entender como esfera cultural. Neste sentido, faz-se premente dedicar-se a uma compreensão dos agentes centrais que demarcam a complexidade do processo que marcou o desenvolvimento e conseqüente autonomização do campo da produção cultural para assim nutrir-se de elementos que nos levem ao entendimento da relevância que essa autonomia acabou por ganhar na atualidade a ponto de tornar-se um dos campos sociais mais evidentes e definidores da recente configuração da chamada experiência social “pós-moderna”. Entender, portanto, o lugar privilegiado que ocupa a produção cultural no cenário contemporâneo, requer um recuo histórico – com base no processo específico do seu desenvolvimento – às condições e às 32

compreensão das experiências e práticas culturais cotidia<strong>na</strong>s, fato que, por conseguinte,<br />

outorgou uma elevação <strong>do</strong> papel da esfera <strong>cultural</strong> <strong>na</strong> ce<strong>na</strong> contemporânea.<br />

Sob essa perspectiva, então, o que se pretende aqui é compreender o fenômeno da<br />

inflação das atividades artístico-culturais <strong>na</strong> contemporaneidade, procuran<strong>do</strong> dar ênfase às<br />

mediações entre economia e cultura – umbilicalmente implicadas pelo inter-relacio<strong>na</strong>mento<br />

cada vez mais íntimo entre especialistas culturais e agentes econômicos –, fato que confere<br />

especial configuração ao sistema de produção, difusão e consumo <strong>do</strong>s bens culturais <strong>do</strong><br />

capitalismo contemporâneo. Logo, o tema sobre o papel das políticas culturais <strong>na</strong> atualidade<br />

não pode deixar de considerar este novo cenário em que agentes diversos – Esta<strong>do</strong>, empresas,<br />

intermediários culturais, organizações não-gover<strong>na</strong>mentais e a própria sociedade civil – co-<br />

participam de uma mesma rede de ações <strong>na</strong> esfera <strong>cultural</strong>, fazen<strong>do</strong> ressoar redefinições <strong>na</strong>s<br />

práticas e nos mo<strong>do</strong>s de produção, difusão e consumo de bens simbólicos.<br />

2.1 AUTONOMIZAÇÃO NO CAMPO DA PRODUÇÃO CULTURAL: FORMAÇÃO E<br />

ESPECIFICIDADES<br />

Para uma investigação que pretende formular questões a respeito <strong>do</strong> lugar das atividades<br />

voltadas para o consumo <strong>cultural</strong>, o lazer e o entretenimento <strong>na</strong> atual configuração societal, é<br />

necessário atentarmos para a formação <strong>do</strong> campo social que lhe justifica e que lhe origi<strong>na</strong>,<br />

qual seja, o campo da produção <strong>cultural</strong>. Este é pensa<strong>do</strong> a partir da interdependência entre a<br />

produção erudita de bens simbólicos (a “arte erudita”) e a grande produção (ou cultura de<br />

massas), simbolizada pelas indústrias culturais, denotan<strong>do</strong>, dessa forma, uma concepção mais<br />

ampliada <strong>do</strong> que aqui se pretende entender como esfera <strong>cultural</strong>.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, faz-se premente dedicar-se a uma compreensão <strong>do</strong>s agentes centrais que<br />

demarcam a complexidade <strong>do</strong> processo que marcou o desenvolvimento e conseqüente<br />

autonomização <strong>do</strong> campo da produção <strong>cultural</strong> para assim nutrir-se de elementos que nos<br />

levem ao entendimento da relevância que essa autonomia acabou por ganhar <strong>na</strong> atualidade a<br />

ponto de tor<strong>na</strong>r-se um <strong>do</strong>s campos sociais mais evidentes e defini<strong>do</strong>res da recente<br />

configuração da chamada experiência social “pós-moder<strong>na</strong>”. Entender, portanto, o lugar<br />

privilegia<strong>do</strong> que ocupa a produção <strong>cultural</strong> no cenário contemporâneo, requer um recuo<br />

histórico – com base no processo específico <strong>do</strong> seu desenvolvimento – às condições e às<br />

32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!