Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

mais tradicional, esse processo se dá ajustado à lógica mercantil que orienta a produção
cultural voltada para o consumo ampliado. Ou seja, o perfil da política cultural oficial
delineia-se “enquanto resposta às pressões exercidas pelos mecanismos da sociedade de
consumidores, sobretudo o entretenimento” (FARIAS, 2001, p.384). Não é por acaso que sob
a batuta da Bahiatursa são investidas cifras significativas em estratégias de marketing e
promoção do “Produto Bahia” – um mecanismo que assinala o alinhamento às pressões e à
lógica do espetáculo, próprias da sociedade de consumidores.
A criação do programa Fazcultura comparece também no interior das estratégias de política
cultural, implementadas pelo governo, como um dos sintomas que sinaliza o lugar central que
o mercado cultural vem assumindo no ordenamento socioeconômico contemporâneo. O
fenômeno das leis de incentivo à cultura – instrumento de política cultural consolidado no
panorama cultural brasileiro na última década, processo o qual o Fazcultura é um de seus
frutos –, assinala de forma emblemática para o reordenamento no modo de gestão e
organização do campo cultural na contemporaneidade, chamando-nos a atenção para a
tendência da crescente privatização do setor cultural e a conseqüente relativização do papel do
Estado na sua dinamização, na medida em que a lógica inerente à política de incentivos fiscais
assegura preponderantemente “as prerrogativas das agências privadas empresariais e os
esquemas mercantis como protagonista da nova cena cultural” (FARIAS, 2001, p. 385).
Seguindo a tendência nacional de consolidação das leis de incentivo como principal meio de
financiamento à cultura no país, o governo estadual baiano instituiu o programa Fazcultura
com o propósito de transformar a atividade cultural num setor auto-sustentável, estimulado,
sobretudo, pela crença na capacidade geradora de riqueza que essa atividade vem revelando
nas últimas décadas. Nesse sentido, a lei estadual de incentivo à cultura, no plano das
estratégias da política cultural local, delineou-se como mais um dispositivo capaz de acionar a
tensa relação entre os campos político, econômico e cultural, constituindo-se, portanto, num
indicador por excelência das metamorfoses institucionais que vêm afetando a esfera cultural.
Todavia, com a continuidade do programa, percebemos que se a intenção inicial era promover
a irradiação e consolidação da prática de mecenato por parte das empresas, pavimentando,
assim, o caminho para que o setor cultural se tornasse autônomo, a situação que vem se
configurando é diversa daquela que foi planejada a priori. Como a racionalidade inerente à
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